sábado, 15 de novembro de 2025

A (única) vida que conhecemos e a arrogância com lhe profanamos a essência

A aurora da humanidade marcou o começo de um Universo consciente, ou seja, após 13,8 mil milhões de anos de expansão, o Universo de que fazemos parte encontrou uma voz para contar a sua história.

A vida é matéria «animada» com um propósito – o de sobreviver. Trata-se de uma composição de elementos químicos com um impulso autónomo para a sobrevivência e a reprodução, características que definem a vida em geral.

Se existir vida noutros lugares do Universo, ela terá igualmente a mesma vontade de sobreviver, de se reproduzir e de se perpetuar. A alternativa será/seria a extinção.

As espécies evoluem em profunda comunhão com o seu meio e desenvolvem todo o tipo de truques e armas – alguns notáveis – para se manterem vivas. Co-evoluímos com a Natureza, acreditar que nos podemos libertar da sua dinâmica é nosso maior erro.

A vida sem níveis (mais) elevados de cognição não se reconhece como vida consciente. Mesmo os animais capazes de emoções (alegria, tristeza, afecto, companheirismo, etc.) não reflectem sobre o sentido da sua existência nem se interrogam sobre a sua origem. Nós, humanos, sim.

Contudo, tornámo-nos paradoxais, metade bestas, metade deuses, capazes das mais belas criações e dos crimes mais atrozes. Somos grandes e somos pequenos, poderosos e limitados. 

E julgamo-nos senhores do planeta que habitamos. Acontece que o planeta não é nosso. Nós é que somos do planeta. A Terra pode muito bem (continuar a) existir sem nós. A espécie humana é que não pode (continuar a) existir sem as condições (físico-químicas e biológicas) que o planeta Terra proporciona.

Isto e não apenas…

in: Gléiser, M. (2025). «O Universo Consciente». Temas e Debates.1ª Edição. Lisboa. (pg. 189 - 194)

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Tempo de cogumelos

Dias após o regresso das chuvas, matas e campos não cultivados mostram, por vezes, abundância de cogumelos silvestres de diferentes espécies.

Este ano foi (está a ser) um ano farto.

Algumas espécies de cogumelos têm (alto) valor gastronómico, enquanto outras, ricas em compostos químicos tóxicos ou alucinogénios, comportam perigos para a saúde, podendo ser fatais, escassas horas após a ingestão.

Daqui resulta que a apanha e a confecção de cogumelos deve ser feita por quem sabe, para prevenir riscos.

Mas há outras razões pelas quais a procura de cogumelos deve ser criteriosa. Na realidade, o cogumelo, em si, é uma estrutura reprodutora de um fungo filamentoso que cresce nos solos normalmente ricos em manta-morta, e que não divisamos à vista desarmada, não obstante as dimensões (de decâmetros quadrados ou mais) que pode atingir.

Ora, os fungos têm um papel muito importante na Natureza, porque decompõem a manta-morta e devolvem os componentes minerais ao solo, disponibilizando-os de novo para as plantas.

Mais do que isso, os filamentos (hifas, cujo emaranhado constitui o micélio) de muitos fungos associam-se com as raízes das plantas/árvores (constituindo o que se chama micorrizas), aumentando muito a superfície de absorção e facilitando o seu crescimento (em troca, a planta alimenta o fungo com os açúcares que produz nas folhas por acção do Sol, no processo da fotossíntese).

Donde, a intensa procura e colheita individual ou por equipas de busca de cogumelos podem aniquilar esses fungos e, por essa via, prejudicar seriamente as plantas.

É importante perceber isto.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Ninguém é o melhor do mundo em coisa nenhuma

O ser humano tem necessidade intrínseca de se sentir valorizado. A competição sempre foi uma via de o (tentar) conseguir. Os benefícios da colaboração, da partilha, da ajuda mútua, da compaixão e da empatia não são menos valiosos, antes pelo contrário, mas podem ser trucidados pelo egotismo a qualquer momento, pelos indivíduos ou pelas sociedades.

A epigrafe parece absurda, mas não o é para mim. Newton, que não tinha feitio fácil, soube ser humilde (que sábio era-o de sobra) quando afirmou que se viu mais longe foi por estar aos ombros de gigantes.

Desportista ou operário, artista ou investigador, digam-me o nome de alguém que possa ter a certeza de que não há (mais) ninguém que tenha, pelo menos, capacidades iguais às suas. Se, por acaso ou não, alguém encetou a mesma actividade, ou se teve a sorte de encontrar as condições mais favoráveis - aí é que bate o ponto. Como posso ter a certeza de que, nos séculos XVIII-XIX não nasceu em Portugal alguma pessoa com as mesmas potencialidades de Beethoven para a música? Dir-me-ão que não é provável. E eu pergunto: sobre cada um de nós que existe, antes de nascer, qual era a probabilidade matemática de (vir a) ser como é? Qual é o valor desse número?

Os tempos de hoje não são favoráveis à humildade, à serenidade e à moderação. Aos políticos que praticam e fazem a apologia do crime, aos poderosos da finança que esbulham os desprotegidos, aos bélicos que destroem furiosamente corpos e bens, ou aos desportistas que alardeiam a sua superioridade (sempre fugaz), vejo-os como homens ou mulheres algo incompletos, falhos das qualidades mais nobres e desejáveis da condição humana.

E vivo discretamente, intimamente exaltado com as muitas e constantes lições de beleza, harmonia e bondade da Natureza e da Vida.

Por estes dias, li uma entrevista da pianista Maria João Pires e associei-a as estas (minhas) ideias.

José Batista d’Ascenção

domingo, 9 de novembro de 2025

Fundamentos da descoberta e caracterização de planetas fora do sistema solar

Mesmo os maiores telescópios não conseguem obter imagens com boa resolução de planetas que orbitam estrelas que não o nosso Sol.

Acontece que cada planeta exerce sobre a estrela que orbita uma força gravitacional igual à força que a estrela exerce sobre ele (lei da acção e da reacção de Newton). Essa atracção faz oscilar a estrela, embora muito subtilmente. Quanto mais maciça for a estrela mais o centro de massa do sistema estrela-planeta se situa próximo do centro da estrela, mas não exactamente nele, o que justifica a oscilação dessa estrela provocada pela atracção do planeta em movimento na sua órbita.

Com telescópios muito potentes pode-se captar essa “dança” tímida e extrair dela dados que permitem deduzir de modo preciso a massa do corpo planetário que a provoca.

Na verdade, o que os astrónomos observam não é a “dança” da estrela mas a forma como a sua luz varia à medida que ela se move em torno do centro de massa do sistema formado pela estrela e pelo planeta. A luz muda quando a fonte luminosa se aproxima ou quando se afasta de nós (ou nós nos aproximamos ou afastamos dela). Quando se aproxima de nós, as ondas luminosas são «comprimidas» na direcção do movimento (em física diz-se que os comprimentos de onda ficam mais curtos, ou seja, as frequências são mais elevadas) e quando a fonte luminosa se afasta, as ondas são esticadas para frequências mais baixas. O fenómeno é conhecido como efeito de Doppler. As implicações são muito úteis: se uma estrela ou uma galáxia se aproxima de nós, a luz desvia-se para o azul (luz de menor comprimento de onda); se se afasta, a luz desvia-se para o vermelho (luz de maior comprimento de onda). E sabemos a velocidade a que a aproximação ou o afastamento acontecem.

