Menos imerso em leituras do que há tempos atrás, tenho lido os textos de Oliveira Martins, no livro «A cultura como enigma». É um homem de profunda cultura, o autor. E são interessantes os seus artigos, reveladores de muito saber, muitas vivências e muita(s) leitura(s). Tantas leituras que Oliveira Martins refere logo na primeira página: «Penso que o vício dos livros veio no meu código genético». Uma frase de sentido forte e nítido, afectivamente (muito) verdadeira, mas factualmente falsa. Ninguém nasce com quaisquer genes para a leitura. É preciso berço favorável e uma infância com estímulo para o amor aos livros. Ninguém ama o que desconhece. Infelizmente, o ambiente familiar da maioria das crianças portuguesas não reúne as condições necessárias, e, por isso, globalmente, os portugueses não lêem. E, como não lêem, não gostam de ler. Como podia ser de outro modo?
A escola devia quebrar este ciclo, mas não é fácil consegui-lo. E cada vez parece mais difícil.
Por outro lado, a cultura não se dissemina por «osmose», de tal (má) sorte que a erudição e o saber, não raro, isolam os que os detêm num «espaço» a que as grandes massas são «refractárias», quando não mesmo algo hostis.
As democracias, para o serem, e para promoverem o humanismo e a cidadania, deviam tratar o assunto com toda a dedicação e cuidado. E firmeza.
A nossa, como outras, não tem sabido fazê-lo.
A responsabilidade é nossa.
Já o livro, esse vale a pena lê-lo.
José Batista d’Ascenção
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