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Talvez pela necessidade de justificar o que nos pesa na consciência, muitas vezes recorremos a banalidades que tortuosamente transformarmos em argumentos aparentemente imbatíveis.
Por exemplo, certos fumadores inveterados agarram-se a um qualquer exemplo de alguém não fumador que padeça de cancro pulmonar, para negar a relação forte entre o fumo do cigarro (vício de fumar) e essa doença (que é muitas vezes consequência do hábito de fumar). Sei de alguém muito dependente de tabaco, a quem (já) foi extraído um pulmão, que defende acerrimamente aquela ideia.
Assim como há indivíduos que não cumprem certas regras de segurança na condução automóvel porque, dizem, há casos de pessoas muito cuidadosas que sofreram acidentes rodoviários e morreram por causa disso.
E do óbvio deturpado, facilmente se passa a defender, com grande assertividade, o que é negado pelas mais elementares evidências científicas. É o caso da posição, terrivelmente perigosa, que despreza as vacinas, sob a acusação de que prejudicam a saúde. Esta moda aparente é promovida por pessoas sadias, pelo menos fisicamente, que têm o privilégio de viver numa sociedade saudável em matéria de doenças infecto-contagiosas, e que estão protegidas precisamente pela vacinação, delas e dos outros, e pelo eventual recurso a antibióticos, em caso de necessidade. Estes são casos que nem sequer se fundamentam no óbvio…
Com o aumento da escolaridade, que em países como o nosso passou a ser obrigatória até quase à maioridade, era difícil prever que as sociedades ditas desenvolvidas pudessem incluir conjuntos de cidadãos de dimensão tão significativa a pensar e a agir assim.
E bem podem homens da ciência como Carlos Fiolhais e David Marçal explicar e re-explicar, rebater e esclarecer certas ideias de pseudo-ciência ou anti-ciência, que muitas pessoas, até com formação superior, pensam e afirmam que o conhecimento científico vale o mesmo (ou menos) que outro qualquer conhecimento.
Mas temos que nos interrogar: qual foi o tipo de saber que trouxe as sociedades humanas até ao pico de desenvolvimento que atingimos? E não vale a pena argumentar que a ciência não tornou a humanidade mais feliz, porque, em primeiro lugar, o estado de felicidade varia em função das expectativas das pessoas, e o grau dessas expectativas depende dos contextos históricos e culturais de cada sociedade; e, em segundo lugar, porque muitos seres humanos viveriam com muito maior qualidade de vida, se não quisermos dizer, mais felizes, se soubessem um pouquinho mais de ciência elementar.
José Batista d’Ascenção
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