Esta técnica chama-se método da velocidade radial ou de Doppler.

Outro método de encontrar exoplanetas é o «método do trânsito». Um trânsito planetário denota a passagem de um planeta pela frente da estrela que orbita. Nesse caso, um observador devidamente posicionado (o que exige o plano da órbita desse planeta alinhado com o plano da órbita da Terra) verá um ponto negro como que a deslocar-se lentamente pela superfície da estrela. O trânsito, por si só, permite determinar o diâmetro do planeta.

Conhecidos o tamanho e a massa de um planeta calcula-se a sua densidade. Pela densidade sabemos se esse planeta é gasoso como Júpiter ou rochoso como a Terra ou se é diferente de ambos.

in: Gléiser, M. (2025). «O Universo Consciente». Temas e Debates.1ª Edição. Lisboa. (pg. 123-136)

José Batista d’Ascenção

domingo, 2 de novembro de 2025

Dêem-nos a cidade

As semanas ou meses antes de cada eleição enchem as cidades de megapainéis com as caras sorridentes dos políticos candidatos.

Após os actos eleitorais, parte desses políticos não se apressam a (mandar) retirar do espaço público os seus múltiplos e avantajados retratos, pelo que temos de suportar as suas caras faceiras por longos tempos, não raro até a chuva e o vento as fazerem em pedaços.

Isto, para mim, é falta de respeito.

A tais monos, que desfeiam e tapam a vista, somam-se todos os outros que nos impingem publicidade comercial.

Mandara eu e impunha fortes restrições na colocação daqueles materiais, exigia critérios de afixação de propaganda política ou publicidade comercial, e estabelecia que tudo fosse retirado com a maior brevidade findo o tempo concedido. De qualquer modo, ainda bem que não mando.

Os motivos que me animam são, tão só, de elementar ecologia e higiene.

A nós, as cidades a que temos direito.

José Batista d’Ascenção

sábado, 1 de novembro de 2025

Dia dos mortos

Não gosto deste dia. Os meus mortos recordo-os um por um, em certos momentos de solidão, em dias anódinos, de forma aleatória. Não vou em romarias aos cemitérios – tenho os meus que partiram espalhados por vários sítios, três pelo menos, e distantes uns dos outros, e por lá passo algumas vezes, em cada ano. Prefiro assim.

Quando eu morrer quero que cada um dos átomos do meu corpo seja devolvido à Natureza – como inevitavelmente será – de forma que ninguém saiba o destino de cada um deles. Não (n)um túmulo, nem com peregrinações pessoais junto dele.

E os que me recordarem que o façam com a memória que de mim lhes ficou no peito.

Para que eu repouse em paz e não desassossegue ninguém.

Por alma de quem já não tenho, por mim e por todos os que estremecidamente aprecio.

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Colonização cultural em tempos de identitarismos exacerbados

Há escassas décadas, o dia das bruxas não tinha expressão em Portugal. E nada se perdia por isso.

Hoje, entre as bugigangas dos hipermercados figura com destaque a parafernália indumentária do «halloween». A coisa pegou.

Nas escolas, alguns professores de línguas comemoram a “quadra” com injustificado entusiasmo. Muitos pais de criancinhas de tenra idade decoram entradas e janelas com grande diversidade de artefactos alusivos. E chegam a acompanhar os infantes nas “visitas” à porta das casas vizinhas, pela noitinha. Até a farmácia que habitualmente frequento se preparou a preceito.

Mas porque me pronuncio eu sobre isto?

Ora, porque para além do incómodo da campainha que toca (quase) ininterruptamente após o jantar de 31 de Outubro, desagrada-me a sujidade com que me decoram o portão, a caixa de correio e a entrada de casa e com que deparo na manhã de 01 de Novembro. Isto apesar de várias vezes ter de descer as escadas para ir dar uns rebuçados aos pequenos pedintes.

Pessoa amiga, o ano passado, tinha o carro imundo com ovos e farinha, quando tinha de iniciar uma viagem inadiável. Brincadeiras destas não são aceitáveis.

Fica muito bem uma abóbora transformada em «caraça» interiormente iluminada. O resto perturba e degrada a cultura social.

Disse. 

José Batista d’Ascenção

domingo, 19 de outubro de 2025

Riso, Troça e Aplauso

Terminei a leitura e a observação das caricaturas do livro «Riso, Troça e Aplauso» (Representações satíricas dos escritores portugueses – séc. XV a séc. XIX), de Maria Virgílio Cambraia Lopes, editado há poucos meses pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. Volume grosso: 458 páginas em papel de qualidade. De qualidade são também as imagens, naturalmente, e a sua reprodução, bem como o texto. Maria Virgílio é sucinta mas clara, perspicaz e incisiva. Não se alonga e faz muito bem. O que ela não diz não precisa, porque, elucidando e estimulando, sabe remeter para as figuras, muito ricas de pormenores, ou não fossem os caricaturistas geniais, a maior parte deles.

Está de parabéns, a autora (que conheço de longa data, porque foi minha prezada colega de profissão na Escola Secundária D. Maria II, em Braga, onde ambos leccionámos, nos finais do milénio anterior).

Este livro fez-me voltar a outro que li há longos anos: «Tesouros da Caricatura Portuguesa, 1856-1928», de Paulo Madeira Rodrigues, editado pelo Círculo de Leitores, em 1979. Revisita-se nesse livro «a política portuguesa através da sátira ilustrada». A obra é servida de texto longo com imagens intercaladas que perdem porque a edição da altura tinha limitações que não se põem nos dias de hoje. Mas o livro era e é bom, desde logo pelo seu valor documental.

Portugal, um país que, tantas vezes, é uma caricatura pouco feliz de si próprio, tem, felizmente, em cada tempo, artistas de grande qualidade que muito bem o retratam, sob formas variadas.

Ao menos isso. Valorizássemo-los nós.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Comunicação emocional com objectivos pouco claros

Supostamente, os nossos dias são de comunicação intensa e permanente. Mas o conhecimento é, genericamente, superficial e enclausurado em “bolhas” onde as afinidades ou os algoritmos submergem cada alma.

É assim nas redes sociais, onde o íntimo violento e as pulsões malsãs se espraiam sem freio.

Os programas televisivos ditos de entretenimento alimentam-se do espalhafato e do grotesco em que até os mais sensatos e ponderados (entre os profissionais e o público) embarcam com facilidade.

