Uma vida de dedicação à Ciência e à Natureza e de profundo respeito por si e pelos outros
Nos alvores da democracia em Portugal assinala e denuncia a diferença entre liberdade e libertinagem política, económica, ambiental e, consequentemente, social. Alerta para a destruição da floresta, do coberto vegetal e dos riscos inerentes. Não se intimida com a força dos predadores em busca de lucro nem se cala perante a submissão dos políticos a esses interesses. Fala/escreve sempre de modo claro, incisivo, concreto e documentado. Com a mesma diligência com que calcorreou o país, vai às escolas (do ensino básico e secundário) levar pessoalmente a mensagem em defesa do meio ambiente e, por consequência, da espécie humana. Para além dos adultos, crianças e jovens ouvem-no com particular interesse. Desgosta-o que o poder do consumismo tenha depois um efeito contrário muito poderoso sobre a semente que diligentemente levou até eles. Essas acções foram e são todas materialmente graciosas. De ninguém aceitou ou recebeu qualquer provento ou recompensa material.
A sua acção pedagógica influenciou muitos professores, os mesmos que tantas vezes lhe pediram para que viesse às suas escolas - a que sempre acedeu prontamente - e que acorreram interessadamente às extraordinárias acções de formação que lhes proporcionou, inevitavelmente com o ambiente natural como palco, nas diversas regiões do continente e ilhas e, também, com algumas deslocações ao estrangeiro.
Antes, muito novo, como investigador, havia regressado a África para vastos e aturados estudos da flora. A diversos países do continente negro voltou muitas vezes (só a São Tomé e Príncipe foram mais de uma dúzia) em trabalho científico e pedagógico, algumas delas com professores do ensino básico e secundário. Subjacente, o objetivo de, através deles, fazer chegar conhecimento, formação e cidadania aos mais novos. Para além da Europa, particularmente na Península Ibérica, e da África, realizou trabalho científico nas Ilhas Macaronésias, na Ásia e na América do Sul. Também visitou a Austrália e a Região Ártica Europeia (incluindo a Islândia).
Seriam muito longas quaisquer listagens dos trabalhos, da acção, das homenagens, dos prémios e das distinções do Professor Jorge Paiva, como docente (de várias universidades: em Coimbra, Aveiro, Madeira, Viseu, Vigo), investigador, divulgador de ciência, ambientalista e cidadão interventivo. Por não ser o escopo, aqui, limitamo-nos a resumidas e parcas alusões, de que é exemplo a publicação mais recente do «Diario del Jardín Botánico», de Madrid, que refere, em relação ao Mestre, «el envidiable respeto de la sociedad portuguesa»…, [prosseguindo] «pero también es un orgullo y una emoción para sus colegas españoles del Real Jardín Botánico: Jorge Paiva fue el único de los tres pioneros del proyecto Flora Iberica - una ambiciosa empresa botánica que iba a abarcar todo el territorio peninsular más las Islas Baleares - que logró ver concluida la obra más importante de la Botánica española y portuguesa.» (p. 11)
Acrescentemos, apenas, que identificou para a ciência dezenas de espécies novas. Ou que são pelo menos dez as plantas cuja designação científica inclui um termo derivado do seu nome (latinizado) – paivae ou paivana – como homenagem de outros investigadores, portugueses e estrangeiros.
Repetimos: este pequeno texto não pretende abordar a relevância do trabalho académico e científico do Professor Jorge Paiva, matéria para redactores habilitados. Por ora, ficamo-nos por um registo de afecto e de apreço pelo Bom Mestre que sempre correspondeu ao chamamento dos professores de crianças e jovens, os quais procuraram junto de si, e pela sua acção, esclarecimento, estímulo e exemplo.
Da sua parte, nunca (nos) faltou. Foi e é muito belo o seu exemplo, e inteira e limpa a sua generosidade.
A Escola Secundária Carlos Amarante, de Braga - onde tantas vezes quantas as solicitadas, e foram muitas, tivemos o Professor Jorge Paiva - agradece, com carinho.
Da parte de todos: Muito obrigado.
José Batista d'Ascenção