segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Marian Pivka – o músico, o professor e o homem

Eliseu Silva e Marian Pivka
Nascido na cidade de Lucenec, na Eslováquia, a 21 de Junho de 1959, o professor Marian Pivka emigrou, há já longos anos, para Portugal, como tantas outras pessoas de Leste, na sequência do desabamento dos regimes políticos afectos à extinta União Soviética. Sobredotado e sobrequalificado em música erudita, especialmente como pianista, em que é exímio, e no ensino de piano, ele como outros na mesma altura, seus conhecidos porque provenientes da mesma origem, e com habilitações similares, como é o caso do professor Oleg Martirosov, magnífico violinista, director musical e também professor - o qual, certo dia, classificou Marian Pivka como um «génio do piano» -, fixaram-se no norte do nosso país, onde facilmente começaram a leccionar música. O professor Marian Pivka tem ensinado em várias cidades portuguesas, como Braga, Guimarães, Famalicão, Santo Tirso e no Porto. A sua devoção ao piano era tamanha que nunca se cansava de ensinar as crianças, sobretudo quando detectava nelas capacidades acima da média. Muito dedicado, paciente e persistente, com ouvido absoluto, repetia vezes sem conta os passos musicais em que os miúdos eram menos rigorosos e impressionava vê-lo ir ao piano repetir o som que o aluno tirava, às vezes uma dissonância pouco perceptível a ouvidos menos exigentes, e contrastá-la nitidamente com o som correcto que extraía maravilhosamente do instrumento. Quando, de pé ou sentado, escutava um aluno a tocar, era como se, para ele, todo o mundo estivesse concentrado na música, seguindo e assinalando qualquer passo menos conseguido. E quando o discípulo finalmente tocava a peça sem erros, de forma límpida e escorreita, dava gosto ouvi-lo dizer, na sua linguagem muito expressiva e cheia de graça, devido à pronúncia e concordância gramatical estrangeiradas: «foi bem!»
Sofrimento, para o professor Pivka, na sua amada profissão, era ter que ensinar pessoas que não reuniam condições para poderem tocar bem piano. Não que, na sua sensibilidade, o afirmasse com descortesia, mas foi o que sempre me pareceu que nele francamente transparecia. Ao invés, era com uma simplicidade tocante que perguntava às crianças, bem pequenas, algumas: «queres ser pianista?», e ficava imensamente satisfeito quando nos meninos despertava a paixão por aquele magnífico instrumento. Sei também que não o entusiasmavam as aulas que, por dever de ofício, tinha que dar a pessoas que, em escolas, ensinavam música e o procuravam para aperfeiçoarem a sua técnica em piano.
O professor Pivka seguia tão atentamente os seus alunos que era costume perguntar «quanto tempo treina em casa?» ou observava, relativamente a certo aluno, «se F. pudesse estudar quatro horas por dia…», sendo que esse aluno, em casa, autonomamente, nunca terá tocado mais de uma hora seguida, se tanto. E gostava muito que alunos seus participassem em concursos de piano, de quanta mais qualidade melhor. Por mais que uma vez acompanhei um desses alunos a S. Sebastian, no País Basco, onde, perante outras crianças de muitas nacionalidades diferentes, havia sempre alunos do professor Pivka classificados em lugares de destaque, incluindo o primeiro. Nessas alturas, no estrangeiro como em Portugal, impressionava o cuidado que punha em que os alunos tivessem sempre acesso a pianos onde pudessem ensaiar, bem como as recomendações de que era muito importante os meninos terem as mãos quentes, sugerindo, sempre que o entendia, o uso de luvas. Durante as audições, ficava horas a ouvir todos os concorrentes e adivinhava as classificações, nalguns casos discordando do júri e justificando admiravelmente o porquê da sua discordância.
Dispenso-me de referir o currículo do professor Marian Pivka, os prémios que ganhou em concursos ou a série de países onde já deu recitais de piano ou tocou com outros músicos, em concertos ou com orquestras, por não ser um crítico de música, dada a falta de habilitações… Limito-me a salientar a sua vontade firme de aprender, quando criança, a admiração pela sua principal professora de piano (B. Smetana), que terá tomado como exemplo, o cuidado e o rigor que põe em ensinar e a superior qualidade com que toca. Acrescento, a propósito, que, no passado dia 27 de Janeiro fui ouvir o “Duo Paris Deuxbut”, ao grande auditório da «Casa das Artes» de Famalicão e pude disfrutar de duas excelentes horas de música de Bach, Mozart, Beethoven, Granados, Liszt e Piazzolla, por dois virtuosos: Eliseu Silva no violino e Marian Pivka no piano. Com uma assistência razoável, completamente rendida, os aplausos foram muitos, e quando, no final das peças só para piano, as palmas ressoavam fortes, insistentes e prolongadas, tocava o coração o modo humilde como M. Pivka retornava ao palco, não passando além da cortina lateral, como se lhe custasse ouvir apoios que não se destinassem também ao seu par violinista, que, igualmente, os mereceu.
Pelo que antes disse, este apontamento tem apenas a intenção de, singelamente, homenagear o pianista, o professor de piano e a pessoa singularmente boa que é o Professor Marian Pivka, um ser humano especial que me parece que só pode ser feliz caso não permaneça muitas horas afastado de um bom piano. Seguramente, os seus alunos hoje pianistas (Pedro Emanuel Pereira, Pedro Gomes e André Silvestre, para referir os mais destacados) saberão honrar, por muitos e longos anos, os ensinamentos do «Mestre».
Ao Professor Marian Pivka, um muito OBRIGADO.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A língua portuguesa, vista por Vital Moreira

