Christopher Froome, imagem colhida aqui. |
Sem ser amante do ciclismo, tenho despendido algum tempo a olhar as imagens da Volta à França em bicicleta. Não tinha nem tenho qualquer preferência por ciclistas ou equipas, que conheço mal. Mas impressiona-me o vencedor da prova (virtualmente ainda, à hora a que escrevo), pela inteligência, atenção constante, planeamento e gestão da sua participação. Christopher (Chris) Froome não venceu nenhuma etapa, teve até uma saída de estrada numa das etapas, que o obrigou a maior esforço logo de seguida para recuperar uma posição conveniente, noutra etapa foi prontamente ajudado por um colega que lhe forneceu a roda traseira em substituição da sua, procedimento que é próprio, mas que exige frieza e gestão, e não se perturbou visivelmente nos dois dias em que foi interrompida a sua condição de “camisola amarela”. Vejo aqui um conjunto de lições.
Porém, antes da extracção dos ensinamentos, preciso referir que, a meu ver, as performances em provas desportivas individuais, incluindo as modalidades olímpicas, estarão, em geral, muito próximas dos limites que a fisiologia humana permite, logo, completamente fora do alcance de indivíduos normais. E suspeito até que haja provas, (e não só no estrangeiro: penso, por exemplo, se não há risco elevado para os ciclistas da Volta a Portugal, quando correm etapas de 200 km ou mais, com temperaturas de 35 ºC ou superiores), em que se está a exigir prestações que talvez sejam… desumanas. No caso da Volta à França, pedalar milhares de quilómetros, durante três semanas, e ganhar por uma diferença inferior a 60 segundos, não constitui para a minha razão qualquer diferença apreciável de qualidade entre o primeiro e o segundo lugar do pódio, e ambos os competidores mereciam igual prémio. Naturalmente, compreende-se que, se não houvesse vencedor, a competição perdia o interesse e frustrava a humana exigência de encontrarmos sempre o indiscutível campeão. É da nossa natureza.
Porém, se a diferença de qualidade dos ciclistas de maior potencial me parece tão pequena, por que é que um campeão como Crhis Froome repete essa façanha pela quarta vez? E é aqui que surgem as lições: não basta ter fortes músculos, ser um bom “trepador” ou melhor “velocista”, treinar e alimentar-se bem, ter a convicção e a consciência de que se é capaz, ter uma boa equipa, etc., – será preciso, para além de tudo isso, ser um equilibrado superior que, a todo o momento, estuda os adversários, considera as suas condições, atende a diversas variáveis, minimiza os pontos fracos e conjuga e potencia os aspectos fortes. E como somatório, talvez surja a vitória, se não houver concorrente que faça melhor toda essa conjugação ou tenha maior sorte, factor que também conta.
Daquelas lições faço uma extrapolação: em Portugal, embora tenhamos (e sempre tivemos) bons exemplos do que vale o empenhamento e a racionalidade, a vontade de aprender, o trabalho rigoroso, atempado e organizado, a dedicação e o gosto pelo que se faz, bem como a humildade de corrigir o que sai menos bem, no entanto, o que agora se chama a “eficácia e a eficiência” da nossa acção laboral, académica e social fica muito prejudicada. Parece-me também que o avanço que os países da Europa do norte nos levam em tantos domínios radicam em parte aí. Por outro lado, há em nós uma tendência grande para contarmos com a protecção sobrenatural, esquecendo-nos da nossa parte, e igual tendência para contarmos com a sorte quando não encaixámos as peças do “puzzle” que a permitissem, ou nem sequer reparamos que tivemos sorte e que não a soubemos aproveitar. E nisto a nossa “elite” política é como é porque o nosso povo é como é, ou seja: somos como somos… e pagamos (muito caro) por isso.
Voltando a Froome: desejo muito que, por corresponder à verdade, nunca se venha a provar que recorreu ao “doping” como aconteceu com a estrela caída em desgraça chamada Lance Armstrong.
José Batista d'Ascenção
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