O meu conceito fundamental de tradição corresponde a algo que os avós podem contar aos netos e que os seus avós lhes contaram (ou poderiam ter contado) a eles, quando crianças. O termo tem, obviamente, outros significados. E mais terá (e/ou deixará de ter) no futuro. Chamam-lhe evolução da língua e da cultura.
O que agora me interessa é a forma por que muitas pessoas, em muitas geografias, procuram reavivar/recriar ou inventar tradições, nem todas boas e outras particularmente infelizes, a meu ver.
Cabe dizer que as tradições são fundamentais, sob pena de não sabermos quem somos, mas há tradições que valia mais serem abandonadas e outras que era preferível não serem estimuladas.
Restringindo a Portugal, que não tem o monopólio da irracionalidade, dou alguns exemplos:
- a prática numa localidade transmontana de todos fumarem em determinado dia do ano, em que as televisões já mostraram pais a meter cigarros na boca de crianças de colo. O procedimento, inacreditável, ainda permanecerá…
- a enorme fogueira de Penamacor, na véspera de Natal, onde, por estes dias, estão a arder 100 toneladas de madeira. O fogo enorme arde a poucos metros da parede de casas, o que exige que os bombeiros estejam presentes, com mangueiras a controlar a pira em chamas. Com a candidatura a património imaterial nacional, já formalizada!, que eu bem gostava que não fosse aprovada. Não compreendo. Há gente que passa frio no Inverno. Há árvores inutilmente cortadas. Vivemos «sob a sombra da catástrofe iminente das alterações climáticas» (Frei Bento Domingues, in jornal «Público» de 24/12/2024);
- menos mal, em Braga, desde há quarenta anos, na véspera do Natal, uma multidão acorre à Rua do Souto para comer uma banana e beber vinho moscatel. Dizem que é para grupos de amigos conviverem. Têm todo o direito. Espero, porém, que ninguém passe a dar moscatel a crianças pequenas, sabe-se lá.
E somos atreitos à prática de outros feitos, que não os da resolução (que devia ser fácil) de alguns problemas básicos. Enfim, não se pode ter tudo.
Boas Festas.
José Batista d'Ascenção