«Há dias, numa conversa radiofónica, uma investigadora universitária usava recorrentemente "tá" em vez de "está", "pâ" em vez de "para", "tamém" em vez de "também", "mêmo" em vez de "mesmo", "qué d'zer" em vez de "quer dizer", "haviam" em vez de "havia", etc., etc. Se a isto acrescentarmos a horrível palatalização da pronúncia típica de Lisboa (como, por exemplo, "chéto" em vez de "exceto" e "chêrto" em vez de "excerto", "d'chiplina" em vez de "disciplina"), temos um quadro aproximado do perigo que ameaça o Português europeu.» Aqui.
Carradas de razão na crítica anterior. O que não compreendo é a adenda no final do texto, defendendo «a modesta reforma ortográfica de 1990», a qual, em minha opinião, é parte agravante do problema.

José Batista d’Ascenção

domingo, 22 de janeiro de 2017

“No Ródão, a ignorância sobre o nuclear é uma bênção”

O título garrafal na capa do “Público” de hoje faz doer. O conteúdo ocupa integralmente as páginas 2 e 3 do jornal. Nele se revela que, em Vila Velha de Ródão, as pessoas não se preocupam com o perigo da radioactividade que pode resultar de algum acidente na central nuclear de Almaraz, em Espanha. E não são apenas as pessoas comuns. O director do agrupamento de escolas, frequentado por cerca de 200 alunos, apesar de reconhecer que é preciso “apetrechar as pessoas para os procedimentos básicos de segurança”, o que, pelos vistos, ainda não foi feito, consegue afirmar que “o nuclear (…) é algo como se não nos tocasse a nós”. O posto local da GNR não tem um único alerta para esse perigo. E no centro de saúde, “o alerta mais visível é o relativo aos cuidados a ter durante as ondas de calor”, o que se justifica, mas, “sobre o risco nuclear, nem uma linha”.
Naquele panorama preocupante, só a farmacêutica, uma jovem de 27 anos, no fim da gravidez, parece dar-se conta do perigo que espreita os habitantes da localidade portuguesa que recebe o maior rio que corre em Portugal, vindo de Espanha, depois de, cento e tal quilómetros antes da fronteira, refrigerar os dois reactores da central nuclear de Almaraz. Duzentos quilómetros depois, aquele grande rio internacional banha Lisboa, a capital do país. Em matéria de radioactividade bem poderíamos dizer: de Espanha nem bom vento nem boa água…
As autoridades portuguesas e os portugueses fazem bem em dar a maior atenção ao assunto. Se não nos preocuparmos connosco, quem se preocupará?
Não basta que se recomende que, em tempo de frio, as pessoas devem vestir (mais) camisolas e usar luvas (sobre este assunto, ver texto anterior).

