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António Manuel Martins Antão (1953-2024) |
Por falta de palavras. Por um estado de angústia que não sei definir. Por um vazio que sou incapaz de ultrapassar. Por falta de chão em que descanse. Por fragilidade de ser quem sou, afinal.
Sentávamo-nos e falávamos. Ou ficávamos em silêncio, que não (nos) pesava. Sobre os filhos, tu admiravas os meus, conhecendo-os apenas pelo que eu dizia deles; eu gosto dos teus, não apenas por os conhecer, mas também pelo amor com que os transportavas no peito, fosse qual fosse a opinião que manifestavas sobre qualquer deles. Dos netos, derretidos, víamos as fotos. Ouvia com atenção e deleite as tuas apreciações sobre a boa escrita (a má dispensava-la, por nem valer a pena…) e as correcções que fazias a muitos que tinham a obrigação de a usar melhor. Uns respondiam-te e agradeciam, outros não tinham essa humildade, alcandorados em posições de relevo de tevês e jornais. De futebóis, limitava-me a ouvir-te e deixava escapar dúvidas e perguntas que te espantavam, mas voltavas imediatamente à calma, tentando esclarecer pacientemente a minha crónica falta de acompanhamento e de actualização. Em política, que surgia frequentemente, não éramos coincidentes; se me descuidava e desatava a falar, descobria, sempre com surpresa, que seguias atentamente os meus ditos, sem os contrariar; se tomavas a palavra passava eu a reparar com gosto na fineza e fundamento da argumentação. De finanças e impostos, eras a enciclopédia de recurso, e o pronto-socorro operacional, até mesmo à mesa do café. Era assim entre nós. Era assim, igualmente, quando estavam os restantes elementos da tretúlia, especialmente a nossa referência mais vetusta, agora também em estado de convalescença anímica.
Um dia vi as tuas lágrimas caírem. Muito a custo, consegui suster as minhas. Agora, tenho os olhos secos.
Todas as pessoas são insubstituíveis no peito daqueles em que permanecem gratamente. Até sempre, meu amigo.
José Batista d’Ascenção
Texxto bonito, os meus sentimentos. Recordo me bem do professor António Antão, um dos melhores professores que tive.
ResponderEliminarÉ exactamente tudo o que está escrito no seu texto! Acompanhamos de perto! Sempre...Somos os amigos da Aldeia da Ponte e aqui em Braga e recebiamos relatórios do nosso amigo Toninho Pita sempre que ia às consultas! A Esperança era muita...agora ficará sempre no nosso coração!
ResponderEliminarUm bom amigo, um risonho colega de muitos e muitos anos. Ficam os sorrisos na memória!
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