No que deviam ser telejornais campeiam “especialistas” de toda a ordem, inferiorizando o (nobre) papel e a função dos jornalistas, mesmo de bons profissionais que a tal se prestam ou a que os obrigam. Os sabichões não acrescentam nada, na maioria dos casos, e pagam-lhes para que debitem as suas sabedorias, que poucos ouvem e em que quase ninguém crê. Parece ilógico, o procedimento, mas ele multiplica-se, pelo que deve ter algum propósito.

No desporto, sobretudo nas “análises” do futebol, os comentaristas inflamam-se, berram, esbugalham-se, “explicam-se” e insultam-se, como se o mundo (mesmo o deles…) dependesse das suas “verdades”. O fenómeno expande-se porque são muitos, e com o mesmo lastro instintivo e cultural, os que vêem tais programas.

Já os protagonistas da política, os próprios e os comentadores arregimentados, prestam-se a idênticos papéis, saltando de programa em programa e de canal em canal, de quantos lhes abrem as portas. Restam alguns com idoneidade e preparação, nas organizações e no meio jornalístico, mas tendem a perder-se na marabunta.

Há ainda os canais que se alimentam de sangue, violência, sexo. Que seria deles se a boa formação morigerasse a apetência dos humanos por impulsos primários?

Aumenta a necessidade de moderação, de esclarecimento, de atenção e de clima propício para dar exemplo e ensinar as crianças.

José Batista d’Ascenção

domingo, 12 de outubro de 2025

O candidato presidencial da minha preferência é António José Seguro

Diferentemente de muitos e grados companheiros de partido, António José Seguro não caucionou o modo de fazer política de José Sócrates.

Soube, com grande dignidade, afastar-se da política partidária quando António Costa o tombou democraticamente da liderança do partido socialista (PS).

É um moderado de convicções que não baixou nem cedeu à prática comum das piruetas políticas de caserna. Gosta de política, desde sempre, e serve-a com dignidade, qualidades que aprecio.

É um homem de atitude afável e humilde, próximo dos cidadãos e atento à realidade social do país.

Não teve privilégios prévios de usufruto de tempo para prédicas televisivas a solo: quis apresentar-se às eleições presidenciais e candidatou-se, como deve ser. 

Alguns elementos cimeiros do seu partido, caso de Santos Silva – que nunca deram pelas falcatruas socráticas – vota(ra)m-lhe um ódio que não esconde(ra)m. Eles lá sabem porquê. É pena que o PS e a sua direcção actual pareçam reféns dessas figuras que se supõem, elas mesmas, de subida (mas na realidade muito relativa) importância política e social.

Homenagem a cidadãos do PS, como Manuel Alegre, que logo viram o óbvio e se declararam apoiantes de António José Seguro, com a clareza de ideias que sempre os caracterizou.

Homenagem ao notável «capitão de Abril», Vasco Lourenço, lutador pela liberdade, que também já lhe manifestou o seu apoio.

Os detractores de António José Seguro acusam-no de personalidade baça e de fragilidade de liderança. A tentativa de depreciação carece de fundamento. Contra-argumentando, nem é preciso notar que personalidades de incomensurável sagacidade política, como Mário Soares, ou malabaristas políticos de cultura e raciocínio brilhantes, como Marcelo Rebelo de Sousa, não impediram o curso da democracia portuguesa em direcção à actual conjuntura partidária e à consequente, e miserável e confrangente, composição e ultrajante praxis da assembleia da república.

Antes aqueles que não se julgam iluminados pelos deuses.

Felicidades, António José Seguro.

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

A qualidade do pão que comemos

Compro pão diariamente numa grande superfície perto de casa.

Um tal «pão da padeira», que nem sempre foi mau, é agora um pão branquelas, que fatia mal no próprio dia e pior ainda no dia seguinte, com uma textura e sabor que não entusiasmam…

Um outro, “pão de Rio Maior”, é massudo, no dia não se come mal, mas torna-se mais denso depois disso, desconsola e nem a cortar se presta.

A variedade “pão alentejano”, de pão alentejano tradicional da região, que eu ainda saboreei, só tem o nome.

Faz tempo comecei a levar “pão de Mafra”, que um inspirado qualquer desenhou em formato fálico. No dia come-se benzinho e fatia bem, mas, preferia eu que, em vez de investirem no rigor da forma, os executores da receita se aplicassem na qualidade do produto, em que há margem de progressão.

De outro supermercado, paredes meias, levo um pão escurinho, a modos que rústico. Vesiculoso e macio, sabe bem no mesmo dia, mas tem vezes que se enrola ao partir, à frente do gume da faca, ainda que ela corte bem. No dia seguinte já se debulha em migalhos secos e duros, como se fora partido a martelo. Males destes e piores não devem ser só portugueses, porquanto familiar próximo, que vive em Amsterdão, aprecia esta última variedade de pão, por comparação implícita.

Deixo de lado vários tipos de broa do (super)mercado, para não me exceder em negativismo.

Mas não me conformo, reconhecendo embora a justeza daquele ditado antigo, com aplicação atual em demasiados sítios: “pão e fome que bem se come”. Quando há fartura, tornamo-nos mais esquisitos.

José Batista d’Ascenção

domingo, 28 de setembro de 2025

O carmim, sim

Para mais no Outono, oferecido assim, graciosamente, pela mãe-Natureza. Olha-se e saboreia-se, apraz à alma e faz sentir bem o corpo.

Jardins há muitos, e bonitos, graças a quem sabe e gosta de cuidar deles. Mas as ofertas espontâneas de colorido suave em campo aberto, de que basta dispor, sem mais, e sem custar nada a terceiros, têm o condão de nos fazer sentir parte de um todo, que devíamos ser capazes de merecer.

Hoje comunguei desta cor e senti-me bem só por isso. Rosa no verde para acalentar suavemente a esperança.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Asfixia propagandística e falência do jornalismo

Não há melhor sistema político do que a democracia. Mas a democracia exige cidadãos educados e exigentes e políticos responsáveis e responsabilizáveis.

Decorre uma campanha eleitoral (autárquica) encaixada, em termos práticos, noutra campanha (a presidencial), começada, efectivamente, há muito tempo, demasiado tempo (Marques Mendes bem podia dizê-lo, e não apenas ele. Só o PS parece alheio, e não é por motivos salutares…).

E assim que a próxima campanha (presidencial) termine, logo outra (a das legislativas) se seguirá, com o seu ritual de hipocrisia, farta despesa, descrença e saturação.

São difíceis os tempos: correm muito mais velozes as mentiras e as notícias falsas do que a verdade e as análises sérias e racionais. A deseducação em que caímos favorece este estado de coisas, que tende a agravar-se.

Deixei de ver telejornais (tirando o do canal 2 da RTP, às 21.30 h). Faz-me pena e revolta que bons jornalistas, que ainda os há, deixem de comunicar notícias e de fazer análises, para “convidarem” políticos, académicos e militares, os quais, na suposta condição de «especialistas» (nem falo dos do futebol…) puxam as brasas para o lado que lhes convém ou que servem (as excepções confirmam a regra).

