Oiço a expressão com alguma frequência. Julgo perceber o sentir de quem a afirma, mas o seu significado, adequação e pertinência deixam-me dúvidas.
Há os que compreendem, tanto quanto é possível, o mundo físico e biológico e as sociedades passadas e presentes, na sua imensa diversidade. E que se questionam e pesquisam com senso e lucidez primorosos, da matemática à filosofia. E os que nos dão a arte e a poesia. Felizes deles e de nós. Infelizmente, o seu número é restrito.
E há a imensa mole dos que se esforçam por se sentir jovens imergindo no “ar do tempo”, comportando-se como ditam as modas e fazendo com gosto o que a publicidade determina, discreta ou agressivamente. Não poucos imitam os jovens (na indumentária, na linguagem, nas atitudes…), que, por sua vez, se imitam uns aos outros, satisfazendo os objectivos de negócios poderosos, que dirigem a psicologia de crianças, jovens e adultos no sentido do hiperconsumismo.
De resto, nunca se viu jovem algum reclamar para si próprio um espírito jovem. Devemos reconhecer que só quem sente o peso de décadas invoca a energia da juventude. Desses, muitos procuram convencer-se, com ou sem razão, da sua frescura física e psicológica. De algum modo fazem uma confissão involuntária de preocupação com o fluir do tempo que se escapa. Não devem ser apontados a dedo, porquanto é geral o desejo secreto de conseguir o impossível e indesejável “elixir da juventude”.
Em contraste, aceitemos que há saberes que só são possíveis com a idade e também com experiências nem sempre gratificantes; e que as mazelas do corpo e do espírito se acumulam com o tempo, mas podem ser muito úteis a quem as respeite e aprenda com elas.
Esse é o bem que fica e que devemos agradecer aos que já foram jovens.
José Batista d’Ascenção
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