Por estes dias, sempre que, sozinho, vi um pouco de futebol na TV, optei por desligar o som. E, contrariamente a toda a gente, prefiro. No carro costumo sintonizar a RDP antena 1, mas desligo ou mudo de canal logo que surgem comentaristas ou relatadores de futebol: a fala aos borbotões, o atropelo, a elisão ou o prolongamento gutural das sílabas e a guincharia quando há golos, são-me insuportáveis. Curiosamente, a falta de audição agrava o (meu) problema.
Desde há alguns anos, vejo com prazer as transmissões televisivas da Volta à França. Não tanto por me interessar quem ganha, mas pelas paisagens e monumentos e pela observação do comportamento dos espectadores. Aprecio imenso o saber e a ponderação de Marco Chagas, mas vou desgostando do falar ininterrupto de João Pedro Mendonça, que parece recear o vazio de palavras, quando as imagens são (mais do que) suficientes.
Não sei quantos mais anos vão decorrer até passar (ou atenuar-se) a moda do «todos aos berros», em casa, na rua, nas escolas, nas televisões, na política e em (quase) tudo o mais.
Nos tempos que correm, uma das minhas divisas começa a ser «o silêncio é ouro» ou «escutemo-nos serenamente uns aos outros».
Mas sei que cada vez vou ficar mais fora de moda.
José Batista d’Ascenção
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