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Nas últimas quatro ou cinco décadas, nos países com níveis de vida razoável, e exceptuando aquela fracção de pobres - um quinto dos portugueses, pelo menos -, que quase culpamos de o serem, habituámo-nos à mesa farta (tanto que os portugueses engordaram excessivamente), à saúde garantida (abençoadas vacinas e antibióticos, bendito sistema nacional de saúde!), e à liberdade (fruto precioso do 25 de Abril, de que ignoramos o preço).
Neste intervalo de tempo, a juventude deve ter tido as maiores facilidades de toda a História da humanidade. Uma vivência hiperprotegida: pelos pais, que tinham tido vidas mais ou menos apertadas e queriam o melhor para os seus filhos, pela sociedade que, formal e legalmente, passou a proteger as crianças, e pela instituição escola, que se tornou obrigatória para todos, embora cumprindo mal o seu papel. Com espanto apercebemo-nos de que, em vez de robustecida, a formação do género humano se revela nuamente frágil, como sempre foi e é.
As pessoas que entram agora na terceira idade podem não ter tido infâncias e juventudes muito confortáveis, mas, tendo trabalhado, e à falta de melhores perspectivas, anseiam pela reforma (que os adiamentos vão protelando), convertida em motivo esperançoso de vida.
Já os mais velhos, para além dos oitenta anos, que, na maioria dos casos, sofreram as passas do Algarve, poderiam saborear o tempo plácido das suas pensões, se a saúde o permitisse e a ajuda a filhos e netos não lhes consumisse os recursos e ensombrasse os dias.
A população activa faz «ginástica» na aplicação dos proventos e vive temerosa de perder o trabalho, sujeita ao martelar terrorista de que não há empregos para a vida (excepto os dos que propalam a ideia).
Configuram-se pouco auspiciosas e entusiasmantes as perspectivas de futuro dos mais jovens, que as famílias não sabem como educar, que as escolas enganam com sucesso fictício e a quem a sociedade sonega a possibilidade de integração em funções úteis e gratificantes.
A agravar tudo, fomos surpreendidos por uma infecção pandémica, que o conhecimento da História e o saber da Ciência facilmente permitiam prever, embora não pudessem datar.
A vida é uma luta constante, quase sempre dura e difícil. É nosso dever vivê-la e ensiná-la. Não há outra via. Nunca houve. E os erros têm custos que alguém inevitavelmente pagará – os que os cometeram ou outros por eles. Também a transgressão e o crime frequentemente compensam, mas não em definitivo, sendo que algum tipo de paga facilmente transita para as gerações a haver. As agressões à mãe Natureza incluem-se aqui.
Tudo isto, muitos de nós temo-lo arredado do pensamento.
Para amanhã, contudo, não resta ao ser humano mais do que aquilo que possa fazer por si mesmo.
José Batista d’Ascenção
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