terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O estilo e o ritmo de vida actuais e a produção de resíduos. Abordagem ligeira do problema dos plásticos

Imagem obtida aqui
Nas últimas três-quatro décadas, a produção de resíduos aumentou assustadoramente: desperdícios da indústria, invólucros e revestimentos de embalagens ou presentes adquiridos no comércio, lixos resultantes do ramo agrícola, do sector desportivo, do movimento turístico e dos espaços públicos, sobretudo urbanos, ou da actividade doméstica, parecem ocupar todos os espaços e «submergem-nos», seja pela sua volumosa e incomodativa presença, seja, principalmente, pelos prejuízos e malefícios que causam no ambiente e na nossa saúde, alguns deles, porventura, desconhecidos ainda.
Barragem Vacha, perto da cidade de Krichim em 25 de abril de 2009
O caso dos plásticos, no que respeita à sua produção e acumulação na natureza, dado que são muito lentamente degradados (tempos que podem se de quatro ou cinco centenas de anos), assume proporções dantescas. Nos oceanos, especialmente no Pacífico, mercê das correntes marítimas, formam-se ilhas flutuantes de plásticos acumulados com dimensões várias vezes superiores à superfície de Portugal (mais de sete vezes, fazendo o cálculo a partir de dados da Wikipédia). Animais marinhos e terrestres engolem objectos de plástico e morrem em consequência: há dias, o Professor Pedro Gomes, da Universidade do Minho, referia, numa conferência, que havia encontrado o esqueleto de uma raposa com um saco de plástico enrolado na zona da faringe (o animal teria ingerido ossos contidos no saco de plástico e morreu asfixiado). Há zonas costeiras que estão repletas de garrafas, sacos, caixas, tampas, entre muitos outros detritos de plástico. Nalguns casos, os frascos plásticos deitados fora continham produtos tóxicos que aumentam a contaminação do ambiente, exponenciando o perigo. E os rios são cada vez mais correntes de transporte de plásticos diversos, sendo que muitos deles ficam nas margens, enterrados nos sedimentos, podendo permanecer ali por muito tempo ou retomar a via descendente, a caminho do mar. Em certos países, como acontece na Índia, resíduos de plástico cobrem a superfície aquática dos rios de uma forma chocante e perturbadora. Nos campos em que há (ainda) actividade humana, o problema não é menor. E as bermas das estradas são muitas vezes faixas de acumulação de lixo, principalmente de plástico.
Lixo acumulado na costa de Manila Bay, Filipinas
Mas o problema maior dos plásticos talvez não resida principalmente no que está à vista. Na realidade, os plásticos vão-se fragmentando e as águas dos oceanos (de todos eles!) encontram-se repletas de micropartículas de polímeros que entram nas cadeias alimentares, não sabemos se e com que consequências, que neste momento não estamos em condições de prever quanto mais de prevenir. O que já sabemos é que mais tóxicos do que as unidades constitutivas dos próprios polímeros podem ser os aditivos químicos que se intercalam entre elas, desde corantes de tintas a outros componentes. E quanto mais pequenas são as partículas de plástico maior é a sua área relativamente ao volume, pelo que mais facilmente aquelas substâncias se libertam. Com que custos na fisiologia, na saúde e na sobrevivência dos organismos vivos, ainda estamos para saber.
Ora, há que reduzir a produção e utilização de plásticos por proibição legal, se o apelo à mudança de hábitos não fizer efeito, como não tem feito até aqui. Temos que reaprender a viver com menos plástico e a proibição, como aconteceu com os sacos de supermercado, tem que ser equacionada, pelo menos até se conseguir produzir polímeros para as mesmas funções, mas facilmente biodegradáveis, ou optimizar com grande eficácia a sua reciclagem.
De resto, exemplos como a proibição de fumar em recintos fechados ou de conduzir sem cinto de segurança mostra(ra)m a eficácia da via proibitiva legal.
Se queremos manter a «casa» (planeta) em condições humanamente habitáveis.

José Batista d’Ascenção

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