Como os pais perderam a capacidade de educar os filhos, soçobrando face à influência avassaladora dos meios digitais, e a escola se degradou como (não) era previsível, temos a irracionalidade a tomar conta do mundo, as democracias a fenecer e o poder financeiro a prevalecer: é uma espécie de modernidade das cavernas.

Em nome dos princípios, não podemos abdicar de nós mesmos.

Porventura, é só uma fase má. Tomara.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

sábado, 13 de setembro de 2025

Pela arte é que vamos

Está a decorrer, iniciou-se ontem e termina amanhã, a «Art Expo Norte», uma exposição de arte contemporânea, no «Forum Braga», na capital do Baixo Minho.

São vários espaços de diferentes artistas, pintores e escultores, nacionais e estrangeiros, que expõem as suas obras.

Todos os trabalhos são agradáveis de ver e muitos têm qualidade estética e artística de elevado nível. Parte dos preços escapam às possibilidades económicas do português médio, mas todos podem ver e apreciar, porquanto a entrada é gratuita.

Esta tarde havia (muito) menos pessoas do que a exposição merecia. Algo poderia ter sido mais eficaz na divulgação? A presença do vereador da cultura em cerimónia de apresentação, previamente anunciada, talvez tivesse trazido mais público, que os artistas e as suas obras justificavam.

Não é sempre pouco, aquilo de que o público pode usufruir. Porque o havemos de desperdiçar?

Obrigado aos artistas presentes. 

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Mercantilização dos aniversários pessoais

Todos os dias faço anos: por exemplo, o ano passado, nesta data, contava menos um… O mesmo se passará amanhã, depois de amanhã, etc. Acontece que, após a infância, nunca valorizei o meu dia de aniversário natalício, data em que, além do mais, nunca fiz nada que decorresse especialmente de mérito meu. Esta posição pouco comum, de ortodoxia pessoal, sempre a reservei para não ser deselegante com os que muito prezo e sempre me felicitam, e para não chamar as atenções para uma originalidade eventualmente menos bem interpretada. Felizmente, os da casa sabem e convivem bem com o facto.

Claro que me sabe bem que se lembrem de mim. E desejo-o como qualquer mortal. Mas esse prazer vivo-o com a mesma intensidade em qualquer dia do calendário. E tenho necessidade de sentir a amizade e o carinho com a maior frequência possível.

No mais recente dia de aniversário do meu nascimento, logo de manhã, recebi mensagens de felicitações geradas automaticamente, seguidas de aviso de impossibilidade de responder, da instituição em que trabalho, de uma loja de óculos, de uma casa de aparelhos auditivos e da farmácia. “Mails” com condições idênticas chegaram de uma editora e do banco que me cobra para ter o meu (pouco) dinheiro. Que me interessa isto?

Na rede social a que um dia aderi para ler os textos do Professor Galopim de Carvalho sou alertado para as datas de aniversário de muitas pessoas, de que, ordinariamente, não me lembraria. Que valor tem eu felicitar essas pessoas se isso acontecer apenas porque a tecnologia me avisa?

E, no entanto, todos os pretextos são bons para fazermos sentir a outros que os estimamos. Fazê-lo fá-los sentirem-se bem, eles e nós. É assim como que pôr pitadas de açúcar no mundo, no nosso mundo e no mundo daqueles com quem gratamente o partilhamos.

Haja pois, muitas e boas e sentidas felicitações.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Espaços florestais como eu gostava de ver em Portugal

Predominam os carvalhos. Alguns áceres e outras folhosas. O chão razoavelmente “limpo” de grandes acumulações de matéria orgânica – a folhagem caída é junta em certas zonas e converte-se em húmus. Troncos caídos são dispostos proporcionando habitat para artrópodes diversos e atenuam a erosão nas zonas inclinadas. Algumas manchas de ervas rasteirinhas, que os veados se encarregam de não deixar crescer excessivamente. As fêmeas destes cervídeos mostram-se em pares ou em pequenos grupos de mães e juvenis, que não fogem se nos aproximarmos discretamente até vinte metros. Os machos com envergadura são arredios e pouco avistáveis. Esquilos, muitos. Aves, frequentes, detectadas mais pelo piar e grasnar do que pela facilidade de observação a descoberto. Caso dos corvos. Muito alto, grandes rapinas.

Passámos vários dias em «Poconos», na Pensilvânia, numa casa imersa na floresta, como tantas outras, centenas e centenas num espaço geográfico extenso dividido em lotes, tudo propriedade privada, que alguns proprietários alugam para férias.

Casa "imersa" na floresta. Poconos, Pensilvânia.
Cada um cuida do que é seu e cumpre as regras de um sistema que acaba por lembrar um condomínio fechado. Curiosamente, uma tal organização protege a floresta e o ambiente. Acontece que nos EUA, pelo menos em alguns estados, qualquer cidadão pode saber quanto custou cada propriedade e quanto paga de impostos. A casa em que estivemos foi adquirida em 2021 por 650 000 dólares e paga em imposto anual a quantia de 15.000 dólares.

Instituições estaduais ou municipais asseguram as estradas asfaltadas até cada habitação, as redes de abastecimento de água, de electricidade, de esgotos e o que mais é preciso, como a disposição e frequência de hidrantes.

Espaços comuns de desporto/lazer: campos de futebol (relvado), de voleibol (com areia), de ténis e de basquetebol (em piso cimentado), piscinas, parques infantis, fiquei sem saber quem os gere, mas têm funcionários e vigiantes.

Para isto ser viável é preciso haver pessoas com capacidade económica, mas em espaços como o de Poconos, agradabilíssimo, funciona mesmo e parece que todas as partes ganham.

O risco de incêndio é mínimo. E esta é a parte que mais me interessa. O luxo é (para mim) uma injúria. Basta(-me) o mínimo necessário, a simplicidade, a higiene e a paz, para além do carinho e da amizade dos que prezo.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Manhã fresca

Hoje, a manhã, embora com cheiro a fumo (mau sinal…) esteve fresca, do fresco matinal das minhas recordações de outros Agostos de há décadas, neste interior que era de pinhal (e agora é de eucaliptos).

Cheguei cedinho ao centro da vila (de Oleiros) para estacionar o carro facilmente e ser o primeiro (ou dos primeiros) a ser atendido na repartição onde precisava ir.

Felizmente, a esplanada da praça central abre cedo, pelo que me sentei com a gulosa expectativa de saborear um bom café e gozar a fresca das árvores densas e frondosas. Logo ali, o repuxo do lago proporcionava mais um motivo de confortável relaxe.

Faltavam pássaros, para além de um ou outro pardalito de voejos murchos.

O café não deleitou (saudades do do Senhor Miguel, de Braga), mas o compasso de espera foi agradavelmente repousante, o justo tempo de matar o vício, preguiçar um bocadinho e fazer este registo. Boa maneira de começar o dia, que há-de cumprir-se de forma compensadora.

