Como era previsível, o xadrez político no país alterou-se substancialmente. O futuro não é claro e preocupa. A mim, o que se me afigura mais problemático é o peso eleitoral da extrema-direita. Gostaria que o mundo e a Europa não caminhassem para situações explosivas, que degenerem em (mais) guerra, elevado custo de vida e sofrimento. Portugal, com a sua débil economia e resiliência social, ficaria em sérias dificuldades.
Peguei há pouco num livro pelo qual não me tinha interessado antes. O título é doce: «Chocolate», a autora chama-se Joanne Harris e a edição é de 2006 (Asa). Em tempos de ódio, detive-me em várias passagens de conteúdo tristemente actual: Na página 56 um personagem cheio de bílis refere os «ciganos que expulsámos das margens do Tannes. […] como levou tempo, quantos e quantos meses de queixas e cartas infrutíferas até tratarmos do assunto com as nossas próprias mãos. […], os sermões que eu preguei! Uma porta atrás da outra foi-se fechando para eles. […]. Alguns […] lembravam-se dos ciganos anteriores e das doenças e dos roubos e da prostituição. […] por fim conseguimos desalojá-los a todos […]». Na página 75, continua […] «os ciganos do rio espalham doenças, roubam, matam quando conseguem escapar.» E na página 104, mais do mesmo «É deixar os ciganos entrarem-lhe em casa e Deus sabe o que pode acontecer-lhe. Valores pilhados, dinheiro roubado. Não seria a primeira vez que uma senhora de idade era agredida ou morta por causa dos seus escassos bens.»
Chega de amostra. Chega. Trata-se de um livro, mas alerta para um problema de xenofobia que está a ser plantado no nosso país. E adubado. E regado com demagogia.
A causa dos males do país não está nos ciganos, nem nos pobres nem nos deserdados da sorte.
O caminho é perigoso. Eu recuso condescender, quanto mais ceder.
José Batista d’Ascenção
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