De retorno, por uns dias, à terra e à casa onde nasci, pude voltar aos sabores e cheiros da infância. Não às cores. Não ao verde da paisagem, que o negro ainda (a)tinge com dureza. A juventude é pouca e a que existe é-me desconhecida, embora simpaticamente receptiva às minhas humildes e tímidas indagações. Raparigas e rapazes impressionam(-me) pelo tamanho físico. Abençoada alimentação e vivências, que os fizeram crescer bem acima da estatura dos meninos e meninas da idade deles no meu tempo, já lá vão umas décadas.
Portanto, os homens morriam mais cedo. E para muitas mulheres, pese embora os choros e lamentações fúnebres e o luto perdurável (a condição de viúva envolvia o negro definitivo da roupagem), a morte do «seu homem», apesar da dificuldade de conseguir sustento, significava o alívio de uma vida de martírio, mais ou menos prolongado.
A maioria destas velhinhas anda agora pelos noventa anos e algumas já os ultrapassaram. Doces e ternurentas, algumas, e não tanto outras. Uma delas, com o olhar longínquo, queixava-se da solidão, acusando: «estas serras esmagam o peito da gente». Quase todas prodigalizam abraços e palavras profundamente reconfortantes (esquecendo-se facilmente dos procedimentos preventivos da pandemia…). Algumas fazem-no como se se estivessem a despedir. Mas nem elas nem eu o referimos. Não podem imaginar como lhes aprecio e agradeço a bondade do gesto!
Em sua homenagem escrevi estas palavras.
José Batista d’Ascenção
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