A Europa tem vivido estes dias sob uma vaga de frio que, mesmo sendo Inverno, não deixa de ser acentuada. Portugal, mais a sul e próximo do oceano apresenta temperaturas não tão extremas, mas ainda assim um pouco baixas para o que estamos (ou passámos a estar) habituados.
Acontecimentos deste tipo levam alguns, por razões diversas (em que se incluem lutas desenfreadas de competição económica), a questionar e até a ironizar sobre o chamado «aquecimento global». O caso mais preocupante será o do presidente dos EUA., pelo cargo que ocupa, pela influência que tem e pelo poder que representa. Opostamente, outros vêem em qualquer extremo climático pontual uma consequência directa da ação humana. Convém que estudemos um pouco.
E sobre esta matéria há informação disponível bem compilada e bem analisada, em termos científicos e em termos linguísticos, pelo que podemos compreender o fundamental de certos fenómenos associados ao clima e às suas variações. O livro intitulado «Todo o mundo é composto de mudança, considerações sobre o clima e a sua história. I Sistema Climático Terrestre. CIMA. Faro. Portugal. 2016», de João Alveirinho Dias, a que acedi usando o mural do facebook do autor e que descarreguei, em versão PDF, cumpre bem essas funções. Este livro, com 77 páginas, foi o meu entretém dos últimos dias, nos intervalos que a «correcção» de testes me deixou livres e muito dele aproveitei. Por essa razão, julgo-o particularmente útil para professores de biologia e geologia, de geografia ou mesmo de história, mas também para outras pessoas com formação académica superior ou não.
Logo no prefácio, surge a ideia de que «o clima está sempre a modificar-se», pelo que «para entendermos o clima actual e podermos perspectivar o futuro é preciso conhecermos como foi o clima no passado». Ora, hoje, o clima «é um tema que desperta paixões e polémicas (…), principalmente no que respeita à influência do Homem na modificação climática em curso». «O clima é a média de diferentes parâmetros ao longo de um período alargado (algumas décadas).» E quando se trata de médias é preciso certo cuidado, para não cairmos em erros fáceis: basta lembrar que «anos em que o Inverno foi muito frio mas o Verão foi muito quente podem ter a mesma temperatura média anual de outros anos em que o Inverno foi ameno e o Verão foi moderado». Estando o clima sempre a modificar-se, hoje como no passado, temos que contrariar a tendência para «ver modificações climáticas em ocorrências singulares. […] [que] não traduzem qualquer tipo de modificação climática». Além de que, «uma das características constantes do clima é a sua grande variabilidade, atingindo por vezes valores extremos que só se voltam a repetir passados muitos anos.» Por isso, «a introdução do termo “normal”, no léxico meteorológico e climatológico revelou não ser o mais adequado». O «clima é uma entidade complexa» que não se define de forma simples e objectiva, porque não é constante (contrariamente à «noção que perdurou até por volta dos anos 60 do séc. XX»), «não se sabendo bem qual é o melhor período [temporal] para [o] definir»…
A finalidade do livro é «sabermos como é que o clima funciona e quais são os múltiplos factores que o influenciam». A modificação climática actual sofre, naturalmente, a influência das actividades humanas: «cidades com extensas superfícies impermeabilizadas, com múltiplos aparelhos de regulação térmica, que as transformam em ilhas de calor, criação de grandes corpos hídricos, como a barragem do Alqueva, que aumentam a humidade nas regiões vizinhas», por exemplo. E o livro progride com informações sobre a complexidade do sistema climático terrestre e sobre os diversificados factores que o afectam: astronómicos (como os movimentos da Terra, a obliquidade do seu eixo, a excentricidade da órbita e outros), geológicos (tectónica de placas, vulcanismo) e biológicos (cobertura vegetal do solo, fotossíntese).»
Os factores que governam o clima «actuam em escalas temporais diversificadas, que vão das décadas aos milhões de anos e interagem frequentemente de forma não linear, [n]uma intrincada rede de processos físicos que só agora começamos a perceber»… Sabemos que o clima é uma manifestação atmosférica, mas esquecemo-nos de que «a atmosfera, tal como a conhecemos […] nem sempre existiu.» Em termos de análise, o clima é uma resultante estatística de estados do tempo (estados meteorológicos em certos momentos), e não deve confundir-se com eles.
Este livro está redigido de forma clara (até com recurso à poesia!) mas densa e com informação técnica tão precisa, que, tentar resumi-lo, daria um «resumo» (cópia) com a mesma extensão do original.
Em consequência, por agora, acrescenta-se apenas que «quanto ao que se passa actualmente com o clima sabe-se que, em média, as temperaturas estão a subir», mas não podemos (ainda) saber se se trata de variação climática ou se é uma modificação (mudança) do clima, sendo que que há imensa confusão de termos usando-se «variação» climática e «modificação» climática como se fossem sinónimos, e não são…
José Batista d’Ascenção.
Adenda 1: O uso de aspas corresponde a citação literal do texto da obra em apreço.
Adenda 2: Se, porventura, o autor do livro passar os olhos por este escrito, e o mesmo não lhe agradar por algum ou por vários motivos, o que seria normal, faça o favor de manifestar a discordância sincera e severa que julgue merecer e que antecipadamente se agradece.
Caro José Batista, agradeço muito a sua apreciação. Abraço, JAD
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