sábado, 25 de abril de 2020

Rosas de esperança, na comemoração de Abril

Sempre atrasados, os cravos vermelhos da minha floreira, e este ano com menos vigor do que é habitual, nunca chegam a tempo do dia 25 de Abril. Costumam vingar-se positivamente semanas depois, mas este ano não prometem. Por via disso, olho com mais enlevo as rosas intensamente encarnadas do meu (pequeno) quintal, na significação que, por esta altura, lhes atribuo.
Há quarenta e seis anos, homens valorosos honraram Portugal e a instituição militar, pondo fim a um tempo sombrio, de condicionamento das consciências e de subjugação de um povo humilde e analfabeto, isolado do mundo, que fora instado a ter orgulho em ser pobre. Um tempo em que a livre opinião era um perigo. Em que a saúde era restrita aos muito poucos que a podiam pagar. E em que até a fuga à mais pungente miséria só encontrava saída na emigração «a salto», sujeita à avidez dos «passadores». Em muitas aldeias do interior do país não havia electricidade, nem água canalizada, nem estradas de acesso asfaltadas, nem ruas calcetadas. Em muitas escolas do ensino primário, os professores eram regentes, sem habilitações. E quando havia professores habilitados, grande parte deles, como que carregando o peso da instituição política ou identificando-se com ela, eram carrascos que, usando desalmadamente a palmatória, davam cabo das mãos das crianças, acrescentando dor física à malnutrição ou ao frio ou aos pés torturados por calçado «herdado» ou mal remendado, senão descalços, ou, tantas vezes, ao desconforto dos piolhos nas cabeças sem higiene. Portugal era assim, do Minho ao Algarve e do continente às Ilhas. Nas então colónias africanas, o «autismo político» e o consequente desencadear da guerra provocaram efeitos marcantes nos que combateram no ultramar e culminaram num êxodo abrupto de retornados para a metrópole, os quais, no entanto, se integraram muito bem e foram um factor de dinamização da sociedade que os acolheu. Por outro lado, teve início uma evolução social e económica pouco feliz na maior parte dos novos países africanos de expressão portuguesa.
Agradeço a esses homens e presto-lhes homenagem. Salvaguardando que nunca me identifiquei com a acção e as ideias de alguns deles, quando resvalaram para conceitos de democracia e de liberdade que não partilho. E aprecio-os muito, em especial porque não fizeram uma revolução em proveito próprio, nem em termos de exercício de poder ilegítimo, nem em termos de enriquecimento material. Em geral, nem sequer progrediram significativamente nas respectivas carreiras militares. A revolução não beneficiou os seus heróis.
E se os ideais de Abril e a democracia conquistada deram lugar ao país endividado e socialmente (ainda muito) injusto dos dias de hoje, não cabe qualquer responsabilidade aos protagonistas da revolução dos cravos. O nosso amor pela liberdade, vivido e expresso por cada cidadão, cultivado nas famílias e na sociedade, ensinado nas escolas e praticado pelas instituições, devia dar frutos mais solidários, que ainda não alcançámos.
A cada momento é tempo de dar o nosso contributo. Exijamo-lo de nós próprios, particularmente nos tempos que correm.
Hoje, muito grato, sinto no coração a festa do 25 de Abril.
O «Dia da Liberdade».

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Os vírus, nós e as perspectivas do nosso futuro, por quem sabe e sabe pensar.

A importância do saber fundamental, pelo investigador português Arlindo Oliveira, do Instituto Superior Técnico - excerto do jornal «Público», de hoje (1).
Imagem da Wikipédia

