domingo, 26 de julho de 2020

A minha Terra calcinada

Imagem obtida aqui.
Tudo é fumo e labareda. Resta o negro. E as almas vazias. Àqueles que permaneceram, verga-os o peso da idade, da solidão e da indiferença (ou da ineficácia) dos que podem. Eles sabem que estão sós. Por isso olham para o infinito, em silêncio, a interrogar Deus, ante a perplexidade da desesperança completa. Porque os abandonaram? A eles, que nunca pouparam braços e esforços e a quem nunca faltou a fé?
Ninguém sabe. Ninguém responde. Ninguém resolve.
E eles mesmo são ninguém. Aquelas terras são de ninguém. São nada: eles e as suas terras e as suas coisas e as árvores e os animais que havia. São nada e ninguém, embora incomodem um pouco, quando exteriorizam tanto sofrimento mudo.
Deixemos, o Verão vai a meio. Mais mês e meio e passou. Tudo é coisa de nada. Voltará, mas já sabemos o que é e a importância que lhe damos. Por isso não faremos nada.
Sofro convosco, e grito calado, gente da minha Terra calcinada.

José Batista d’Ascenção

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