Vão tumultuosos os tempos na política caseira porque um ministro mentiu inabilmente, o que, sendo mau, pode acalentar algum vestígio de esperança no exame de consciência e futura correcção do infractor, mesmo que esta hipótese se (me) apresente como excessivamente ingénua…
E no entanto, assim de repente, lembro-me:
- de uma história pública algo inocente, mas mentirosa, sobre «Vichyssoise» (sopa que não conheço por nome tão fino), protagonizada (faz bastante tempo...) pelo político cimeiro da pátria;
- de um imposto de IMI em importância aldrabada (por comparação com o que eu pago por uma “casita”) pelo político cimeiro do país que antecedeu o actual;
- de um ex-chefe de governo, antes empresário esdrúxulo de não se sabe bem que produtos, que se «esqueceu» de pagar milhares de euros em descontos legalmente devidos, e que só o fez depois de o caso ter chegado à comunicação social;
- de uma ex-ministra, também das finanças, que mentiu desinibidamente sobre esses instrumentos virtuosos que dão pelo nome de «swaps”;
- de promessas sem conta (intencionalmente) mentirosas em campanhas eleitorais, que são permanentes, ininterruptas e variadas…
- Etc., etc..
Ou seja: se passássemos a investigar rigorosamente as mentiras dos políticos e fosse obrigatório extrair consequências éticas, provavelmente não tínhamos presidente da república, nem governo, nem oposição, nem parlamento, nem autarquias…
Dito de outro modo: a política é, infelizmente, a arte de saber mentir, tanto como (ou muito mais do que?) a vontade e o escrúpulo de não o fazer. Com o «pormenor» de, em Portugal, mas não só…, isso ser praticamente inconsequente, senão mesmo motivo de apreço: veja-se o caso daquele autarca preso por corrupção que é objecto de petições para, saído da cadeia, voltar a candidatar-se ao mesmo cargo!
Irremediável? – Não, apenas humano.
Que fazer, então? – Estar atento, exercer a cidadania e exigir… começando cada um por si próprio.
O que vai levar uma eternidade.
José Batista d’Ascenção
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