quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Manhã fresca

Hoje, a manhã, embora com cheiro a fumo (mau sinal…) esteve fresca, do fresco matinal das minhas recordações de outros Agostos de há décadas, neste interior que era de pinhal (e agora é de eucaliptos).

Cheguei cedinho ao centro da vila (de Oleiros) para estacionar o carro facilmente e ser o primeiro (ou dos primeiros) a ser atendido na repartição onde precisava ir.

Felizmente, a esplanada da praça central abre cedo, pelo que me sentei com a gulosa expectativa de saborear um bom café e gozar a fresca das árvores densas e frondosas. Logo ali, o repuxo do lago proporcionava mais um motivo de confortável relaxe.

Faltavam pássaros, para além de um ou outro pardalito de voejos murchos.

O café não deleitou (saudades do do Senhor Miguel, de Braga), mas o compasso de espera foi agradavelmente repousante, o justo tempo de matar o vício, preguiçar um bocadinho e fazer este registo. Boa maneira de começar o dia, que há-de cumprir-se de forma compensadora.

Meu país bonito.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 12 de agosto de 2025

À beira d’água, na Ribeira da Sertã


O ar é um bafo. Esturrica-se, mesmo à sombra dos amieiros, ainda que com os pés na água. Por causa das minhas orelhas, desgostante fragilidade pessoal, não vou ao banho. Fico-me na esplanada ou nos bancos da zona de relva fresca e passo os olhos por algumas páginas de interesse. Mas não, a leitura exige (de mim) o recolhimento necessário.

Neste meio não me abstraio do gralhar musical das crianças, que são muitas e é bonito vê-las. Mães extremosas e pais dedicados acompanham-nas com desvelo.

Gosto de pensar que tanto afecto há-de dar adultos melhores. O mundo bem precisa, que o ar dos tempos afigura-se-me plúmbeo e tóxico.

Se assim não for, mal será.

E os meus netos, e todos os netos, de todos os avós, têm todo o direito ao optimismo e ao sonho, porque pelo sonho é que vamos.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Casa com osgas

Agosto. Sol. Calor. Temperaturas altas a todas as horas do dia e da noite.

Os incêndios atormentam (mais) a Norte, mas a Beira Baixa não entrou em combustão real, por enquanto, embora o chão, à torreira do sol, escalde.

Na casinha que era dos meus pais, nas paredes exteriores viradas a poente, ao crepúsculo vespertino, são agora comuns as silenciosas osgas, ora paradas ora em movimentos bruscos na caçada aos insectos.

Tentei explicar que se trata de bichos simpáticos, inofensivos e muito úteis. Não fossem elas e era ainda preciso ter mais difusores anti-melgas nas tomadas eléctricas.

Quando eu era menino, jovem e já pai de filhos só as conhecia no Algarve. Admito que tenham migrado para Norte, à medida que as temperaturas médias foram subindo até aos limites do suportável, como agora acontece. Por elas, são bem-vindas.

Igualmente benfazejas são as andorinhas, que volteiam nos ares em certos dias, devorando miríades de mosquitos e afins.

Desertas em tempos comuns, estas terras animam-se por estas alturas com o regresso de emigrantes – sim nós somos um país de emigrantes! – e com os que retornam às origens provindos dessa aldeia maior de Portugal, que é Lisboa e arredores.

É bonito Portugal. Pena o indigenato governativo e algumas más frequências. 

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 21 de julho de 2025

O mundo e o poder da ciência

A ciência salvará o mundo?

O progresso da ciência e da técnica, sobretudo nos últimos três séculos, operou modificações sociais e ambientais a um ritmo extraordinário. A superfície do planeta, os rios, as montanhas, os desertos, as extensões geladas, as florestas, as populações animais, a atmosfera, os oceanos e as suas formas vivas têm sido alvo directo e indirecto da acção humana, abarrotando de resíduos materiais e químicos perniciosos que se dispersam no ar, nos solos e nas águas.

Apesar disso, uma fracção da humanidade, ainda que minoritária, nunca viveu tão bem como nos anos mais recentes.

Se formos optimistas, podemos pensar que as perturbações que a humanidade desencadeia sobre o ambiente são possíveis de resolver, com recurso à reflexão, às necessárias mudanças de comportamento e agindo, naturalmente, por meio da ciência. Talvez.

Ou o mau uso da ciência destruirá o mundo?

O tamanho da população humana, o paradigma do consumismo, as produções industriais e os tóxicos que alastram por todos os locais põem em causa a biosfera e as possibilidades de sobrevivência das espécies biológicas mais complexas ou mais sensíveis e, por essas razões, de mais difícil adaptação à variação radical dos habitats e das suas condições.

Por outro lado, a sede de poder, o egoísmo e o materialismo, tão característico do ser humano, individualmente ou em sociedade, tendem a conduzi-lo para lutas constantes, no espaço e ao longo das gerações, transformando as guerras e os dispositivos bélicos em factores que, hoje, são capazes de, rapidamente, eliminar comunidades inteiras de imensas regiões ou mesmo de toda a Terra.

Um equilíbrio de terror pode evitar que aconteça, mas não é seguro nem agradável que seja assim.

Sendo certo que a evolução da humanidade, ou o seu fim, como o de tantas espécies biológicas, pode também ser determinado por outros elementos não dependentes da atividade científica do Homo sapiens. Foi o que aconteceu há certa de 65 milhões de anos, uma extinção em massa que dizimou grande parte da vida na Terra.    

José Batista d’Ascenção

domingo, 20 de julho de 2025

«Physarum polycephalum» – exemplo de um ser vivo de difícil classificação

É um bolor limoso, comum em troncos apodrecidos de florestas europeias e norte-americanas.

Desafia as bases do pensamento lineano. Não é um fungo nem um animal nem uma planta.

Tem um sistema imunitário que funciona no meio externo em vez de internamente. Segrega uma substância antiviral muito potente, capaz de eliminar a 100% o vírus do mosaico do tabaco, que afecta a planta do tabaco, o tomate, o pimento e o pepino. Consegue hibernar durante anos a fio. É, de algum modo, um organismo unicelular, mas não é um micróbio - o Guiness Book of World Records regista-o como a maior célula do planeta. Se for dividido, os segmentos podem funcionar perfeitamente de forma independente. Podem também fundir-se homogeneamente em diferentes espécimes, colhidos em locais diferentes. Pode deslocar-se à velocidade de 4 cm por hora. Oculta uma vida sexual extraordinariamente complexa. Em vez de dois géneros, macho e fêmea, o Physarum polycephalum tem 720 formas distintas de pares reprodutores – uma profusão de variações em matéria de sexualidade.

O Physarum polycephalum é capaz de aprender: para encontrar fontes de alimento dissemina-se segundo um padrão simultaneamente crescente e autocorrector, ocupando a quantidade máxima de território com um mínimo de recursos. Por isso, consegue encontrar o caminho mais rápido para fora de um labirinto ou os trajectos mais curtos entre locais diferentes.

