O ser humano não pode viver só. Mesmo os amantes da solidão não dispensam a sua teia de relações psico-afectivas que, no isolamento, ainda vivem com maior intensidade.
Sem (os) outros não somos. Precisamos de ver e de ser vistos. E suspeito que precisamos também de apreciar e elevar uns e de desconsiderar e rebaixar outros, implícita ou explicitamente. Não é bonito, mas é geral e intemporal. Poderíamos viver sem “ódios de estimação”? Seria desejável, mas não vejo como torná-lo possível. Confirmam-no as religiões, a história, a política, o desporto, as relações sociais, as interacções familiares e o percurso de vida de cada um. Esconder estes factos não (nos) adianta muito. Saber como minimizá-los e aos seus efeitos seria conveniente, embora difícil, muito difícil.
As redes sociais potencia(ra)m a mais drástica exposição de dados pessoais, dos instintos e das tendências pessoais (generosas, bem intencionadas, egoístas, exibicionistas, consumistas, políticas, religiosas ou outras). Surgem depois tentativas (compensadoras?) de retrocesso sem sentido, como as de ocultar as faltas dos alunos às aulas ou mesmo a publicação das suas “notas”, a pretexto de uma reserva da privacidade que pode abrir caminho a práticas pouco honestas. Contradições que não alteram o sentido do fluxo e da pobreza relacional em marcha.
As grandes bases de dados “sabem” muito mais de cada um de nós do que nós mesmos: seja a da autoridade tributária, sejam as (dos proprietários) das plataformas de interacção digital.
Nunca vivemos melhor (globalmente), longe disso, mas somos cada vez menos donos da nossa vida. Mandam em nós os algoritmos informáticos, em proveito (das fortunas) dos poderosos que servem.
E somo nós que, diligentemente, colaboramos expondo e fornecendo os elementos da nossa vida e da nossa intimidade.
Até onde iremos? E com que prejuízos e vantagens?
Voltarei ao tema.
José Batista d’Ascenção
Sem comentários :
Enviar um comentário