Meu país bonito.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 12 de agosto de 2025

À beira d’água, na Ribeira da Sertã


O ar é um bafo. Esturrica-se, mesmo à sombra dos amieiros, ainda que com os pés na água. Por causa das minhas orelhas, desgostante fragilidade pessoal, não vou ao banho. Fico-me na esplanada ou nos bancos da zona de relva fresca e passo os olhos por algumas páginas de interesse. Mas não, a leitura exige (de mim) o recolhimento necessário.

Neste meio não me abstraio do gralhar musical das crianças, que são muitas e é bonito vê-las. Mães extremosas e pais dedicados acompanham-nas com desvelo.

Gosto de pensar que tanto afecto há-de dar adultos melhores. O mundo bem precisa, que o ar dos tempos afigura-se-me plúmbeo e tóxico.

Se assim não for, mal será.

E os meus netos, e todos os netos, de todos os avós, têm todo o direito ao optimismo e ao sonho, porque pelo sonho é que vamos.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Casa com osgas

Agosto. Sol. Calor. Temperaturas altas a todas as horas do dia e da noite.

Os incêndios atormentam (mais) a Norte, mas a Beira Baixa não entrou em combustão real, por enquanto, embora o chão, à torreira do sol, escalde.

Na casinha que era dos meus pais, nas paredes exteriores viradas a poente, ao crepúsculo vespertino, são agora comuns as silenciosas osgas, ora paradas ora em movimentos bruscos na caçada aos insectos.

Tentei explicar que se trata de bichos simpáticos, inofensivos e muito úteis. Não fossem elas e era ainda preciso ter mais difusores anti-melgas nas tomadas eléctricas.

Quando eu era menino, jovem e já pai de filhos só as conhecia no Algarve. Admito que tenham migrado para Norte, à medida que as temperaturas médias foram subindo até aos limites do suportável, como agora acontece. Por elas, são bem-vindas.

Igualmente benfazejas são as andorinhas, que volteiam nos ares em certos dias, devorando miríades de mosquitos e afins.

Desertas em tempos comuns, estas terras animam-se por estas alturas com o regresso de emigrantes – sim nós somos um país de emigrantes! – e com os que retornam às origens provindos dessa aldeia maior de Portugal, que é Lisboa e arredores.

É bonito Portugal. Pena o indigenato governativo e algumas más frequências. 

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 21 de julho de 2025

O mundo e o poder da ciência

A ciência salvará o mundo?

O progresso da ciência e da técnica, sobretudo nos últimos três séculos, operou modificações sociais e ambientais a um ritmo extraordinário. A superfície do planeta, os rios, as montanhas, os desertos, as extensões geladas, as florestas, as populações animais, a atmosfera, os oceanos e as suas formas vivas têm sido alvo directo e indirecto da acção humana, abarrotando de resíduos materiais e químicos perniciosos que se dispersam no ar, nos solos e nas águas.

Apesar disso, uma fracção da humanidade, ainda que minoritária, nunca viveu tão bem como nos anos mais recentes.

Se formos optimistas, podemos pensar que as perturbações que a humanidade desencadeia sobre o ambiente são possíveis de resolver, com recurso à reflexão, às necessárias mudanças de comportamento e agindo, naturalmente, por meio da ciência. Talvez.

Ou o mau uso da ciência destruirá o mundo?

O tamanho da população humana, o paradigma do consumismo, as produções industriais e os tóxicos que alastram por todos os locais põem em causa a biosfera e as possibilidades de sobrevivência das espécies biológicas mais complexas ou mais sensíveis e, por essas razões, de mais difícil adaptação à variação radical dos habitats e das suas condições.

Por outro lado, a sede de poder, o egoísmo e o materialismo, tão característico do ser humano, individualmente ou em sociedade, tendem a conduzi-lo para lutas constantes, no espaço e ao longo das gerações, transformando as guerras e os dispositivos bélicos em factores que, hoje, são capazes de, rapidamente, eliminar comunidades inteiras de imensas regiões ou mesmo de toda a Terra.

Um equilíbrio de terror pode evitar que aconteça, mas não é seguro nem agradável que seja assim.

Sendo certo que a evolução da humanidade, ou o seu fim, como o de tantas espécies biológicas, pode também ser determinado por outros elementos não dependentes da atividade científica do Homo sapiens. Foi o que aconteceu há certa de 65 milhões de anos, uma extinção em massa que dizimou grande parte da vida na Terra.    

José Batista d’Ascenção

domingo, 20 de julho de 2025

«Physarum polycephalum» – exemplo de um ser vivo de difícil classificação

É um bolor limoso, comum em troncos apodrecidos de florestas europeias e norte-americanas.

Desafia as bases do pensamento lineano. Não é um fungo nem um animal nem uma planta.

Tem um sistema imunitário que funciona no meio externo em vez de internamente. Segrega uma substância antiviral muito potente, capaz de eliminar a 100% o vírus do mosaico do tabaco, que afecta a planta do tabaco, o tomate, o pimento e o pepino. Consegue hibernar durante anos a fio. É, de algum modo, um organismo unicelular, mas não é um micróbio - o Guiness Book of World Records regista-o como a maior célula do planeta. Se for dividido, os segmentos podem funcionar perfeitamente de forma independente. Podem também fundir-se homogeneamente em diferentes espécimes, colhidos em locais diferentes. Pode deslocar-se à velocidade de 4 cm por hora. Oculta uma vida sexual extraordinariamente complexa. Em vez de dois géneros, macho e fêmea, o Physarum polycephalum tem 720 formas distintas de pares reprodutores – uma profusão de variações em matéria de sexualidade.

O Physarum polycephalum é capaz de aprender: para encontrar fontes de alimento dissemina-se segundo um padrão simultaneamente crescente e autocorrector, ocupando a quantidade máxima de território com um mínimo de recursos. Por isso, consegue encontrar o caminho mais rápido para fora de um labirinto ou os trajectos mais curtos entre locais diferentes.

Sem sistema nervoso central é capaz de recordar. De algum modo consegue reter o que aprendeu. Se for colocado no mesmo labirinto com um intervalo de tempo de semanas, reconhece o labirinto e recria o anterior itinerário de fuga. Se for um pedacinho do organismo fará o mesmo.

Classificado e identificado em 1822, foi ignorado até 1970. Não compreendemos a sua inteligência, mas tentamos colaborar com ele. Recentemente, começou a ser usado para explorar o cosmos…

in: «A Invenção da Biologia». Jason Roberts. Ed. Temas e Debates. 1ª edição. Lisboa. 2025. 410-411 p.

José Batista d’Ascenção

sábado, 19 de julho de 2025

A Baleia-azul não é o maior ser vivo da Terra

Terminada a leitura do maravilhoso livro «A Invenção da Biologia», de Jason Roberts, ocorre-me registar alguns factos contrários à percepção comum, como seja o tamanho descomunal de alguns seres vivos.