Sem sistema nervoso central é capaz de recordar. De algum modo consegue reter o que aprendeu. Se for colocado no mesmo labirinto com um intervalo de tempo de semanas, reconhece o labirinto e recria o anterior itinerário de fuga. Se for um pedacinho do organismo fará o mesmo.

Classificado e identificado em 1822, foi ignorado até 1970. Não compreendemos a sua inteligência, mas tentamos colaborar com ele. Recentemente, começou a ser usado para explorar o cosmos…

in: «A Invenção da Biologia». Jason Roberts. Ed. Temas e Debates. 1ª edição. Lisboa. 2025. 410-411 p.

José Batista d’Ascenção

sábado, 19 de julho de 2025

A Baleia-azul não é o maior ser vivo da Terra

Terminada a leitura do maravilhoso livro «A Invenção da Biologia», de Jason Roberts, ocorre-me registar alguns factos contrários à percepção comum, como seja o tamanho descomunal de alguns seres vivos.

«É o caso do choupo, conhecido por Pando, do centro de Utah [estado da região oeste dos EUA], que é tão grande que ocupa 44 hectares e pesa cerca de seis milhões de quilogramas. Em 1976, investigadores da Universidade do Colorado descobriram que o que parecia ser uma floresta monoespecífica de choupos eram, na realidade, 40 mil clones da mesma árvore, interligados pelas raízes (os clones não se propagam através de sementes). Pando é verdadeiramente um organismo único. Quando uma árvore começa a morrer reconstitui-se enviando sinais pelas raízes e um novo clone emerge. Este ser existe desde pelo menos desde a última idade do gelo. A acção humana pode ter interrompido a sua reconstituição e conduzir a um lento declínio e à eventual morte.» [p. 400-401].

«Em 2015, descobriu-se que um único espécime do fungo armilária-escura (Armillaria ostoyoe) se estende por cerca de 965 hectares na Malheur National Forest do Oregon.» [p. 401].

Mais recentemente, «em 2022, os biólogos estabeleceram que um povoamento subaquático de ervas marinha australianas (Posidonia australis) germinou de uma única semente, há cerca de 4500 anos e que hoje se estende por mais de 19 mil hectares. Este povoamento vegetal deverá continuar a desenvolver-se e a crescer, a menos que seja perturbado pelos humanos.» [p. 401].

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Trevo de “quatro folhas”


Chamam-se trevos de quatro folhas aqueles que em vez de três folíolos por folha [daí o nome de trevo, palavra que deriva do termo latino trifolium, com o significado de «três folhas»] apresentam quatro. Nos campos, estas formas selvagens com quatro folíolos eram raras, mas, actualmente, porque popularmente se considerava um sinal de boa sorte encontrá-las, passou-se a obtê-las em quantidade por métodos diversos, e a envasá-las para venda.

O exemplar da foto é apenas uma variedade cujos bolbos plantei no meu quintal. A reprodução por bolbos é muito fácil e assegura a manutenção das características, dado tratar-se de um método de reprodução assexuada, formadora de clones.

Os órgãos sexuais (das plantas com flor) são as flores, mas a reprodução sexuada produz variabilidade, pelo que os descendentes podem variar entre si e em relação às plantas progenitoras.

Os trevos são plantas que possuem nódulos nas suas raízes que albergam bactérias fixadoras de nitrogénio gasoso (N2), tradicionalmente designado azoto. Estas bactérias, que infectam os nódulos das raízes das plantas leguminosas, fazem delas o chamado «adubo verde», porquanto o nitrogénio fixado é convertido em compostos azotados necessários à nutrição das plantas. Em compensação, as plantas fornecem às bactérias alimento açucarado que fabricam nas folhas, por acção do sol, no processo da fotossíntese. Esses compostos azotados servem à planta hospedeira, mas também enriquecem o solo, beneficiando outras plantas.

Os trevos são plantas forrageiras de bom valor nutricional para animais.

José Batista d’Ascenção

domingo, 13 de julho de 2025

A realidade do mundo difere do mundo que vemos

O que vemos vê-mo-lo com os nossos olhos. E as imagens do que vemos são construídas pelo nosso cérebro. Os daltónicos vêem as cores diferentes da generalidade das pessoas. O seu mundo de cores é diferente. As vacas não vêm como nós o verde das ervas que comem. Sabêmo-lo pelo estudo das células da retina. E não é contra o vermelho das capas que os toiros investem nas arenas. Os insectos são muito sensíveis às cores e alguns, como as abelhas, vêem radiação que os humanos não vêem, como seja a radiação ultravioleta. As informações que os nossos órgãos dos sentidos (ou os dos outros seres vivos) fazem chegar aos centros nervosos são aí transformadas nas sensações com que percebemos o que nos rodeia e no modo como reagimos a esses estímulos.

As realidades próximas e longínquas são o que são. As ideias que temos dessas realidades são de cada um de nós e é pela comunicação que são partilhadas pela generalidade dos seres humanos.

Entre as diversas pessoas ou comunidades ou gerações é o que comunicamos que estabelece o fundo dos referenciais culturais e sociais. A ciência não escapa a estas condicionantes.

A linguagem, nas suas diversas modalidades, o discurso, as histórias e os conteúdos, bem como os factores afectivos envolvidos, e, sobretudo, a força e o poder (a capacidade de dominar os outros, da mesma ou de espécies diferentes) ditam comportamentos e influenciam a psicologia dominante (a dominadora e a dominada). É como somos que vemos o real. E tendemos a formulá-lo de forma conveniente.

Por isso, a história da humanidade é essencialmente a história dos vencedores de cada comunidade humana, e pode ser (muito) antagónica em sociedades diferentes, com interesses não coincidentes.

As ciências, particularmente as ciências exactas e experimentais, deviam permitir-nos grandes aproximações à objectividade no sentido de que as mesmas causas, nas mesmas condições, produzem os mesmos efeitos ou de que a lógica e o cálculo funcionam imunes ao subjectivismo interesseiro, mesmo que nunca saibamos qual é a natureza íntima e última das coisas e dos fenómenos.

Foram as ciências que nos trouxeram aos imensos progressos que conseguimos.

Falta sabermos o que fazer com os seus extraordinários frutos, em sociedades em que cada ser humano seja beneficiário efectivo de todos os direitos básicos que já conseguimos formular numa carta.  

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 9 de julho de 2025

A Natureza e a Vida não cabem em manuais

Boramez: espécie suposta que quebrava
a fronteira entre o mundo animal e o
mundo vegetal

Observação, reflexão, análise e estudo, sempre. Não podemos abdicar da pesquisa, em doses crescentes, profundas e colaborativas. O contrário seria anular a condição humana. Adiante.

