quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Os livros e nós

Há livros que nos constroem. Dar com eles pode ser uma questão de sorte. Não faltam bons livros. Sendo tantos os livros bons, quaisquer que sejam os critérios de apreciação, apenas podemos ler uma pequeníssima parte deles, por falta de tempo e excesso de opções possíveis. No que me cabe, decidi, nem sei quando, ler apenas livros cuja probabilidade de serem bons me parecesse elevada. Donde, fui, tendencialmente (e injustamente) pouco receptivo aos livros de pessoas (mais ou menos) próximas ou desconhecidas. E, numa ou noutra ocasião, em que me pediram opinião sobre se determinados escritos deviam ser publicados, não pude esconder a falta de entusiasmo, sugerindo, invariavelmente, que, na escrita como na pintura, na música ou noutras artes, cabe a poucos realizar e a muitos – a quase totalidade de nós – apreciar. E segui eu próprio a sugestão.

Não obstante, tive muitas surpresas. Obras aclamadas nem sempre me agradaram e trabalhos menos conhecidos, ignorados ou não valorizados deram-me satisfação e enriquecimento.

Foi, há meia dúzia de anos, o caso do livro «Gualdim Pais, o Fronteiro de Deus», de Fernando Pinheiro, autor honesto de labor sereno que, romanceando a vida do herói em título, entreteceu ricamente a história das origens de Portugal, da cultura e da identidade matricial dos portugueses.

E foi, há poucos dias, um livro do professor aposentado de Física e Química, Manuel Lago Cruz, que se intitula, muito apropriadamente, «Questões de Tempo». É uma edição de autor, sem data. O conteúdo debruça-se sobre noções de tempo, desde a antiguidade aos tempos de hoje, segundo filósofos, religiosos, cientistas, literatos, pintores cineastas ou outros, numa pletora de figuras proeminentes das mais diversas áreas, de todas as geografias (para meu gosto, nem Darwin e a sua teoria da evolução ficaram de fora). Está bem escrito, é muito claro, bem sequenciado e articulado. A cultura do Manuel Lago, confirma-se, é tão vasta quanto eu tinha a ideia que era, quando, nos finais do milénio passado, fomos colegas na mesma escola (E. Secundária D. Maria II, Braga).

Aclarei ideias. Muito grato ao Manuel. 

José Batista d’Ascenção

Sem comentários :

Enviar um comentário