José Batista d’Ascenção

Frio de Inverno

Correm frios os dias que passam. Habituados a temperaturas amenas até ao Natal e depois dele,
Neve em Braga, em 2009. Imagem colhida aqui.
parece agora sermos mais sensíveis às descidas acentuadas dos termómetros. Os animais e as plantas reagem em conformidade, também eles condicionados pela chegada mais ou menos desfasada dos rigores térmicos: a macieira que fica a metros das minhas janelas da sala só por estes dias deixou cair a totalidade das folhas, que há cerca de um mês ainda faziam sombra…
Nas casas menos bem isoladas, que são muitas, porque a construção em Portugal é bastante aldrabada, os gastos de electricidade aumentaram muito, mas só em alguns casos, porque em muitos lares suporta-se o frio sem se ligarem irradiadores precisamente para não aumentar as despesas. E muitos velhinhos e pessoas sem abrigo, de saúde mais debilitada, morrem por hipotermia. Pelo meio, a direcção geral de saúde faz recomendações mais ou menos inúteis, e algo ridículas, por causa da vaga de frio – como se as pessoas não soubessem proteger-se, se tivessem com quê.
Estes aspectos prendem-se com o modo como, no nosso país, tendemos habitualmente a colocar os problemas em perspectivas erradas. E para questões mal colocadas é raro encontrarem-se soluções adequadas…
Que o mal não está no frio. Muito menos quando chega no tempo dele.
E agora é o frio. Esperemos que a estes dias limpos não sucedam tempestades de chuva violenta, causadores de novas/velhas preocupações…
Devíamos, portanto, aprender um bocadinho mais sobre estas matérias e tantas outras e confrontarmo-nos com (e colmatarmos) as insuficiências da nossa organização sócio-cultural e política. 
Nunca é tarde.

José Batista d’Ascenção

sábado, 14 de janeiro de 2017

“A Ira de Deus sobre a Europa”, livro de J. Rentes de Carvalho, publicado pela Quetzal