O início da leitura do livro «A Invenção da Biologia», de Jason Roberts, centrado nas figuras de Lineu e Buffon, dois vultos do estudo da Biologia, nascidos no mesmo ano (de 1707), desencadeou no meu espírito a necessidade de expor algo que sempre me acompanhou desde os tempos de juventude, às voltas com as Ciências da Natureza e, em particular, com a sistemática dos seres vivos. Subjugado pelo meu pouco conhecimento, foi (quase) calado, perante professores e colegas, que convivi com severas dúvidas perante os esforços de classificação de todos os seres vivos (todos!) e também dos minerais, na perspectiva de atingir sistematizações completas, definitivas e até algo estanques, assim uma espécie de conhecimento de tudo em todos os graus que, mais tarde ou mais cedo, se havia de alcançar.

Ora, na humildade das minhas possibilidades e capacidades, eu via contínuos e ausência de fronteiras, e até impossibilidade delas, onde a sapiência de canhenhos e cérebros doutos (me) parecia admitir o conhecimento pleno, a que múltiplas investigações nos conduziriam num tempo mais ou menos próximo/distante. Ou seja: via o saber como um abrir de portas face a cada dúvida, portas que, uma vez franqueadas, conduziam a novas questões e assim sucessivamente. De alguma forma, no meu espírito, o saber é qualquer coisa como a consciência clara de domínios envolventes de ignorância, tanto maiores e mais apelativos quanto mais se sabe (que se ignora).

Lineu procurava o «plano director para a organização de toda a vida», já Buffon acreditava que «a única forma de estudar a Natureza era num estado de incerteza permanente». Ambos foram trabalhadores incansáveis. E dessa forma deram um exemplo que não podemos deixar de seguir.

Só esse (caminho) pode ser o nosso sucesso.  

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 24 de junho de 2025

Uma reflexão de última hora (pelo Professor Galopim de Carvalho)

Reflexão belíssima e assombrosamente corajosa e lúcida, recebida do Professror Galopim, que aqui se publica, com profunda gratidão e e não menos carinho.

Tenho dias em que o espelho da casa de banho e, sobretudo, o corpo físico me dizem, sem rodeios, os anos que já vivi. Não tenho qualquer problema em falar sobre um fim que se aproxima. Sinto-o, serenamente, todos os dias, como areia a fugir por entre os dedos. Quero e procuro festejar a vida em felicidade e é neste sentimento que, antes que seja tarde, faço questão de deixar a todos os que amo esta reflexão com o sabor de uma despedida natural, racional, tranquila e, direi mesmo, sorridente.

Poder trabalhar e conviver fazem parte da felicidade que vivo, realmente. Felizmente, nada me impede de trabalhar e trabalhar, no meu caso, é escrever. Bem sentado, frente ao monitor, como já escrevi tantas vezes, não tenho idade, escrevo horas a fio, todos os dias (os reformados não têm Domingos nem feriados, nem férias) em blogues, jornais online e, em especial, no Facebok, para mais de 40 000 seguidores, na grande maioria, desconhecidos. Deles recebo centenas de comentários repletos de apreço, simpatia e afectos, que me enchem de felicidade e comedido orgulho, permitindo-me um conviver que, embora à distância, me encoraja a continuar. Comodamente instalado, aqui, frente ao monitor, vivo a despreocupação e a alegria de uma crónica de tempos idos, volto a ser o que fui nos anos de maior pujança da minha vida, mas mal me levanto da cadeira, os joelhos e as pernas trazem-me ao presente.

Entretanto, fui publicando livros, dois na Gradiva, quatro na extinta Editorial Notícias, vinte e seis na Âncora Editora, que tem, neste momento, mais dois prestes a sair, “Os Homens não Tapam as Orelhas”, em 2ª edição, com prefácio do General Pedro Pezarat Correia, e “Por Caminhos de Pedra Solta”, com prefácio de Helena Roseta. 

Tenho plena consciência, sem que isso me incomode, que estou a descer os últimos degraus de uma vida cheia de trabalho e de afectos. Mas continuo a escrever, tendo sempre no pensamento o monte de projectos que sei que não irei concluir e isso, sim, já me incomoda. E esta é razão da minha pressa, estado de alma que marca o ritmo do meu trabalho. Quero ver publicados dois originais em fase de revisão: “A Professora”, uma história de vida de uma companheira e amiga de há mais de 80 anos, com quem “fundi” a minha, vai para 68, e “Do Laboratório à Cozinha”, que reúne mais de uma centena de experiências culinárias, muitas delas já publicadas na minha página do Facebook.

Durante quarenta e quatro anos, primeiro como aluno, depois como docente e investigador nas Universidades de Lisboa e de Paris, no domínio das rochas sedimentares e dos seus minerais, o laboratório, com recursos à química e à física, foi uma constante na minha vida. 

Quando o limite de idade me arrumou, contra minha vontade, na “prateleira dos reformados e pensionistas”, toda a parafernália laboratorial que, por amor à arte, me entrara no coração, parece ter encontrado continuidade e conforto no espaço da cozinha. Gobelets, provetas e erlenmeyers viraram tachos, panelas e frigideiras; refogados, guisados e estufados tomaram o lugar de sulfatados, reduzidos e oxidados; átomos e iões foram substituídos por bagos de arroz, de ervilha e por feijões; a torneira com água fria e quente é a mesma, os queimadores de gás do fogão passaram a bicos de Bunsen e o forno fez as vezes da estufa. Quero com isto dizer que a cozinha é, por assim dizer, um outro percurso de prazer e, ao mesmo tempo, um escape.

Tenho em mãos o que se deverá intitular “Nós e as Pedras”, uma pesquisa no sentido de mostrar aos meus concidadãos que tudo, mas mesmo tudo, o que nos rodeia, incluindo nós próprios e toda a biodiversidade, tem origem nas pedras, no conceito antigo da palavra, que abrangia as rochas e os minerais. É, talvez, um sonho concluí-lo, mas o desejo de o dar como tal, dá sabor aos meus dias. Há ainda, no horizonte, dar cumprimento a uma incumbência, que consiste em passar a livro toda a documentação escrita e fotográfica existente sobre o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém-Torres Novas e a esperança de a poder cumprir é uma das razões da pressa a que aludi atrás. Finalmente, mais do que um sonho, antes uma deliciosa utopia: “E, assim, o tempo se transformou em palavras”. Acontece que não me seria difícil encontrar situações e pensamentos para concretizar esta ideia, mas…

Todavia, sempre disse, escrevi e mostrei que assim era, que “a utopia é a força que transforma o sonho em realidade".

Lisboa, dia de São João de 2025

A.M. Galopim de Carvalho

Afixado por: José Batista d'Ascenção

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Adaptação dos seres vivos marinhos às altas pressões da profundidade oceânica

No oceano, a 300 metros de profundidade, a pressão é mais de trinta vezes superior à da superfície, uns assustadores 31 kg/cm2. Mas, a profundidade média do oceano ronda os 3500 metros. Uma chumbada caindo para a profundidade levaria talvez duas horas no movimento de descida dessa distância. Noutras zonas desceria muito mais: na fossa das Marianas, no Pacífico, a mesma chumbada pousaria a 10 920 metros abaixo da superfície. Aí, a pressão atinge valores mil vezes superiores à pressão atmosférica.

