quarta-feira, 15 de julho de 2020

As contas da Covid-19

Imagem obtida aqui.
Segundo dados da Worldometer (via relatórios diários da situação, da DGS, é trabalhoso chegar aos dados em que fundamentamos a nossa análise), ontem, dia 14, registaram-se em Portugal 233 novas infeções e mais 6 óbitos. Consequentemente, devido a uma quantidade não habitual de 485 recuperados, que superou, por muito, a soma dos números de novos infetados e falecidos, o número de casos ativos baixou 256, realidade a que não se assistia, desde 30 de junho, dia em que foi registada a última descida considerável de 79 casos. A norma vinha sendo a subida diária, por conseguinte.
E, num dia excecional de descida do número de casos ativos, o que é que continuamos a ter nos títulos da imprensa e nos oráculos das televisões? Nada mais do que o massacre diário do somatório de infetados e de falecidos. O número de recuperados e o importante número de casos ativos continuam a não merecer qualquer relevo nos nossos pobres órgãos de informação!
Mas mais. Segundo notícias publicadas nos jornais de hoje, “a Direcção-Geral da Saúde fez, esta terça-feira, a atualização da distribuição dos casos por cada concelho no [seu] boletim diário”. Fomos ver o que nos interessa mais diretamente e pudemos constatar que, ao fim de mais de um mês (desde 6 de junho), lá fazem o favor de atribuir ao concelho de Braga mais 4 casos (os persistentes 1.256 passaram, finalmente, para 1.260). 
Só que o Correio do Minho, que vem noticiando a situação no concelho com mais rigor e objetividade, por ação de uma jornalista que interage com a autoridade municipal, informa hoje que “Braga registou, na última semana, mais dez novos casos de Covid-19”, o que faz com que “desde o início da pandemia já foram infetados 1.409 bracarenses”. Mas acrescenta que também se registaram “mais dez recuperados”. Então, em posse destes números, que descredibilizam por completo a informação da DGS, a jornalista faz as contas e informa os munícipes de Braga sobre aquilo que é mais importante e que todos mais querem saber: “apenas 22 estão com a infeção ativa”.
Mas no que concerne à informação sobre a evolução da pandemia a nível mundial, temos mais. Vimos assistindo, nos tempos mais recentes, a um aumento incontestavelmente assustador no número total de infeções, números estes que são diariamente noticiados com grande alarme e sensacionalismo pelos nossos órgãos de comunicação. E não há quem consiga ver e noticiar que, por norma, cerca de 60% do total de infeções ocorrem em três países: EUA, Brasil e Índia. E, se juntarmos a África do Sul, que entrou recentemente no grupo dos dois dígitos diários, temos que aquela percentagem sobe para cerca de 65% (no dia a que nos referimos estes números foram, 63,6% e 68,5%, respetivamente). E também podiam acrescentar, se quisessem ser rigorosos e não panfletários, que são 215 os países/regiões elencados pela Worldometer e só mais 18 (além dos 4 referidos) é que ontem registaram mais de 1.000 novos casos positivos.
Entretanto, entre os muitos milhões de infetados, há também muitos milhões de recuperados. Eram, no dia em referência, quase 7,8 milhões. Se juntarmos a este número o dos falecidos, tínhamos ontem menos de 5 milhões de casos ativos, no tal mundo dos 13,3 milhões de infetados!
Mas que interesse tem isto? Que interesse tem noticiar o lado menos negativo do problema? O que interessa é o estrondo dos mortos e feridos e internados.

António Antão

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