Um livro frontal, duro, numa escrita precisa, rigorosa, incisiva, clara, de um autor com personalidade forte, que poderíamos associar à imagem de um transmontano típico. Rentes de Carvalho é um homem de têmpera que, emigrado desde os vinte e seis anos, vive há mais de cinquenta na Holanda. O sofrimento inerente à pobreza acrescido pelas vivências não menos sofridas da condição de imigrante permitem ao autor um olhar profundo e sem contemplações sobre o país miserável que deixou, mas que traz no coração [«nenhuma influência (…) parece capaz (…) nem sequer de arranhar as colossais raízes que me agrilhoam à terra onde nasci» (página 167)] e com que se preocupa [«para a terra onde nasci desejaria eu governantes menos corruptos e instituições mais justas» (nota de rodapé da página 13)], e permitem-lhe também analisar e comparar objectivamente a eficácia económica e social do país em que passou a viver, desmascarando inapelavelmente os defeitos das suas gentes, sem deixar de se questionar sobre a justeza das suas próprias avaliações. E, do alto dos seus quase oitenta e sete anos, Rentes de Carvalho olha o mundo na sua globalidade [«O passado dos países, malgrado os testemunhos bem intencionados da História, nunca é bom nem bonito» (páginas 135-136)], temendo o que a si próprio já não deve incomodar especialmente, mas pode condicionar o mundo e em especial a Europa, que se tornou um polo atractivo irresistível para os imigrantes, que ela não tem meio de conter e de que, de resto, precisa [«a União Europeia, para economicamente sobreviver, necessita deles. Pelo menos de 100 milhões no próximo quarto de século» (página 217)]. Homem que muito viu, viveu e aprendeu, conhece bem as fragilidades do ser humano, e por isso defende a solidez de princípios, regras sociais e leis a condizer, para que a humanidade não descambe proximamente no caos, na selvajaria e na guerra, mesmo ou principalmente onde se julgava que a civilidade e a paz eram conquistas definitivas, como é o caso do espaço europeu, que tende explosivamente para uma miscelânea de culturas com modos de viver difíceis de compatibilizar, sobretudo tendo em conta o elevado número de islamitas.
Sobre a Holanda, que há dez anos sente como pátria sua, sem abdicar da pátria portuguesa, Rentes de Carvalho não hesita em escrever «arrisco-me a afirmar que o agregado familiar se tornou um desagregado» (página 219) e «quando um país é grande na pornografia, na pedofilia, no comércio de droga, soa contraditório o querer ser também campeão da moral» (página 220). O retrato que nos deixa sobre o país em que se acolhe e que passou a sentir (usa recorrentemente o verbo «ressentir», em vez de sentir) como seu é muito completo e impressivo, abarcando a personalidade, os costumes, as casas, a alimentação, o espaço público, a cultura, a economia e a política dos holandeses. E contrasta-o muito bem por oposição a outras culturas, expondo a sobranceria e preconceito dos autóctones e a ficção da sociedade holandesa como muito aberta e integradora.
Ao ler o livro lembrei-me de uma historieta curiosa: Um meu familiar directo, jovem, esteve com um colega, entre Janeiro e Julho de 2016, a fazer um “Erasmus”, na universidade de Leiden. Uma das iniciativas integradoras levadas a cabo pela universidade consistiu em os alunos de cada nacionalidade prepararem um prato típico do seu país. Os dois amigos portugueses, depois da troca de uns “mails” e telefonemas com as mães, decidiram fazer um prato de arroz doce. Feita a cozedura, repararam eles que o arroz doce estava muito branco. Novo telefonema, em cima da hora, e ficaram a saber que se tinham esquecido dos ovos!, uma chatice que não podiam remediar. A custo foram para o encontro e lá colocaram o seu prato na grande mesa, rodeando-a para saborearem os acepipes dos outros. Porém, quando momentos depois voltaram ao local em que ainda devia estar o arroz doce desmaleitado, verificaram com espanto que não restava nem um grão… A explicação talvez esteja na página 74 deste livro de Rentes de Carvalho: «o capítulo das sobremesas [na Holanda] é de uma pobreza franciscana: rijstebrij, vla, griesmeelpudding… Cada uma mais insulsa que a seguinte». E, em nota de rodapé: «Rijstebrij: arroz doce sem ovos;», etc. Ou seja, os rapazes, sem querer, fizeram uma boa sobremesa… à holandesa, a que houve quem chamasse um figo.
Voltando às preocupações de Rentes de Carvalho, o (meu) receio é que se confirmem. Para o evitar, grande teria que ser o trabalho das famílias, das escolas e… dos políticos, se estes e aquelas partilhassem tais preocupações.

José Batista d’Ascenção

sábado, 7 de janeiro de 2017

“A Espada e a Azagaia”, livro dois de “As areias do imperador, uma trilogia moçambicana”, de Mia Couto