Porque é que o corpo dos animais que habitam nas profundezas marinhas, alguns deles moles, flácidos ou gelatinosos, não colapsa sujeito às pressões colossais desses habitats? É o caso invulgar do «peixe-diabo-negro», que se apresenta praticamente sem escamas e é bastante gelatinoso (ver figura).

Na realidade, animais grandes e pequenos movimentam-se entre zonas verticais muito diferentes – a maior migração do mundo ascende, todas as noites, do oceano profundo até à superfície -, sujeitando os seus corpos a enormes variações de pressão. A baleia-azul, por exemplo, mergulha até profundidades com pressões tão elevadas, que os seus pulmões, temporariamente, colapsam. Adaptações extraordinárias permitem a esses animais viver sem qualquer dano. As explicações para tal podem não parecer intuitivas. Os motivos residem na constituição particular dos tecidos vivos e nas características e propriedades da matéria.

As moléculas de água constituintes do corpo dos seres marinhos têm a mesma compressibilidade da água oceânica, o que permite as suas funções biológicas. Os animais marinhos não apresentam cavidades de ar (pulmões, bexiga natatória…) susceptíveis de colapsar. Os corpos com tecidos moles ou gelatinosos têm densidades próximas da da água e as pressões internas e externas são igualizadas, permitindo a fisiologia. E certas substâncias ajudam a estabilizar a estrutura das proteínas, as quais desempenham as suas funções metabólicas, pelo que a vida é perfeitamente possível e adaptável, em toda a coluna de água oceânica.

Dados essencialmente colhidos em: «Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 17 de junho de 2025

A falta que as árvores fazem

Morre-se de calor, e ainda o S. João não chegou. As cidades, desenhadas para a mobilidade automóvel, asfaltadas, empedradas, cimentadas, sem espaço para arvoredo [de que muitas pessoas (supõem que) não gostam, porque lhes faz impressão a queda das folhas no Outono e são alérgicas a pólenes, na Primavera], com edificado compacto, de paredes, superfícies vidradas e telhados à testa do sol, tornam-se infernos escaldantes à hora do meio-dia, ao longo das tardes e pela noite dentro, quando a radiação emana do chão e das estruturas, de volta à atmosfera: e então esturricamos, quais “nacos na pedra”, e “estufamos”, de dia e de noite, ansiando pelo fresco, que só se consegue com o ar condicionado, que faz aumentar o gasto de energia e, coisa curiosa!, contribui para o aquecimento ambiental (o calor é retirado de compartimentos fechados e empurrado para o exterior, mas à custa da energia gasta no processo, que se converte em… mais calor!).

E assim vamos vivendo, colocando-nos cada vez mais no “assador”.

Ora, parte do remédio está em mais árvores, nas florestas, nos jardins e nos arruamentos, mais perto de nós. Ou connosco mais perto das árvores.

E não apenas pela regulação da temperatura.

José Batista d’Ascenção

sábado, 14 de junho de 2025

O azul das minhas hortênsias

É azul azul. Intenso, como eu gosto. Decora a entrada da minha casa, aquele azul. É um azul de boas-vindas, e um azul de «bom dia», quando, de manhã, abrimos a porta. Agora, aqui, na imagem ao lado, é também um azul de saudação a quantos abrirem este texto (com palavras a azul).

A meus olhos é ainda um azul de céu e de mar, de descanso, de serenidade, de beleza e de paz.

Azul e verde. Azul das pétalas e verde das folhas ou vice-versa. Duas cores que nem sempre combinam bem na roupagem das pessoas, mas que casam bem na Natureza, porque a Natureza “sabe” ser bela e sábia na composição das formas, dos sons e das cores.

A cor das flores das hortênsias, também chamadas hidrângeas (porque gostam de água – veja-se como crescem nas ilhas dos Açores), varia com a constituição do solo. Mas a cor que apresentam não depende apenas desse factor. Estas, da minha porta, que eu seleccionei propositadamente de entre outras de cores variadas que cresciam no mesmo local, já eram assim azulinhas, como eu gosto.

Aos meus escassos leitores ofereço a beleza deste azul.

Com um abraço.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 10 de junho de 2025

A (mais) bonita lição do 10 de Junho – por Lídia Jorge

Acabei de ver e ouvir. A nossa actual mais merecedora de um prémio Nobel disse o que devia ter dito, da forma mais autêntica e bela e oportuna, nesta data. Em minha opinião, naturalmente. O que eu gostava que todas as orelhas portuguesas a tivessem escutado, particularmente as dos que estão (ainda) presentes na cerimónia, com destaque para quantos lhe bateram palmas.

Um discurso que também me satisfez foi o do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pese a imprecisão de chamar «capitão de Abril» ao digno cidadão ilustre António Ramalho Eanes. Uma imprecisão intencional, que o homenageado não deixa de merecer.

Agradeço a Lídia Jorge e ao (nosso omnipresente, mas de profundo saber e muito bons e curtos discursos) Presidente da República (de quem começo a sentir saudades).

Foi compensadora a minha espera pelas suas intervenções.

José Batista d’Ascenção

sábado, 7 de junho de 2025

A curiosidade, a agudeza e a inteligência dos bichos


O que se vê na imagem foram laranjas. E agora são cascas delas. Ou, mais especificamente, meias cascas de cinco laranjas. Correspondem aos últimos frutos de uma árvore que esteve carregadinha até fins de Abril. Deliciosas como nunca comi outras, estas laranjas. Em minha opinião e na de quantos vieram apanhá-las para não se perderem apodrecidas no chão.

Não se pense que foram roedores os bichinhos que, tendo aberto as laranjas de lado, assim como que retirando uma «tampa» circular, acederam artisticamente ao seu conteúdo, sumarento e agradavelmente doce. Foram pássaros.

Só podem ter sido, porque estes «fantasmas» de laranjas estavam na árvore, de porte razoável, nalguns casos a mais de três metros de altura do solo.

Como esculpiram as aves as cavidades nos frutos, tendo deixado só a casca, gostava eu de ter visto. Em duas delas ainda resta qualquer coisa, que mais nenhum pássaro vai aproveitar, porque lhes roubei essa possibilidade para fazer notícia do caso.

A inteligência, enquanto capacidade evolutiva de resolver problemas, não é exclusiva dos humanos, como bem sabemos. Os outros animais fazem-no igualmente, na luta pela sobrevivência, mas, quem sabe, talvez também para se deliciarem e gozarem prazeres que as oportunidades da vida consentem.

E nas plantas poderá, de modo idêntico, ser assim. Elas lutam umas com as outras, no solo e no ar, assim como podem servir-se mutuamente, se há ganho nisso. E têm meios de comunicar, sejam elas da mesma espécie ou de espécies diferentes. Uma comunicação química de que pouco sabemos.

A nossa vantagem, enquanto humanos, é que podemos reflectir sobre isso.