[O] …«processo, de evolução exponencial de um vírus, de uma bactéria ou de outro animal ou vegetal, está na origem da vida e na criação de todas as espécies que existem. Há milhares de milhões de anos, as primeiras estruturas [que começaram por ser moléculas e agregados de moléculas orgânicas], usando mecanismos que desconhecemos, conseguiram reproduzir-se de forma exponencial e iniciaram a colonização do planeta. Ao longo desses milhares de milhões de anos, as espécies tornaram-se mais eficazes neste processo, desenvolvendo novos mecanismos para identificar comida e evitar os inimigos. As células individuais agregaram-se em grandes colónias, que partilham o mesmo ADN [sigla de “ácido desoxirribonucleico”, a molécula que contém o código das características hereditárias], conduzindo aos organismos multicelulares, animais e plantas. A capacidade de processar informação veio a revelar-se chave na competição pela sobrevivência, e a pressão evolutiva fez com que se desenvolvessem cérebros, cada vez mais complexos. Cérebros suficientemente avançados levaram à criação de cultura, ciência e tecnologia, que temos agora ao nosso dispor para combater os nossos inimigos. Todos os dias, as diferentes espécies lutam para sobreviver e se reproduzir, desde os organismos mais complexos, como os seres humanos e os elefantes, aos mais simples, como os vírus, que precisam de [se] infiltrar [nas células dos] seres vivos para se reproduzirem.
Esta Primavera, em que combatemos um novo vírus, é apenas mais um episódio nesta luta pela sobrevivência, que dura há milhares de milhões de anos. A espécie humana tem, do seu lado, uma capacidade única para perceber os mecanismos usados pelas outras espécies. É essa capacidade, a inteligência, que nos distingue dos animais e dos outros organismos. É essa capacidade que nos permitirá ultrapassar, sem danos significativos para a civilização, mais esta batalha pela sobrevivência. Que não será a última, nem a mais severa. Outros vírus, outras bactérias e outras doenças, potencialmente mais letais, continuarão a ameaçar a nossa sobrevivência como indivíduos e, no caso mais dramático, como espécie. Mas a inteligência humana coloca do nosso lado um arsenal de capacidade inigualável, que nos permitirá combater qualquer ameaça desta natureza. O maior inimigo da espécie humana não são os vírus, as bactérias ou qualquer animal. O nosso maior inimigo somos nós mesmos porque, pela primeira vez, uma espécie tem a capacidade de se autodestruir. Esse é o maior risco para a espécie humana, aquele contra o qual devemos estar precavidos e atentos.»

(1) Excerto do artigo «Vírus e Elefantes», do Professor Arlindo Oliveira, do Instituto Superior Técnico.
In: jornal «Público», de 06 de Abril de 2020, página 19 da versão impressa.

(2) Entre parêntesis rectos, acrescentos da responsabilidade de quem afixou o texto.

Afixado por José Batista d’Ascenção

domingo, 5 de abril de 2020

Devastação florestal, mais um perigo que nos ameaça (alerta do Prof. Jorge Paiva)

Fonte da imagem: aqui.
Em tempos de quarentena, os coronavírus e as suas consequências não são os únicos perigos que pendem sobre nós.
Há um filme revelador sobre matéria relativa à destruição das florestas, que, embora longo, vale a pena ver.
O Prof. Jorge Paiva explica por que não é muito divulgado, nem nas televisões públicas, que deviam fornecer informação isenta os cidadãos.

Diz-nos ele:

VEJAM e divulguem
Filme IPRESSIONANTE para ver do princípio ao fim e
1º Em Portugal passa-se o mesmo, com as seguintes diferenças:
a) As árvores são eucaliptos e pinheiro-bravo;
b) Os serviços oficiais, que eram os Serviços Florestais, foram eliminados e delapidado todo o respetivo património (casas florestais, maquinaria, veículos, etc.), por conveniência e conluio das multinacionais da dita “floresta” de produção. Passaram agora para o ICNF, que está transformado numa instituição única e exclusivamente burocrática ao serviço dos governos e das ditas multinacionais.
2º Este filme não passa nas nossas TVs (ou se passa nunca será nas ditas horas nobres), porque as Estações de Televisão e de Rádio, em Portugal, estão “controladas” pelas ditas multinacionais.
3º Por cá, as multinacionais também utilizam técnicas de ameaças a quem demonstra a devastação e degradação ambiental que provocam. Eu que o diga, pois já tive muita pressão, como telefonemas anónimos com ameaças (bem feitos, de modo a eu não poder identificar a origem) e outras pressões, que prefiro não mencionar, pois dificilmente acreditariam nas minhas palavras.
Para bem da Humanidade,
Jorge Paiva

Afixado por José Batista d’Ascenção