domingo, 12 de janeiro de 2025

A farsa dos dias comemorativos

Por Jorge Paiva, sob o título «Dias comemorativos inventados, reais e naturais» no jornal «PÚBLICO» de hoje, pg. 23 da versão impressa.

«A maioria dos dias comemorativos que se celebram em Portugal é inventada pela sociedade de consumo que nos consome. Vejamos alguns exemplos. Inventaram o Dia da Mãe, o Dia do Pai e o Dia dos Avós. Umas semanas antes de cada um desses dias, iniciam a campanha publicitária para que os descendentes não se esqueçam de comprar lembranças. Considero que não são Dias Comemorativos, mas Dias de Consumismo, com ofertas de lembranças materiais, a maioria delas desnecessárias ou inúteis, flores e doçaria em quantidades exorbitantes. Devo dizer que no Dia do Pai e no Dia dos Avós os meus descendentes não só não me oferecem nada, por saberem que não tolero esse consumismo, como, também, nem me telefonam. Magoado ficaria eu se eles só se lembrassem de mim apenas nesses dias. O famigerado Dia dos Namorados é um dos mais aproveitados para consumismo inútil. Até nos dias comemorativos dedicados à natureza e ao ambiente, o consumismo e o exibicionismo estão presentes. Por exemplo, no “Dia da Árvore ou da Floresta” não só lembram as pessoas para comprarem uma árvore e plantarem-na (geralmente mal e em local impróprio), como os políticos e governantes aproveitam para se exibirem a plantar uma árvore, sem nunca antes terem feito nada pela conservação da natureza. Alguns dias comemorativos inventados nem se comemoram simultaneamente em todo globo, como, por exemplo, o Dia de Ano Novo. Quando o foguetório, poluente e ruidoso, começa na Madeira, já os neozelandeses e australianos estão a dormir, mais ou menos alcoolizados. A voracidade desta sociedade consumista é tal que até para com os dias comemorativos reais (por exemplo, o nosso aniversário) pressionam as pessoas para o consumo e exibicionismo. Damos apenas um exemplo. Para o dia comemorativo do 25 de Abril, é ampla a propaganda para se comprarem cravos vermelhos, camisolas e cachecóis, [o] que muitos aproveitam para se exibirem como sendo democratas, mas não o sendo na realidade.

Os dias comemorativos naturais, como são, por exemplo, os solstícios e os equinócios, não só não os comemoramos, como a maioria da população humana nem sabe o que são estas ocorrências astronómicas. Porém, a maioria dos animais e até das plantas não só dá por esses fenómenos, como também altera funções fisiológicas e até muda de habitats e regiões.

[…]

Consideramos que somos a espécie mais inteligente desta “Gaiola” [o planeta Terra], mas é tão estúpida [a nossa espécie], que é a única que está a provocar a destruição do ecossistema em que vive; o globo terrestre era limpo (havia reciclagem natural) e atmosfera respirável, antes de surgirmos nesta “Gaiola”.»

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Assim é. Já estávamos mal. Ao iniciar-se, com toda a pujança, a «Era Trump», aceleramos vertiginosamente para a mais elevada degradação social e ambiental do planeta. Caro o pagaremos, a começar pelos mais pobres e desprotegidos. Mas os restantes não escaparão. Soubessem-no eles.

José Batista d’Ascenção

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