Lições não faltam.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Bondade de gente antiga

Ao início da tarde, no caminho para a escola, passei pela padaria «Primorosa» (no Largo da Senhora-a-Branca, em Braga), para adquirir uns gramas de fermento (comercial) de padeiro, que é uma pasta que contém um fungo unicelular que usamos para levedar a massa do pão – a levedura Saccharomyces cerevisiae (a mesma que fermenta o mosto de uvas, transformando-o em vinho, e os açúcares do mosto proveniente do malte para produzir cerveja).

Entrei na loja, que estava completamente vazia, àquela hora, e esperei uns segundos até um senhor, já com a sua idade, regressar de salas contíguas. Fiz o pedido, dizendo que era para usar na escola [em experiências de fermentação, precisamente, com o fim de observar a libertação de CO2 e a formação de álcool etílico].

O senhor pesou-me uma quantidade, embrulhou a pasta em papel e colocou-a num saquinho. Entretanto, eu puxara do porta-moedas e perguntei quanto era. O meu servidor disse que não era nada, abrindo-se num sorriso doce e amigo, antes ainda de eu poder dizer-lhe obrigado.

Obrigado, que disse e repeti. Sorri também, agradecido, e saí, deveras bem-disposto.

Braga tem (ainda) muitas pessoas assim: servem bem o que servem e servem-nos a bondade que têm. Isto direi amanhã, nas aulas, aos meus alunos.

Para que também eles se sintam obrigados àquele amigo.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Emigração e sentimentos sobre emigração

Emigrantes de culturas “opostas” repelem-se, e da mesma cultura repelem-se também, ou assim (me) parece.

Ultima-se a contagem dos votos dos emigrantes portugueses em países estrangeiros, pelo «círculo» da Europa e pelo «círculo» de fora da Europa. As preferências dos eleitores são pelo partido que se opõe ferozmente à imigração para o nosso país.

Há em mim dificuldade(s) de compreensão. Penso em tantos emigrantes portugueses, alguns da minha família, na miséria em que viviam e nos sacrifícios que passaram nos países que os acolheram. E lembro-me de quando Paris era a segunda cidade com mais portugueses.

Ei-los que partiam - novos e velhos - quando eu era menino. A maior parte deles estão hoje materialmente muito melhor. Incomparavelmente melhor. E o país muito beneficiou com as remessas que foram transferindo para cá ao longo de décadas.

À partida, pensava eu que toda a sua experiência os abriria à diversidade de culturas e lhes alargaria os motivos de solidariedade e de compaixão para todos os que esforçadamente procuram uma vida melhor. Aceito, porém, que os factores são seguramente muitos, razões haverá que não descortino, e que explicam o que, nesta matéria, me deixa perplexo.

No Domingo passado, à mesa do café, um amigo espantava-se com as minhas dificuldades de compreensão e explanava de forma meridiana:

- Se eu fosse emigrante, e estivesse mais ou menos bem, também não quereria que chegassem outros emigrantes que me disputassem o trabalho, o salário, as condições de habitação, de acesso à saúde e outras…

Dei-lhe razão, que remédio. E logo me lembrei da falta que fazem pessoas como o saudoso papa Francisco.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Quando vêm a nós, os nossos filhos.

De pequeninos, é um enlevo. Consome-se a gente para que nada lhes falte, sendo que é tão imprescindível o conforto financeiro e material quanto o sentimento de amor subjacente. E os requisitos materiais podem mesmo valer pouco, se não assentam na base de afecto necessária.

Andamos, então, num afã, entre cuidar, vigiar, proteger, levar e trazer, e raramente nos apercebemos de que o tempo voa, eles crescem e escapam à nossa alçada. Um dia, damos connosco surpresos e nostálgicos: eles são crescidos e esforçam-se por que o notemos…

Os nossos filhos não são nossos, são apenas nossos filhos.

Provavelmente foi assim também com os nossos pais relativamente a nós, em alturas correspondentes da nossa infância e juventude.

Mais tarde vieram os netos, que são como que filhos duas vezes. Se estão fisicamente próximos é um privilégio extraordinário. Se estão longe há uma falta que dói e persiste. Compensa-se como se pode, mas pode-se pouco e pode-se mal.

Aguardamos pelo dia de amanhã, em que chegará o nosso mais velho, para curta visita, num vir e voltar necessário, em que viaja sozinho.

Enche-se-nos o peito, não completamente. Para esvaziar-se dois dias depois. Estes dois dias vão parecer-nos tão curtos quanto vão ser longos para os nossos netos pequeninos, que, ao mesmo tempo, vão sentir a falta do pai, lá do outro lado do mar.

[Meus filhos e netos emigrantes, do meu país bonito, mas pobre! Como eu desejo que vos tratem bem, lá onde viveis, tão abrigados como no abrigo do meu peito.]

E porque proximamente não podeis vir, queridos netos, não pode demorar muito que eu e a avó vos vamos abraçar, a essa terra distante e estrangeira e estranha para nós.

Ao vosso pai, a esse aproveitamos para o sufocar de carinho este fim-de-semana.

Como ele vos dirá.

José Batista d’Ascenção

domingo, 18 de maio de 2025

Qual é a data das próximas legislativas?

Devido à incompetência, hipocrisia e ganância dos líderes partidários e dos seus séquitos fomos forçados inutilmente a (estas) eleições. Os dois principais partidos andaram mal. E os restantes também não estiveram bem.

Como vai correr agora?

Originários das juventudes partidárias, os chefes dos dois maiores partidos não se honram como políticos que coloquem os interesses do país à frente dos seus. Nem aquelas organizações de juventude são escolas de sólida formação cívica, mais parecendo núcleos de ambiciosos que cilindram tudo - e uns aos outros -, seja qual for o preço que o país e os cidadãos tenham de pagar.

São muitos os políticos que confundem os objectivos nobres da política com os proventos dos seus negócios e carreiras, nacionais (caso da multi, hiper e precocemente reformada Assunção Esteves) ou internacionais (como Durão Barroso e vários outros).

Porém, não faltam pessoas competentes, alheias ao vício da ganância, disponíveis para o bem público. Se me pedissem para dar exemplo de uma cidadã íntegra da área do PSD, capaz de exercer nobremente qualquer cargo público, e que se afastou, por não abdicar dos seus princípios, indicaria a bracarense Cristina Fontes, que é «uma senhora», como se diz na (sua) cidade. E conheço muitas outras pessoas, da mesma área partidária, com idêntica rectidão.

No PS o problema é similar. Personalidades da envergadura de Francisco Assis ou Sérgio Sousa Pinto nunca foram chamados à governação nem são (muito) considerados na definição das linhas políticas. Dois meros exemplos.

Em consequência, para evitar o colapso dos dois partidos mais representativos – por enquanto - do nosso sistema político, gostaria que os líderes actuais se afastassem ou fossem afastados num prazo não muito dilatado. E que se abrisse a representação parlamentar a candidatos não necessariamente indicados pelas lideranças e estruturas partidárias.

De contrário, cada vez mais o povo di(ta)rá: «Chega».

Só não sei se já é tarde de mais.

José Batista d’Ascenção

O Mundo. O Mundo.

