quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Postal de aniversário a uma amiga do peito - dívida antiga

 

A Cristina Mª R. Assis Figueiredo Valadares
 e a sua família nuclear: o Jorge V. e a A. Rita
 
Querida Cristina:

Passaram mais de quatro décadas. Jovens, entrávamos na universidade com a energia e a inocência de quem abraça a vida sem reservas. Humildes, determinados, generosos e solidários. Por quaisquer afinidades fomo-nos agrupando naturalmente. Entre alguns do nosso ano formou-se a “trempe” a que chamámos “dupla”. O verso do acróstico que veio a caracterizar cada membro desse grupo é, no teu caso, de significado curto e pobre. “Respeitável” assenta-te que nem uma luva, claro. “Inteligente”, não podia oferecer dúvida. Mas falta(va) ali muito. E todos o sabíamos, antes como agora (sendo provável que tu própria não lhe tenhas ligado nada). Porque eras a melhor de nós: o elemento mais disponível, mais agregador, mais generoso, mais presente, mais desprendido, mais atento a todos e a cada um dos outros (o que se estendia ao curso inteiro, a familiares, a vizinhos, a amigos, a amigos dos amigos e conhecidos ou desconhecidos…). Mas não era apenas isso. E este «não apenas», nada enigmático (e sempre intuitivo e claro e nobre e bom) não era nem é fácil de dizer por palavras (poucas ou muitas…).

De onde te vinha isso? A resposta é fácil: Os pais já eram assim. A avó (a única que conhecemos) já era assim. O ambiente na (que viria a ser a) CP (casa dos pais) era assim: a porta permanentemente aberta, a mesa invariavelmente farta e sempre com lugares disponíveis. Os amigos entravam e sentiam-se da e na família. Era assim. Sempre foi assim.

Chegou a maturidade etária - sem que qualquer dos do nosso grupo mais restrito tivesse alguma vez incumprido os seus deveres de estudo ou manchado a dignidade - e a entrada na profissão. De novos encontros resultaram novas famílias. Pelo teu lado chegou o Jorge. E veio como se já tivesse vindo. Como se sempre tivesse estado.

E à CP acrescentou-se a CF (a casa dos filhos), com a mesma amizade e carinho e estima e afeição. E tesouros de nova geração foram aparecendo. Não foi pequeno, nem degenerado, o que te coube. Passaram os anos. Os tesouros cresceram, engrandeceram e, naturalmente, encontraram outras pessoas. Na sucessão do tempo é legítimo e esperançoso que aguardemos por mais tesouros.

Não sei que iniciais possam designar as novas casas, tão dispersas e distantes no espaço, mas a ideia de uma rede alargada de CA (casas de amigos) é reconfortante e não é obrigatoriamente utópica.

Este texto não é uma ilusão nem uma esponja sobre as dificuldades, o sofrimento, a distância, a solidão ou, sobretudo, a finitude. Ele apenas lhes passa por cima, de propósito, neste dia.

Porque a alegria da amizade é mais forte, tão forte que é capaz de afastar as sombras de tristeza e de saudade, ainda que por momentos.

É desses momentos que se trata hoje, 24 de Novembro de 2021.

Sabemos que o sentes tão profundamente como nós, Cristininha.

Obrigado sempre. Parabéns. Beijinhos.

José Batista d'Ascenção

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Tenho os meus comigo e sinto-me mais eu

Chegaram bem e bem-dispostos. Os pequeninos, o Artur e o Diogo, que ainda não andam de pé, mas já gatinham o que podem, são sorridentes e nada estranhões. Conhecêmo-los pessoalmente agora, e é um contentamento. O mais velhinho, o Gaspar, a caminho de três anos e meio, estava mortinho por vir para os avós: lá, do outro lado do Atlântico, faz tempo, todas as manhãs ia perguntando, - e apontava para um calendário pendurado na parede da casa - se já era o dia de partir…

Os pais, com a criançada e as traquitanas necessárias, resistiram à viagem e surgiram com ar satisfeito. O tio dos meninos, o nosso rapaz mais novo (o Filipe, que tem menos seis anos do que o João), a trabalhar em Amsterdão, quis vir também, para todos os membros da família nuclear se verem em pessoa, convivermos por uns dias e comemorarmos os anos da Lurdes, agora com o venerando estatuto de esposa, mãe e avó, e recebendo e sentindo o carinho de tantos outros familiares e amigos.

E foi assim que ficámos todos de parabéns. A aniversariante, por antecipação, e todos os membros do “clã”, por podermos estar juntos. Um Natal em fins de Novembro que esperamos repetir, todos juntos também, na nossa casa, em Dezembro (os meus emigrantes adultos ficam em trabalho remoto até lá). Ainda estou em encantamento. E é nessas condições (psico-afectivas) que faço este registo, em que não me alongo, para não cair em pormenores reveladores de pieguice, que, confesso não sinto que seja, e, se fosse, não me incomodava nada.

Para que conste.

José Batista d’Ascenção