«É o caso do choupo, conhecido por Pando, do centro de Utah [estado da região oeste dos EUA], que é tão grande que ocupa 44 hectares e pesa cerca de seis milhões de quilogramas. Em 1976, investigadores da Universidade do Colorado descobriram que o que parecia ser uma floresta monoespecífica de choupos eram, na realidade, 40 mil clones da mesma árvore, interligados pelas raízes (os clones não se propagam através de sementes). Pando é verdadeiramente um organismo único. Quando uma árvore começa a morrer reconstitui-se enviando sinais pelas raízes e um novo clone emerge. Este ser existe desde pelo menos desde a última idade do gelo. A acção humana pode ter interrompido a sua reconstituição e conduzir a um lento declínio e à eventual morte.» [p. 400-401].

«Em 2015, descobriu-se que um único espécime do fungo armilária-escura (Armillaria ostoyoe) se estende por cerca de 965 hectares na Malheur National Forest do Oregon.» [p. 401].

Mais recentemente, «em 2022, os biólogos estabeleceram que um povoamento subaquático de ervas marinha australianas (Posidonia australis) germinou de uma única semente, há cerca de 4500 anos e que hoje se estende por mais de 19 mil hectares. Este povoamento vegetal deverá continuar a desenvolver-se e a crescer, a menos que seja perturbado pelos humanos.» [p. 401].

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Trevo de “quatro folhas”


Chamam-se trevos de quatro folhas aqueles que em vez de três folíolos por folha [daí o nome de trevo, palavra que deriva do termo latino trifolium, com o significado de «três folhas»] apresentam quatro. Nos campos, estas formas selvagens com quatro folíolos eram raras, mas, actualmente, porque popularmente se considerava um sinal de boa sorte encontrá-las, passou-se a obtê-las em quantidade por métodos diversos, e a envasá-las para venda.

O exemplar da foto é apenas uma variedade cujos bolbos plantei no meu quintal. A reprodução por bolbos é muito fácil e assegura a manutenção das características, dado tratar-se de um método de reprodução assexuada, formadora de clones.

Os órgãos sexuais (das plantas com flor) são as flores, mas a reprodução sexuada produz variabilidade, pelo que os descendentes podem variar entre si e em relação às plantas progenitoras.

Os trevos são plantas que possuem nódulos nas suas raízes que albergam bactérias fixadoras de nitrogénio gasoso (N2), tradicionalmente designado azoto. Estas bactérias, que infectam os nódulos das raízes das plantas leguminosas, fazem delas o chamado «adubo verde», porquanto o nitrogénio fixado é convertido em compostos azotados necessários à nutrição das plantas. Em compensação, as plantas fornecem às bactérias alimento açucarado que fabricam nas folhas, por acção do sol, no processo da fotossíntese. Esses compostos azotados servem à planta hospedeira, mas também enriquecem o solo, beneficiando outras plantas.

Os trevos são plantas forrageiras de bom valor nutricional para animais.

José Batista d’Ascenção

domingo, 13 de julho de 2025

A realidade do mundo difere do mundo que vemos

O que vemos vê-mo-lo com os nossos olhos. E as imagens do que vemos são construídas pelo nosso cérebro. Os daltónicos vêem as cores diferentes da generalidade das pessoas. O seu mundo de cores é diferente. As vacas não vêm como nós o verde das ervas que comem. Sabêmo-lo pelo estudo das células da retina. E não é contra o vermelho das capas que os toiros investem nas arenas. Os insectos são muito sensíveis às cores e alguns, como as abelhas, vêem radiação que os humanos não vêem, como seja a radiação ultravioleta. As informações que os nossos órgãos dos sentidos (ou os dos outros seres vivos) fazem chegar aos centros nervosos são aí transformadas nas sensações com que percebemos o que nos rodeia e no modo como reagimos a esses estímulos.

As realidades próximas e longínquas são o que são. As ideias que temos dessas realidades são de cada um de nós e é pela comunicação que são partilhadas pela generalidade dos seres humanos.

Entre as diversas pessoas ou comunidades ou gerações é o que comunicamos que estabelece o fundo dos referenciais culturais e sociais. A ciência não escapa a estas condicionantes.

A linguagem, nas suas diversas modalidades, o discurso, as histórias e os conteúdos, bem como os factores afectivos envolvidos, e, sobretudo, a força e o poder (a capacidade de dominar os outros, da mesma ou de espécies diferentes) ditam comportamentos e influenciam a psicologia dominante (a dominadora e a dominada). É como somos que vemos o real. E tendemos a formulá-lo de forma conveniente.

Por isso, a história da humanidade é essencialmente a história dos vencedores de cada comunidade humana, e pode ser (muito) antagónica em sociedades diferentes, com interesses não coincidentes.

As ciências, particularmente as ciências exactas e experimentais, deviam permitir-nos grandes aproximações à objectividade no sentido de que as mesmas causas, nas mesmas condições, produzem os mesmos efeitos ou de que a lógica e o cálculo funcionam imunes ao subjectivismo interesseiro, mesmo que nunca saibamos qual é a natureza íntima e última das coisas e dos fenómenos.

Foram as ciências que nos trouxeram aos imensos progressos que conseguimos.

Falta sabermos o que fazer com os seus extraordinários frutos, em sociedades em que cada ser humano seja beneficiário efectivo de todos os direitos básicos que já conseguimos formular numa carta.  

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 9 de julho de 2025

A Natureza e a Vida não cabem em manuais

Boramez: espécie suposta que quebrava
a fronteira entre o mundo animal e o
mundo vegetal

Observação, reflexão, análise e estudo, sempre. Não podemos abdicar da pesquisa, em doses crescentes, profundas e colaborativas. O contrário seria anular a condição humana. Adiante.

O início da leitura do livro «A Invenção da Biologia», de Jason Roberts, centrado nas figuras de Lineu e Buffon, dois vultos do estudo da Biologia, nascidos no mesmo ano (de 1707), desencadeou no meu espírito a necessidade de expor algo que sempre me acompanhou desde os tempos de juventude, às voltas com as Ciências da Natureza e, em particular, com a sistemática dos seres vivos. Subjugado pelo meu pouco conhecimento, foi (quase) calado, perante professores e colegas, que convivi com severas dúvidas perante os esforços de classificação de todos os seres vivos (todos!) e também dos minerais, na perspectiva de atingir sistematizações completas, definitivas e até algo estanques, assim uma espécie de conhecimento de tudo em todos os graus que, mais tarde ou mais cedo, se havia de alcançar.

Ora, na humildade das minhas possibilidades e capacidades, eu via contínuos e ausência de fronteiras, e até impossibilidade delas, onde a sapiência de canhenhos e cérebros doutos (me) parecia admitir o conhecimento pleno, a que múltiplas investigações nos conduziriam num tempo mais ou menos próximo/distante. Ou seja: via o saber como um abrir de portas face a cada dúvida, portas que, uma vez franqueadas, conduziam a novas questões e assim sucessivamente. De alguma forma, no meu espírito, o saber é qualquer coisa como a consciência clara de domínios envolventes de ignorância, tanto maiores e mais apelativos quanto mais se sabe (que se ignora).

Lineu procurava o «plano director para a organização de toda a vida», já Buffon acreditava que «a única forma de estudar a Natureza era num estado de incerteza permanente». Ambos foram trabalhadores incansáveis. E dessa forma deram um exemplo que não podemos deixar de seguir.