Uma bola, connosco em cima. Tendemos a pensar que somos os donos dela, repartimo-la em fracções com proprietários definidos. Podem ser leiras, ou bouças, ou courelas, ou herdades, ou quintas, ou montes, ou países, ou grandes regiões (o Alasca, a Gronelândia…).

Somos uma espécie biológica possessiva, a única que acumula coisas em grande escala e toma a posse de bens convencionais (dinheiro…), materiais ou recursos como factores de estatuto, poder e domínio sobre os semelhantes. Não se trata apenas de machos em competição pelas fêmeas (nem o inverso…), mas da subjugação de camadas sociais ou de populações inteiras…

A humanidade sempre foi assim. Está-lhe na natureza.

Se a cada um fosse dada a possibilidade de viajar para o espaço e de observar a Terra a partir da escotilha de uma qualquer nave espacial em trânsito no cosmos, quem sabe se os cosmonautas não sentiriam intensamente a fragilidade e pequenez de todos nós, enquanto terráqueos.

E se se imaginasse alguma colisão planetária ou – quem sabe? – algum engenho bélico de civilizações extraterrestres – se as houvesse – mais se acentuaria a condição precária dos humanos encarcerados na «gaiola» terrestre e o ridículo infantilóide de qualquer (aspirante a) «super-homem».

Quem somos nós e para que servimos, afinal?

As melhores e mais belas respostas encontrei-as nos evangelhos e na encíclica «Laudato Si», do Papa Francisco.

Mas, de que tem valido tudo isso?

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Dia de reflexão eleitoral

Almejo por ele. O que vi e ouvi nesta campanha eleitoral foi decepcionante e enjoativo. Venha o silêncio. Pena que seja só um dia antes do dia das eleições.

Esclarecimentos úteis, não dei por eles. Abordagem dos problemas que provavelmente nos vão cair em cima proximamente, também não.

E de infantilidades e ridicularias faceiras estou farto. O povo, na parte que se manifesta, parece alinhar. A outra parte, mais ou menos abúlica e macambúzia, faz-me igualmente pena.

Domingo à noite, como nos sentiremos?

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Os políticos que temos

Não tenho dedicado uma atenção minuciosa à campanha eleitoral, que decorre desde as últimas eleições. Por culpa minha, reconheço, mas também pela impressão que me fica sempre que tento perceber as mensagens dos políticos, com destaque para os líderes partidários, já que os subalternos não adiantam mais.

Decepcionam-me os “candidados” a primeiro-ministro, o incumbente e o aspirante a estrear-se na função. Em termos éticos não compreendo nem aceito o papel de Montenegro. Isto de ser chefe do governo ao mesmo tempo que se tem uma empresa privada, sem funcionários, com sede na própria casa, deixa-me sem confiança. O que isto significa explicou-o muito bem Pacheco Pereira um dia destes num artigo do jornal «Público». Já Nuno Santos esbraceja na sua impulsividade com a energia de um náufrago. Creio que não vai longe, porque não convence senão os convencidos.

Há dias, o PSD reuniu à mesma mesa os seus líderes vivos, com excepção de Marcelo Rebelo de Sousa e de Pinto Balsemão, creio. Fez-me impressão: Santana Lopes (que abandonou o partido) ao lado de Durão Barroso, que lhe chamou mistura de «Zandinga» e mais qualquer coisa, e de Cavaco Silva, que lhe chamou «má moeda» e o teve como ajudante de ministro no governo para o manter calado. Santana indicara estar «escrito nos astros» que se bateria contra Durão Barroso e acusou Cavaco de lhe «dar chapadas» quando o seu (dele) governo estava na «incubadora». Cavaco ao lado de Fernando Nogueira, que “defenestrou” quando ele lhe sucedeu. Passos destoando de Montenegro, que se fez desentendido. E todos eles à mesa com Rui Rio, a quem boicotaram todo o tempo, até ser deposto da liderança. Podia tratar-se de pluralidade democrática, mas nunca teve a dignidade requerida pelo conceito.

No PS, António José Seguro, que nunca comungou das trafulhices de Sócrates, passou de alguma forma a proscrito. Já Augusto Santos Silva, uma sumidade cínica, navegou até ao cargo de segunda figura do estado, “incólume” à prática política de Sócrates e inflando o indescritível Ventura. Aquela mancha do partido (mais) lutador pela liberdade ainda permanece a meus olhos.

Dos pequenos partidos com assento parlamentar, vejo os seus líderes ou a defender ideias que não são novas ou a tentar lutar por conseguir ou manter um lugar de deputado.

Da extremíssima direita, prefiro não falar, por incompatibilidade. E aos outros não lhes presto atenção.

Mas irei às urnas, isso vou.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Donos do mundo

Epílogo do livro «Humano, Demasiado Humano», de Neil D. Lawrence (p. 481-492)

Há empresas de tecnologia que implantam sistemas de software que não podem ser controlados pelos seus criadores. O software é frequentemente dividido e construído por diferentes equipas, o que tem o infeliz efeito colateral de ninguém entender como funciona todo o sistema, dado que a complexidade do todo pode tornar-se excessiva para a compreensão de qualquer indivíduo. Quando corre mal, os efeitos podem ser devastadores.

Assistiu-se a um fenómeno deste tipo quando os sistemas do Facebook foram manipulados para espalhar desinformação nas eleições dos EUA em 2016. O próprio Facebook exigiu uma investigação de dez meses para entender até que ponto os seus sistemas tinham sido manipulados por uma instalação de trolls russa.

Em 2019, Mark Zucherberg escreveu um artigo no The Washington Post em que pedia a regulamentação das redes sociais. As instituições e os indivíduos em quem confiamos foram debilitados pelos aprendizes de feiticeiro modernos. O computador é uma infra-estrutura de informação dos nossos dias, desenvolvida por um novo tipo de escribas – os engenheiros de software das grandes empresas de tecnologia. Porém, “libertam” uma tecnologia que não conseguem controlar.

Esta é uma situação desesperada e está a piorar. Com o surgimento do ChatGPT, em 2022, substituiu-se o grande homem pelo grande computador.

A moderna infra-estrutura da informação pode propagar-se vertiginosamente: há mais de uma década, a OMS e a ONU estimaram que em todo o mundo havia mais pessoas com acesso a telemóveis do que a instalações sanitárias.

A grande falácia da “inteligência artificial” reside em considerar que a tecnologia de automação se adaptará a nós, em vez de nós nos adaptarmos a ela, porém, essas ferramentas não são implantadas para capacitar o indivíduo, mas para capacitar corporações.

A ameaça que enfrentamos hoje é uma forma de totalitarismo da informação que advém da oligarquia digital.

Devemos tentar reequilibrar o poder das guildas de software para as pessoas e as instituições de sociedades abertas.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Se eu escrevesse bem

Os meus (até para mim) imprevisíveis rabiscos (e que são, realmente, meus) não têm leitores (os raros que lêem o pouco que anoto não são meus leitores, nem eu tenho produção para ter leitores, são pessoas minhas amigas ou amigas da minha liberdade de opinião). O mundo não perde nada por isso, sei-o desde sempre. Então por que rascunho uma ou outra nota e a deixo à mostra? Não sei.

