quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Fiandeiras d'algum tempo

Tenho um brinco com que brinco

Tenho um brinco que me enlouquece

Quanto mais brinco com o brinco

Mais o volume lhe cresce


Em tempos não muito distantes, dedicadas fiandeiras passavam horas de roca ao colo enrolando fio de lã, de linho ou de estopa no fuso que rodopiava entre o indicador, o médio e o polegar de uma das mãos, em acção combinada com o humedecimento com saliva do polegar e do indicador da outra mão, no acto contínuo de transformar um emaranhado de fibras precisamente nesse fio enrolado à volta da zona média do fuso.

Sendo mais do que uma mulher na fiação, a conversa podia incidir na vida alheia, indo da «Lua Nova» até à «Lua Cheia», e vice-versa, vezes sucessivas.

À volta do fuso esguio crescia em barriga o fio enrolado, até o tamanho atingido obrigar à sua fácil remoção, que se fazia puxando a maçaroca para a extremidade fina do fuso.

No ambiente rural, fiadas as maçarocas, seguia-se a tecelagem, em teares artesanais, a cargo de tecedeiras, que podiam ser as mesmas mulheres.

Os tecidos, produto final da fiação e tecelagem, eram nova matéria-prima para várias utilizações: vestuário, toalhas, lençóis, tapeçarias, sacos, etc.

A industrialização e os progressos técnicos varreram para o esquecimento ou para o vasto campo da ignorância aquelas ocupações das nossas bisavós dos ambientes campesinos.

Nem nos museus que ainda restam os jovens e as crianças de hoje percebem formas de viver que estão longe de ser remotas no tempo.

José Batista d’Ascenção

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