Só esse (caminho) pode ser o nosso sucesso.  

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 24 de junho de 2025

Uma reflexão de última hora (pelo Professor Galopim de Carvalho)

Reflexão belíssima e assombrosamente corajosa e lúcida, recebida do Professror Galopim, que aqui se publica, com profunda gratidão e e não menos carinho.

Tenho dias em que o espelho da casa de banho e, sobretudo, o corpo físico me dizem, sem rodeios, os anos que já vivi. Não tenho qualquer problema em falar sobre um fim que se aproxima. Sinto-o, serenamente, todos os dias, como areia a fugir por entre os dedos. Quero e procuro festejar a vida em felicidade e é neste sentimento que, antes que seja tarde, faço questão de deixar a todos os que amo esta reflexão com o sabor de uma despedida natural, racional, tranquila e, direi mesmo, sorridente.

Poder trabalhar e conviver fazem parte da felicidade que vivo, realmente. Felizmente, nada me impede de trabalhar e trabalhar, no meu caso, é escrever. Bem sentado, frente ao monitor, como já escrevi tantas vezes, não tenho idade, escrevo horas a fio, todos os dias (os reformados não têm Domingos nem feriados, nem férias) em blogues, jornais online e, em especial, no Facebok, para mais de 40 000 seguidores, na grande maioria, desconhecidos. Deles recebo centenas de comentários repletos de apreço, simpatia e afectos, que me enchem de felicidade e comedido orgulho, permitindo-me um conviver que, embora à distância, me encoraja a continuar. Comodamente instalado, aqui, frente ao monitor, vivo a despreocupação e a alegria de uma crónica de tempos idos, volto a ser o que fui nos anos de maior pujança da minha vida, mas mal me levanto da cadeira, os joelhos e as pernas trazem-me ao presente.

Entretanto, fui publicando livros, dois na Gradiva, quatro na extinta Editorial Notícias, vinte e seis na Âncora Editora, que tem, neste momento, mais dois prestes a sair, “Os Homens não Tapam as Orelhas”, em 2ª edição, com prefácio do General Pedro Pezarat Correia, e “Por Caminhos de Pedra Solta”, com prefácio de Helena Roseta. 

Tenho plena consciência, sem que isso me incomode, que estou a descer os últimos degraus de uma vida cheia de trabalho e de afectos. Mas continuo a escrever, tendo sempre no pensamento o monte de projectos que sei que não irei concluir e isso, sim, já me incomoda. E esta é razão da minha pressa, estado de alma que marca o ritmo do meu trabalho. Quero ver publicados dois originais em fase de revisão: “A Professora”, uma história de vida de uma companheira e amiga de há mais de 80 anos, com quem “fundi” a minha, vai para 68, e “Do Laboratório à Cozinha”, que reúne mais de uma centena de experiências culinárias, muitas delas já publicadas na minha página do Facebook.

Durante quarenta e quatro anos, primeiro como aluno, depois como docente e investigador nas Universidades de Lisboa e de Paris, no domínio das rochas sedimentares e dos seus minerais, o laboratório, com recursos à química e à física, foi uma constante na minha vida. 

Quando o limite de idade me arrumou, contra minha vontade, na “prateleira dos reformados e pensionistas”, toda a parafernália laboratorial que, por amor à arte, me entrara no coração, parece ter encontrado continuidade e conforto no espaço da cozinha. Gobelets, provetas e erlenmeyers viraram tachos, panelas e frigideiras; refogados, guisados e estufados tomaram o lugar de sulfatados, reduzidos e oxidados; átomos e iões foram substituídos por bagos de arroz, de ervilha e por feijões; a torneira com água fria e quente é a mesma, os queimadores de gás do fogão passaram a bicos de Bunsen e o forno fez as vezes da estufa. Quero com isto dizer que a cozinha é, por assim dizer, um outro percurso de prazer e, ao mesmo tempo, um escape.

Tenho em mãos o que se deverá intitular “Nós e as Pedras”, uma pesquisa no sentido de mostrar aos meus concidadãos que tudo, mas mesmo tudo, o que nos rodeia, incluindo nós próprios e toda a biodiversidade, tem origem nas pedras, no conceito antigo da palavra, que abrangia as rochas e os minerais. É, talvez, um sonho concluí-lo, mas o desejo de o dar como tal, dá sabor aos meus dias. Há ainda, no horizonte, dar cumprimento a uma incumbência, que consiste em passar a livro toda a documentação escrita e fotográfica existente sobre o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém-Torres Novas e a esperança de a poder cumprir é uma das razões da pressa a que aludi atrás. Finalmente, mais do que um sonho, antes uma deliciosa utopia: “E, assim, o tempo se transformou em palavras”. Acontece que não me seria difícil encontrar situações e pensamentos para concretizar esta ideia, mas…

Todavia, sempre disse, escrevi e mostrei que assim era, que “a utopia é a força que transforma o sonho em realidade".

Lisboa, dia de São João de 2025

A.M. Galopim de Carvalho

Afixado por: José Batista d'Ascenção

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Adaptação dos seres vivos marinhos às altas pressões da profundidade oceânica

No oceano, a 300 metros de profundidade, a pressão é mais de trinta vezes superior à da superfície, uns assustadores 31 kg/cm2. Mas, a profundidade média do oceano ronda os 3500 metros. Uma chumbada caindo para a profundidade levaria talvez duas horas no movimento de descida dessa distância. Noutras zonas desceria muito mais: na fossa das Marianas, no Pacífico, a mesma chumbada pousaria a 10 920 metros abaixo da superfície. Aí, a pressão atinge valores mil vezes superiores à pressão atmosférica.

Porque é que o corpo dos animais que habitam nas profundezas marinhas, alguns deles moles, flácidos ou gelatinosos, não colapsa sujeito às pressões colossais desses habitats? É o caso invulgar do «peixe-diabo-negro», que se apresenta praticamente sem escamas e é bastante gelatinoso (ver figura).

Na realidade, animais grandes e pequenos movimentam-se entre zonas verticais muito diferentes – a maior migração do mundo ascende, todas as noites, do oceano profundo até à superfície -, sujeitando os seus corpos a enormes variações de pressão. A baleia-azul, por exemplo, mergulha até profundidades com pressões tão elevadas, que os seus pulmões, temporariamente, colapsam. Adaptações extraordinárias permitem a esses animais viver sem qualquer dano. As explicações para tal podem não parecer intuitivas. Os motivos residem na constituição particular dos tecidos vivos e nas características e propriedades da matéria.

As moléculas de água constituintes do corpo dos seres marinhos têm a mesma compressibilidade da água oceânica, o que permite as suas funções biológicas. Os animais marinhos não apresentam cavidades de ar (pulmões, bexiga natatória…) susceptíveis de colapsar. Os corpos com tecidos moles ou gelatinosos têm densidades próximas da da água e as pressões internas e externas são igualizadas, permitindo a fisiologia. E certas substâncias ajudam a estabilizar a estrutura das proteínas, as quais desempenham as suas funções metabólicas, pelo que a vida é perfeitamente possível e adaptável, em toda a coluna de água oceânica.

