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Nunca, nas sociedades desenvolvidas, foi mais fácil e imediata a comunicação entre as pessoas. Os dispositivos tecnológicos e as aplicações digitais permitem a criação e o alargamento de redes sociais abrangendo cada vez mais pessoas, desde crianças muito pequenas a uma (cada vez mais) grossa fatia das mais idosas.
Há quem se torne dependente dos instrumentos digitais e se isole mesmo quando em presença de familiares, amigos ou conhecidos. Há crianças que dormem com os «telefones inteligentes», de que não se separam nas aulas nem nos espaços públicos nem nos transportes nem em casa. E, entre os adultos, são muitos os casos de indivíduos que passam horas e horas mais ou menos inutilmente em frente de monitores. É a realidade dos dias que correm, com tendência aparente para se acentuar. Naturalmente, há aspectos muito positivos decorrentes de uma tal facilidade comunicativa e de acesso a fontes de informação, mas ainda não sabemos gerir as desvantagens que podem estar-lhe associadas, nem sequer ter uma noção exacta dos perigos inerentes.
Ainda muito pequenas, as crianças ficam sujeitas (e praticam) a crueldade do «bullying» digital, ampliando o que sempre aconteceu fisicamente nas escolas. O acesso às redes digitais para estudo e obtenção de informação cria a ideia falsa de que não é preciso esforço pessoal para aprender, uma vez que todo o conhecimento está disponível e até é fácil copiá-lo sem referência aos autores. Em geral, as consultas tendem a ser rápidas e ligeiras, porque parece que não é preciso sobrecarregar os neurónios com a pesquisa aturada, a reflexão e a memória, já que as máquinas disponibilizam, calculam, resolvem e guardam os conteúdos de que a qualquer momento se necessita. Em casa, na escola, ou com familiares ou amigos, crianças e jovens estão «online», mas sós ou sem interacção pessoal directa, a conversar, a rir, a conviver, a interagir «olhos nos olhos». Alguma coisa devem perder…
Os adultos, enquanto cidadãos comuns, andam algo perdidos entre a gestão dos recursos e o cuidado com os filhos, se são pais, e os afazeres profissionais, se têm emprego, ou a falta de ocupação profissional, se estão desempregados, e buscam nas redes sociais o conforto que, muitas vezes, não sentem nas suas vidas, procurando alguma descontracção e prazer, sujeitos ao risco, nem sempre sabiamente evitado, de se isolarem dos seus familiares próximos (sendo que o objectivo pode ser precisamente esse…) e daquele pequeno grupo de amigos que são os que verdadeiramente possuem, com mais ou menos defeitos que lhes conhecem.
Uns e outros ficam expostos à publicidade específica dirigida, às notícias falsas e às correntes de opinião manipuladoras de comportamentos colectivos (parece que foi assim que Trump foi eleito e que os ingleses se pronunciaram pelo abandono da União Europeia), fornecendo todos os dados pessoais necessários aos algoritmos e operações dos programas informáticos que os condicionam sem que disso se apercebam. De certo modo, as pessoas tornam-se (mais que) voluntariamente manipuladas e sentem grande satisfação nisso.
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Entre os de mais idade, há aqueles, e são muitos, embora com tendência necessariamente decrescente, por razões óbvias, que são infoexcluídos e que, por essa razão, salvo raras excepções, estão pior ainda: sofrem a solidão de não ter fisicamente ninguém próximo com afinidades pessoais e estão isolados do mundo por uma horrível barreira de incapacidade pessoal. Tendo alguma saúde, vivem como que emparedados à margem da sociedade, e é difícil avaliar as dores do seu isolamento. Dos que acedem às redes sociais, há-os que trazem a sua sabedoria, a sua serenidade, a sua sensibilidade e a sua cultura para partilhar com quem interage com eles. Não sendo muitos, são, para mim, do melhor que há nas redes sociais, porque não precisam de exibir-se, nem de impressionar, nem procuram o elogio fácil ou condescendente e são capazes de (nos) ensinar sem sobranceria, apenas por gostarem de comunicar com bondade serena o muito que aprenderam e que a vida lhes ensinou. São um bem inestimável, com um único problema: nas nossas sociedades fúteis, que não valorizam devidamente os avós e o seu papel, muitos jovens fogem dos sítios e das redes onde predominam pessoas com mais idade. Este fenómeno é, em certa medida, compreensível, mas só em certa medida, porquanto muitos destes jovens aprofundam, sem o saber, o mar das suas dúvidas e o fosso da sua solidão.
Todos somos sós, mas não é saudável que o sejamos mais que o mínimo necessário.
José Batista d’Ascenção
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