Uma ou outra vez, por condescendência, amigos gabam-me a escrita. Fazem-no porque são meus amigos e são complacentes. Na profissão, alguns, interesseiramente, acharam-me jeitoso para redigir actas. Nunca os censurei, mas opus-me, quanto pude. Outros preferiam que não fosse secretário porque entendiam que a redacção não devia ser tão próxima do real, de que pretendiam relatos mais eufemísticos, por assim dizer. 

Para mim, escrever bem exige três condições:

i) ter talento e perspicácia para abordar assuntos que despertem interesse;

ii) escrever com elegância e clareza, fazendo uso das regras necessárias;

iii) ter leitores que entendam e tirem algum gosto ou benefício da leitura.

Se assim não for não há boa escrita. E qualquer tipo de escrita que não seja lida não serve para nada – não tem possibilidade de ser boa.

Fica a confissão do que humildemente penso, por querer que assim seja e apenas isso. O facto não justifica a impertinência de expor os alinhavos das minhas parcas e humildes notas aos olhos de terceiros, mas, em si, é quanto me basta.

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 25 de abril de 2025

25 de Abril. Sempre.

Damos mais valor à saúde quando ficamos doentes. Valorizamos profundamente a liberdade quando a perdemos.

Antes do 25 de Abril de 1974, no tempo dos mais velhos de nós, não havia liberdade, nem de acções nem, sequer, de pensamento.

As mulheres eram ainda mais limitadas, como se fossem seres humanos inferiores.

Os mais jovens não sabem nem têm presentes essas realidades, e, por isso, funcionam como se a liberdade fosse um bem definitivo, pelo qual não é preciso zelar.

Nós, os mais velhos, que somos seus pais e avós, e, na escola, nós, os que somos seus professores, não temos sido eficazes a demonstrar-lhes o valor fundamental de sermos livres, nem a incutir-lhes e a exigir-lhes a responsabilidade de cuidarem escrupulosamente desse bem inestimável que é a liberdade.

Os (nossos) políticos, grande parte deles, também não têm estado à altura, por falta de competência, e, sobretudo, pelo que são enquanto cidadãos e pelos (maus) exemplos que dão.

Infelizmente, em pano de fundo, o (nosso) sistema de justiça (com minúscula) deixa muito a desejar, o que levanta sérias questões de confiança dos cidadãos.

Até por isso, o 25 de Abril não perdeu valor nem simbolismo. Deu-nos a oportunidade - essa tivemo-la e têmo-la. O que fizemos depois e fazemos agora é da nossa responsabilidade e não dos que levaram a cabo o acto inicial libertador. E só a nós responsabiliza.

Obrigado, sempre, aos heróis do 25 de Abril.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Francisco partiu

Faltam-me as palavras, ficaram-me aqui.

Silêncio. 
Quem virá a seguir?

José Batista d'Ascenção

A inteligência artificial, as redes sociais e o ser humano

A máquina não nos compreende por aquilo que pensamos que somos, mas sim pela acção revelada pelos nossos dados [os sítios que visitamos, os «gostos», os comentários e outras interacções]. Chama-nos através dos nossos sistemas reflexos. Consegue fazer isso porque usa as técnicas dos inquéritos estatísticos para gerar novos algoritmos de aprendizagem que aprendem a manipular-nos. Há um sistema que ajuíza antecipadamente o que queremos e restringe a nossa visão do mundo. Esse sistema entende-nos de forma muito completa porque lhe expomos os nossos pensamentos e caprichos mais íntimos. Os nossos dados pessoais são uma projecção de nós mesmos, e andamos a permitir que eles sejam manipulados sem o nosso controlo. São manipulados por entidades que também têm acesso aos dados de outras pessoas numa escala global. Ao permitirmos essa colecta generalizada abdicamos da liberdade pessoal.

Estamos a ser usados como fonte de dinheiro. Não há nenhuma grande conspiração, o que acontece é a consequência natural da tentativa daqueles que controlam os nossos dados os explorarem para seu benefício financeiro. É uma propriedade emergente da oligarquia digital.

O sistema criado não é regulamentado, não entende o contexto social, não tem uma noção de objectivos humanos elevados, não tem empatia. São-lhe atribuídos objectivos específicos e ele visa cumpri-los com a sua melhor capacidade, independentemente dos efeitos negativos. Devido a isso foi manipulado para debilitar a democracia e destruir a coesão social.

Com esta primeira vaga de inteligência artificial (IA), uma grande parte da sociedade passou a estar sujeita aos caprichos de poucos.

O que preocupa é que, apelando aos nossos eus reflexos e não aos nossos eus reflexivos, o sistema suscita uma regressão ao estado em que domina o eu reflexo, que se assemelha ao chimpanzé.

As nossas interacções podem ser controladas por inteligências de máquina que não têm nenhuma participação na sociedade, ou podemos optar por exercer e capacitar a nossa própria tomada de decisão. Se não interviermos, estamos a optar por dar poder à máquina. Precisamos de construir sistemas que nos respeitem como indivíduos, que retenham o controlo das informações pessoais nas mãos daqueles que as geram.

O nosso fascínio com a IA é a projecção de um fascínio connosco próprios. O narcisismo tecnológico pode ser nocivo, mas se pudermos passar do nosso narcisismo para a introspecção, isso será benéfico.

in: «Humano, demasiado humano». Lawrence, Neil D. Gradiva. Lisboa, 2025. (p 320-324 – composição de excertos).

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Holanda em flor

«The most beatiful spring garden in the world», o jardim de Keukenhof, em Lisse, na Holanda. Rezam os panfletos e não é exagero. Um espaço maravilhoso, 32 ha de árvores, “ruas” pedonais, trilhos florestais, alamedas, lagos e muitos, muitos espaços ajardinados, canteiros com perfil irregular ou geometricamente organizados.

Entre as flores predominam as tulipas, originalmente trazidas da Turquia, e “trabalhadas” artificialmente para produzir mais de 800 variedades, na forma, no tamanho e na cor (do vermelho flamejante a todas as outras do espectro). Também os narcisos, tantos e variados, alguns deles oriundos de Portugal, onde pouco os vemos, nos jardins e na Natureza (onde abundavam há algumas décadas). Encantei-me com o Narcissus fernandesii, var. cordubensis, nome (científico) que homenageia o botânico Abílio Fernandes (1906-1994), Professor do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra. O ano passado, por esta altura, tinha visto e fotografado o Narcissus jonquilla var. henriquesii no Jardim Botânico de Nova Iorque, e sentira o mesmo contentamento. No Jardim Botânico da Universidade de Coimbra nunca vi nem um nem outro. Outras flores, muito usadas em Keukenhof são os jacintos, das mais diversas cores, as muscari (Muscari armeniacum), as anémonas e outras…

Um mar de cores, às vezes em sectores bem definidos e contrastantes outras vezes em misturas coloridas de várias espécies.