O ano passado, pelo Natal, recebi o livro um de “uma trilogia moçambicana”, intitulado “Mulheres de Cinza”, que li, com o mesmo agrado com que li vários outros do mesmo autor, e fiquei à espera do livro dois, este, intitulado “A Espada e a Azagaia”, que acabei por ler (só) este Natal. Estou à espera do livro três…
Mia Couto é um escritor extraordinário, um inventor de palavras, de conceitos e de ideias, que alarga e reinventa (legitimamente) a língua portuguesa (o que demonstra a inutilidade e inviabilidade do chamado acordo ortográfico que - até parece ironia - ele mesmo pratica…), que expõe a complexidade da alma humana nas suas grandezas e misérias: a beleza, o horror, o sentimento, a poesia, a crueldade, o amor, o ódio, o afecto e a raiva, o ciúme e a inveja, que se manifestam no bicho humano, seja qual for a terra em que nasce ou a que (sente que) pertence ou as teias de relações em que se vai entrelaçando.
A trama destes livros aborda a colonização portuguesa em África no final do século XIX, concretamente as acções militares que terminaram com a prisão de Gungunhana, imperador do Estado de Gaza (metade Sul do território de Moçambique), dando uma imagem muito impressiva do que eram as tropas portuguesas e a sua acção no terreno, assim como nos mostra com uma profundidade umas vezes comovente, outras hilariante, outras dramática, o sentir dos negros indígenas, de várias tribos, com as suas relações de interesse e, frequentemente, de rivalidade e de ódio, mas, sobretudo, põe a nu a psicologia dos seres humanos, quaisquer seres humanos (neste livro dois, estão envolvidos os portugueses, um suíço, uma italiana e os nativos africanos de várias tribos), e o que lhes é comum em virtudes e defeitos, em nobreza de espírito e animalidade, em generosidade e egoísmo, em coragem e cobardia, em inteligência e estupidez, em doçura e crueldade. Aspecto digno de nota é a osmose de culturas, de pensamento e de sentimento que leva as pessoas, em certos contextos, e ao fim de certo tempo, a (quase) perderem a identidade, nisso se tornando mais autênticas – mais medularmente humanas - nas suas aparentes contradições e imprevisibilidade de comportamento, como seja a “transmutação” de um padre… em mulher.
A escrita, com um estilo muito próprio, flui de modo imprevisto e surpreendente, comportando o objectivo e o fantástico, o racional e o irracional, o lógico e o desconcertante, numa elegância suave, mesmo quando narra ou descreve a violência mais crua. Mia Couto conhece muito bem a natureza humana. Só por essa razão o seu talento lhe permite escrever o que escreve e como escreve, com a profundidade, a autenticidade, a simplicidade, a beleza e a sabedoria que (se) revela nos seus livros. Sobre eles, gostaria de dizer mais e melhor, mas “a boca não me chegou às palavras”.
Assim mesmo, correndo o risco de ser injusto, particularmente em relação aos autores que me falta ler, e com uma ou outra dúvida, relativamente a outros que vou lendo, cada vez mais me vai parecendo que Mia Couto é o melhor dos autores portugueses contemporâneos: o mais original, o de obra mais bela e mais plural e mais universal. Do alto da minha insignificância, parece-me que Mia Couto merece o prémio Nobel da literatura, simplesmente, porque é melhor do que os autores que eu li que já o receberam, com excepção de Garcia Marquez. Obviamente, eu penso que quem dá um prémio, dá-o a quem quer, mereça-o ou não. Por isso, fiquei mal impressionado ao ver escritores portugueses com dor de cotovelo quando Saramago foi contemplado, o que, a meus olhos, reforça a ideia de que os que não contiveram o azedume menos que ele mereciam ser premiados. Grandeza de outro quilate teve-a Jorge Luís Borges, que escrevia divina e intemporalmente como mais ninguém, indiferente às políticas de atribuição do Nobel da literatura. Mas esse era um escritor de outra galáxia.
Voltando à Terra: Parabéns, obrigado e muitas felicidades para Mia Couto. 

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Um país para ricos, com pessoas (cada vez mais) pobres

Estádio Municipal de Aveiro (imagem obtida aqui)
Já este ano tive que fazer um percurso de trezentos quilómetros no sentido Norte - Sul, pelas auto-estradas A3, A1 (…) e A8 e depois o inverso, os mesmos trezentos quilómetros, mas agora pelas auto-estradas A8, (…), A29 e A3. O movimento era relativamente pouco, especialmente na A8 e muito particularmente na A29, em que viajei praticamente sem outros carros à vista. E pensava: para que servem duas auto-estradas paralelas, ambas próximas uma da outra e não muito longe da costa, num país rectangular, com uma largura compreendida entre centro e doze e duzentos e dezoito quilómetros (no sentido dos paralelos)? Trata-se de obras caras, com rendas proibitivas, que pagamos com língua de palmo.
Estádio Municipal de Leiria (imagem obtida aqui)
E este meu sentimento foi agravado quando, em Aveiro, passava uma "tangente", pela esquerda, àquele “elefante” espalhafatosamente garrido (e, pelo que dizem, inútil) que é o estádio de futebol construído para o euro 2014. Quase me apeteceu gritar: Viva Portugal rico! Vá lá que em Leiria não me veio à lembrança outro “paquiderme” do mesmo calibre, com a mesma utilidade… Seria demais para um dia só.
E responsáveis não houve. Que digo: não houve, não há, nem haverá.
Tal o povo tais os dirigentes que tem (tido). E assim vai continuar.
Os jovens válidos que emigrem.

José Batista d’Ascenção