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Ontem a cidade de Braga esteve sitiada pelo fogo durante todo o dia e, em particular, à noite. Não (me) espanta. Era uma questão de tempo. Se se partir da cidade, em qualquer direcção, por qualquer estrada, pode-se reparar que há pinheiros, eucaliptos, silvas e mato praticamente em cima de casas de habitação. Este é o panorama comum a todo o país, com excepção, talvez, do Alentejo e de algumas faixas do litoral. Nem as cidades escapam, mesmo as de média-grande dimensão, como se verificou há uma dúzia de anos em Coimbra, e ontem em Braga. Os sinais de perigo eram bem visíveis e ignorámo-los: as nossas florestas são catástrofes anunciadas, quais barris de pólvora prontos a deflagrar à mais leve ignição, intencional ou por descuido. Foi assim na noite de festa de S. João em Braga: logo após o fogo-de-artifício, o monte do Picoto comple(men)tava tristemente o espectáculo, com grandes labaredas. Não (nos) serviu de nada.
Suponho que a lei estabelece que na periferia das habitações deve haver uma faixa de 100 metros que não deve estar ocupada por floresta e mato de combustão fácil. Olhe-se à volta e veja-se onde é que isto é cumprido no nosso país. É aqui que devia entrar a função da «protecção civil».
Esclareça-se: a protecção civil começa em cada cidadão (repita-se: em cada um de nós). Qual é a nossa consciência desse facto? E o que devemos exigir de nós, e das nossas instuições, em matéria de prevenção de incêndios?
Cumpre-nos limpar as imediações das nossas habitações, se os terrenos são nossos, e exigir que sejam limpos, pelos donos ou pelos serviços da «protecção civil», se não nos pertencem. Fazemos a nossa parte? E se solicitarmos o cumprimento da parte que cabe a terceiros: cidadãos, autarquias, bombeiros…, alguém se digna, sequer, ouvir-nos?
Ontem, um hospital e um hotel, em Braga, correram riscos. Mas como é que foi possível a direcção dessas ou de outras entidades, as autarquias das freguesias e do concelho e os bombeiros não detectarem o perigo, que era previsível, na floresta próxima, e terem antecipadamente feito ou exigido que se fizesse o que era indispensável? O mesmo se passaria se se tratasse de um lar de idosos, de uma fábrica ou, como sabemos, de casas de habitação… Isto não se entende: quem pensamos nós que há-de gerir a floresta, especialmente quando confina com edificados com muitas pessoas? Ou margina estradas com muito tráfego? (atenção, não confundir a vegetação desordenada e por limpar com as árvores que desejavelmente devem existir nas orlas das vias de circulação). Deus? O destino? Uma acção milagrosa qualquer?... Uma atitude destas resulta inevitavelmente nas desgraças que vamos «preparando»…
Em Abril passado, indignei-me porque a Câmara de Braga procedia a uma poda infeliz dos lódãos na «variante» de Real. Ele eram máquinas, uma série de homens a trabalhar e a «polícia municipal» a ordenar o trânsito, muito dificultado. Interpelei as autoridades no local e enviei «mails» para a Câmara a sugerir que procurassem melhor altura para podar bem as árvores e que fossem limpar os matos que constituíam perigo em tantos locais nas proximidades da cidade (que resultaram no que agora se viu). Enquanto ninguém descobre um antídoto eficaz para o fogo, não temos alternativa a limpar os matos. Isso deve ser muito preferível, por evitar mortes e prejuízos materiais, e ficar mais barato, do que passarmos por aflições como as de ontem, em Braga e no resto do país.
Há, claro, os incendiários e os dementes piromaníacos a que é preciso estar atento e em quem é preciso ter mão, por via legal, judicial e comportamental. O espectáculo das chamas nas televisões e nas redes sociais, multiplicado à exaustão, pode ser um estímulo para que essas pessoas provoquem mais incêndios. Não sei mesmo se os avisos da «protecção civil» para os dias de maior perigo não serão uma indicação prévia ou mesmo um “convite” a que os dementes e criminosos actuem…
Entretanto, vamos destruindo o nosso país, o país dos nossos filhos!
Pela minha parte, e à falta de melhor, estou disponível para oferecer parte do meu tempo de férias para participar em brigadas de limpeza das matas que as autarquias e os bombeiros ou outras entidades queiram fazer o favor de organizar. Não sei operar uma roçadora de mato, mas disponibilizo-me para aprender, e não serei completamente inútil com uma enxada nas mãos, ajudando a limpar uma faixa conveniente nos lados das estradas.
Não apreciando nem gostando de protagonizar acções quixotescas, havia de sentir-me bem se pudesse ajudar um pouco mais…
José Batista d’Ascenção
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