Dados essencialmente colhidos em: «Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 17 de junho de 2025

A falta que as árvores fazem

Morre-se de calor, e ainda o S. João não chegou. As cidades, desenhadas para a mobilidade automóvel, asfaltadas, empedradas, cimentadas, sem espaço para arvoredo [de que muitas pessoas (supõem que) não gostam, porque lhes faz impressão a queda das folhas no Outono e são alérgicas a pólenes, na Primavera], com edificado compacto, de paredes, superfícies vidradas e telhados à testa do sol, tornam-se infernos escaldantes à hora do meio-dia, ao longo das tardes e pela noite dentro, quando a radiação emana do chão e das estruturas, de volta à atmosfera: e então esturricamos, quais “nacos na pedra”, e “estufamos”, de dia e de noite, ansiando pelo fresco, que só se consegue com o ar condicionado, que faz aumentar o gasto de energia e, coisa curiosa!, contribui para o aquecimento ambiental (o calor é retirado de compartimentos fechados e empurrado para o exterior, mas à custa da energia gasta no processo, que se converte em… mais calor!).

E assim vamos vivendo, colocando-nos cada vez mais no “assador”.

Ora, parte do remédio está em mais árvores, nas florestas, nos jardins e nos arruamentos, mais perto de nós. Ou connosco mais perto das árvores.

E não apenas pela regulação da temperatura.

José Batista d’Ascenção

sábado, 14 de junho de 2025

O azul das minhas hortênsias

É azul azul. Intenso, como eu gosto. Decora a entrada da minha casa, aquele azul. É um azul de boas-vindas, e um azul de «bom dia», quando, de manhã, abrimos a porta. Agora, aqui, na imagem ao lado, é também um azul de saudação a quantos abrirem este texto (com palavras a azul).

A meus olhos é ainda um azul de céu e de mar, de descanso, de serenidade, de beleza e de paz.

Azul e verde. Azul das pétalas e verde das folhas ou vice-versa. Duas cores que nem sempre combinam bem na roupagem das pessoas, mas que casam bem na Natureza, porque a Natureza “sabe” ser bela e sábia na composição das formas, dos sons e das cores.

A cor das flores das hortênsias, também chamadas hidrângeas (porque gostam de água – veja-se como crescem nas ilhas dos Açores), varia com a constituição do solo. Mas a cor que apresentam não depende apenas desse factor. Estas, da minha porta, que eu seleccionei propositadamente de entre outras de cores variadas que cresciam no mesmo local, já eram assim azulinhas, como eu gosto.

Aos meus escassos leitores ofereço a beleza deste azul.

Com um abraço.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 10 de junho de 2025

A (mais) bonita lição do 10 de Junho – por Lídia Jorge

Acabei de ver e ouvir. A nossa actual mais merecedora de um prémio Nobel disse o que devia ter dito, da forma mais autêntica e bela e oportuna, nesta data. Em minha opinião, naturalmente. O que eu gostava que todas as orelhas portuguesas a tivessem escutado, particularmente as dos que estão (ainda) presentes na cerimónia, com destaque para quantos lhe bateram palmas.

Um discurso que também me satisfez foi o do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pese a imprecisão de chamar «capitão de Abril» ao digno cidadão ilustre António Ramalho Eanes. Uma imprecisão intencional, que o homenageado não deixa de merecer.

Agradeço a Lídia Jorge e ao (nosso omnipresente, mas de profundo saber e muito bons e curtos discursos) Presidente da República (de quem começo a sentir saudades).

Foi compensadora a minha espera pelas suas intervenções.

José Batista d’Ascenção

sábado, 7 de junho de 2025

A curiosidade, a agudeza e a inteligência dos bichos


O que se vê na imagem foram laranjas. E agora são cascas delas. Ou, mais especificamente, meias cascas de cinco laranjas. Correspondem aos últimos frutos de uma árvore que esteve carregadinha até fins de Abril. Deliciosas como nunca comi outras, estas laranjas. Em minha opinião e na de quantos vieram apanhá-las para não se perderem apodrecidas no chão.

Não se pense que foram roedores os bichinhos que, tendo aberto as laranjas de lado, assim como que retirando uma «tampa» circular, acederam artisticamente ao seu conteúdo, sumarento e agradavelmente doce. Foram pássaros.

Só podem ter sido, porque estes «fantasmas» de laranjas estavam na árvore, de porte razoável, nalguns casos a mais de três metros de altura do solo.

Como esculpiram as aves as cavidades nos frutos, tendo deixado só a casca, gostava eu de ter visto. Em duas delas ainda resta qualquer coisa, que mais nenhum pássaro vai aproveitar, porque lhes roubei essa possibilidade para fazer notícia do caso.

A inteligência, enquanto capacidade evolutiva de resolver problemas, não é exclusiva dos humanos, como bem sabemos. Os outros animais fazem-no igualmente, na luta pela sobrevivência, mas, quem sabe, talvez também para se deliciarem e gozarem prazeres que as oportunidades da vida consentem.

E nas plantas poderá, de modo idêntico, ser assim. Elas lutam umas com as outras, no solo e no ar, assim como podem servir-se mutuamente, se há ganho nisso. E têm meios de comunicar, sejam elas da mesma espécie ou de espécies diferentes. Uma comunicação química de que pouco sabemos.

A nossa vantagem, enquanto humanos, é que podemos reflectir sobre isso.

Lições não faltam.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Bondade de gente antiga

Ao início da tarde, no caminho para a escola, passei pela padaria «Primorosa» (no Largo da Senhora-a-Branca, em Braga), para adquirir uns gramas de fermento (comercial) de padeiro, que é uma pasta que contém um fungo unicelular que usamos para levedar a massa do pão – a levedura Saccharomyces cerevisiae (a mesma que fermenta o mosto de uvas, transformando-o em vinho, e os açúcares do mosto proveniente do malte para produzir cerveja).

Entrei na loja, que estava completamente vazia, àquela hora, e esperei uns segundos até um senhor, já com a sua idade, regressar de salas contíguas. Fiz o pedido, dizendo que era para usar na escola [em experiências de fermentação, precisamente, com o fim de observar a libertação de CO2 e a formação de álcool etílico].

O senhor pesou-me uma quantidade, embrulhou a pasta em papel e colocou-a num saquinho. Entretanto, eu puxara do porta-moedas e perguntei quanto era. O meu servidor disse que não era nada, abrindo-se num sorriso doce e amigo, antes ainda de eu poder dizer-lhe obrigado.

Obrigado, que disse e repeti. Sorri também, agradecido, e saí, deveras bem-disposto.

Braga tem (ainda) muitas pessoas assim: servem bem o que servem e servem-nos a bondade que têm. Isto direi amanhã, nas aulas, aos meus alunos.

Para que também eles se sintam obrigados àquele amigo.

José Batista d’Ascenção