Nos lagos não vi peixes (nem um…), mas abundavam patos. No “andar” arbóreo, muitas aves, algumas de belo canto, adoçavam a “paisagem” sonora, tanto quanto a estimulava uma enorme caixa de música, na margem de um lago circular, que levava muitos visitantes à dança instintiva.

Visitantes que seriam aos milhares, de todas as geografias (mais do que ali, nem em Amsterdão). Portugueses, também ouvi alguns – e duas senhoras trocaram comigo breves ideias sobre botânica. Mas os espaços, hiperfrequentados, estavam cuidados na perfeição. Nem um papel ou recipiente ou detrito a conspurcar o chão, que me pareceu tão limpo quanto o da minha casa. Nas estufas (deslumbrantes) e nos espaços interiores a mesma coisa.

Uma beleza.

Foi aos 11 de Abril de 2025.

José Batista d’Ascenção.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Páscoa Feliz

Como habitualmente, desde há longos anos nesta época, hoje tinha na caixa do correio sobrescrito aberto com afectuosa mensagem do pároco local. Começa assim:

«Há semelhança dos anos anteriores,»…

E há mesmo semelhança: o texto mantém-se quase sem alterações na redacção há anos sucessivos.

Que se há-de fazer?

Boa Páscoa.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 8 de abril de 2025

Quimismo e seres vivos

Algumas substâncias produzidas por seres vivos são eficazes em doses ínfimas. O nariz de um cão consegue detectar apenas algumas dezenas de moléculas individuais. As antenas das borboletas detectam algumas moléculas de feromonas (mais frequentemente) libertadas pelas fêmeas, o que permite aos machos localizá-las movimentando-se no sentido crescente do gradiente de concentração dessas moléculas. Em várias espécies de algas o multifideno serve de atractor sexual. Em Cutleria multifida os gâmetas masculinos podem nadar vinte horas até ao gâmeta feminino que emite aquele químico, bastando 1 a 10 moléculas individuais da feromona para desencadear o estímulo! Também muitas bactérias flageladas nadam para “subirem” ou “descerem” no gradiente de concentração das substâncias que as atraem ou repelem, respectivamente.

A molécula de maltol dá o aroma característico ao malte, ao caramelo e ao café. Toranjas, peras ou pepinos devem os respectivos aromas a substâncias químicas específicas.

A identificação e a síntese de moléculas activas pode ter grande repercussão. O odor a baunilha provém de uma substância química chamada vanilina. A sua síntese, em 1876, arruinou as culturas da ilha de Reunião.

O odor a terra molhada provém da geosmina, a qual é detectável em solução aquosa pelo nariz humano em concentrações de 21 em cada mil milhões de partes.

Nos humanos, desde sempre, o nariz serviu de detector hipersensível para imensas substâncias voláteis. Hoje também. A finura do odor dá o seu valor tanto à trufa como à quintessência. Pense-se no caso de enólogos e perfumistas, por exemplo.

Também ninguém menospreza a importância que os odores tiveram e têm na detecção da toxicidade.

Por estas e por outras deu-me para “meter o nariz” nestas matérias.

José Batista d’Ascenção

(*) Texto baseado na releitura do livro «A palavra das coisas» de Pierre Laszlo. Gradiva. 1ª edição, Lisboa, I995. (p. 155-157 e 228-230)

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Os (principais) líderes políticos que temos são como nós (genericamente) somos

Vulgares. Pouco competentes. Manhosos. Interessados muito mais nos seus objectivos pessoais do que nas metas que deviam ser as do país. Alheios às dificuldades e às preocupações dos portugueses, em nome dos quais (dizem que) fazem política.

E a líderes assim seguem-nos outros políticos (que também são) assim. Políticos que concordam com a afirmação de que as pessoas não estão bem, mas o país está. Se o diagnóstico fosse verdadeiro, os problemas resolviam-se tirando as pessoas do país. Ficava um país sem gente. E muita gente jovem, de valor, faz isso mesmo – vai-se embora. Ou, então, tais líderes fazem a política que trazem das «jotas», impulsivos e imaturos, indiferentes às consequências. Os extremos agradecem. E crescem.

É uma desilusão. O clima eleitoral é decepcionante. Não há esperança.

Aqui chegados, temos de falar dos cidadãos eleitores. Com quem se identificam eles? Porque elegem corruptos, alguns deles condenados pelos tribunais e outros ilesos, ainda que nada inocentes (perante factos inaceitáveis, de tipologia vária, sobejamente conhecidos)? Creio que é por serem medularmente iguais. A corrupção é aceitável, não faz mossa, e a maior (?) parte das pessoas praticava-a, se pudesse. E as crianças aprendem com os adultos: com o que eles praticam, muito mais do que com o que eles (lhes) dizem. O que se passa nas escolas, nas ruas e nos recintos desportivos é reflexo disso.

Em minha opinião não é elevadamente nobre, o povo. A pobreza não é certificado de honestidade, nem, muito menos, a riqueza o é.

Quem somos nós? Quais são os nossos valores? Que justiça exigimos? Que educação fazemos? Que exemplos damos?

Temos o que merecemos?

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 27 de março de 2025

Gato caçador de rãs e gaivotas consumidoras de lixo orgânico

É preto e está gordo e lustroso. Passa bons bocados à beira do lago da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA), atenção fixa – focado, como agora se diz – nos batráquios que vêm colocar-se sobre as pedras dos bordos. E então, ágil como diz quem vê, pode caçar uma, duas ou três rãs em pouco tempo, dilacerando e deliciando-se com cada uma, antes de passar à seguinte.

A sua distinção para murar (ou “arranzar”…?) quase dispensava o cuidado que a (minha) colega (professora) amiga de gatos lhe dedica, trazendo(-lhe) comida que coloca numa tigela ao lado da casota improvisada colocada ali perto, num canto abrigado. O bichano não passa(rá) fome e parece gostosamente adaptado a condições deveras favoráveis. A dona, pelos vistos, mora do lado de lá da rua e não precisa de se preocupar com a alimentação do tareco.

Porém, o felino não deixa de ter concorrência. Nas últimas duas décadas, elementos de uma (muito grande) colónia de gaivotas, aparentemente cada vez mais numerosa, sobrevoam diariamente céus e telhados de Braga, sendo que algumas delas também já descobriram as rãs do lago da minha escola, quem sabe se como abastecedor de suplemento aos resíduos alimentares mais ou menos decompostos a que se habituaram no aterro sanitário da Póvoa de Lanhoso. Estas gaivotas, diz o senhor Manuel Silva, chefe dos funcionários da ESCA, já podem ter perdido o hábito de pescar, “arte” porventura mais custosa na obtenção de comida.

Um e outro caso configuram rápidas mudanças adaptativas dos bichos em resultado das influências dos humanos na Natureza. Mudanças muito elucidativas e fáceis de observar.

José Batista d’Ascenção