domingo, 20 de março de 2022

Fragilidades da(s) democracia(s)

Depois dos sustos da pandemia vírica (ainda não extinta), as populações de muitos países almejavam por tempos de expansão e liberdade, como se isso fosse tão necessário como o ar que se respira. Nas democracias da Europa ocidental não se imaginava a situação de guerra que deflagrou no coração do seu espaço geográfico (e seu mal protegido “celeiro”…). Mas devia, porque a natureza humana é como é. Os (maus) instintos podem soltar-se em (todos os) momentos propícios, coisa que já devíamos ter aprendido há muito, se estudássemos História como a História merece ser estudada.

O “bicho homem” continua a ser um animal da natureza, por debaixo do verniz social que é a educação. E a educação é um conjunto de convicções e acções, muito mais do que alguma disciplina científica. Mesmo que deste modo a consideremos, em teoria, haverá sempre a crueza dos factos a acentuar a desconformidade entre desejos autênticos ou convencionais e a realidade. Realidade que, não obstante, não permite nem sugere que abdiquemos da educação, antes pelo contrário.

Vem-me isto a propósito do líder Putin, para mim um criminoso e um assassino, até agora impune. Ele e os que colaboram estreitamente com ele. O facto de serem muitos só acentua o carácter chocante e cruel do mundo concreto. As ditaduras são, em si mesmas, criminosas, mas criminosos há também, e numerosos, nas democracias, gozando de liberdade…

Educação, democracia e liberdade são flores frágeis de um mesmo jardim, que exigem atenção e cuidados permanentes – muitos cuidados.

José Batista d’Ascenção.

sábado, 12 de março de 2022

A escrita que devia ser bem escrita


Cada vez mais, nas televisões, nos jornais e nos mais diversos meios e suportes, vejo pessoas com particular responsabilidade cometerem erros de português que (me) fazem impressão.

Creio que a escola tem aqui uma enorme responsabilidade. Pego nos manuais de ensino que uso e espanto-me com páginas repletas de mapas conceptuais (caixas com termos unidas por linhas, cuja utilidade, a meu ver, se restringe a esquemas razoavelmente pequenos e claros); os exames e testes quase só com perguntas de opção (de letras ou cruzinhas), que tenho de imitar; a profusão de jogos “pedagógicos” que não exigem escrita; etc. Não admira que sejam poucos os alunos que gostam de escrever. E não são muitos os que o fazem escorreitamente, na nossa bela língua. Para mim são perdas de consequências mal medidas.

Depois há as confusões trazidas pelo chamado “acordo ortográfico” (de quem com quem e em nome de quem?), que muitos usam numas palavras e noutras não no mesmo texto (como também me acontece, por estar obrigado ao seu cumprimento, enquanto professor). E há ainda novas posições sobre a “igualdade de género”, que, tomada à letra, aumenta inutilmente o número de palavras num texto, sem lhe acrescentar clareza ou elegância.

O mal maior é que (me) parece que quase ninguém se importa (muito) com isto.

A nossa pátria não é a língua portuguesa bem escrita.

José Batista d’Ascenção.

PS: Putin é um criminoso frio, inumano e muito perigoso. A Europa tem (há muito) lideranças murchas. E não faltam nos meios de informação opinadores que contemporizam com ou justificam a invasão russa da Ucrânia - atribuindo a culpa aos ocidentais, vejam só! 

quinta-feira, 3 de março de 2022

A minha segunda cirurgia de otorrino, pela mão de excelentes jovens médicos num excelente hospital público

Dia 02 deste mês, cedinho, segui com confiança e a calma que pude, na companhia da Lurdes, para o Hospital de Braga.

Feitos os preparativos, na marquesa do bloco recebi os bons dias amistosos e o olhar incentivador da Dra Cátia Azevedo e passei de imediato a colaborar com a simpática anestesista. Os demais especialistas, envolvidos nas suas batas, não os distingui, no momento.

Às catorze horas, mais ou menos, acordava bem disposto no recobro. Transferido para o quarto, recebi a simpatia das funcionárias e da enfermeira, atenciosa e eficaz. O meu companheiro do lado oposto, o Sr José, que não ouve nem fala, nem por isso deixou de mostrar solicitude.

Passei bem a tarde. Antes e depois de jantar já respondi a mensagens de algumas pessoas.

Não quis a TV ligada nem à tarde nem à noite. Além da publicidade, o futebol deixou há anos de me interessar. E ambos me aborrecem. Por isso mergulhei na leitura de um clássico de aventuras que me faltava: “Miguel Strogoff” de Júlio Verne. Saboreei boa escrita e constatei, ainda que ficcionado, o sofrimento do povo russo siberiano às mãos dos tártaros, em guerra tão injusta como a que o líder actual da Rússia pratica sobre a Ucrânia, sofrimento que suponho igual em todas as guerras, de todos os tempos. Não parei a leitura até acabar. Para meu gosto, apesar da relação forçada entre a fisionomia e o carácter das pessoas, do desajuste da noção de raças humanas, da crença em presságios concretizados e de certo paternalismo machista, tudo marcas de um tempo. E em homenagem à Ucrânia, referida uma vez na obra, assim como a cidade de Kiev (pg. 355).

No dia 03, acordei cedo e igualmente bem disposto. Após o pequeno almoço tive a visita do Dr Nuno Costa, meu brilhante ex-aluno (no ensino secundário), que também participou na cirurgia e me esclareceu resumidamente do que foi feito.

Ao Hospital de Braga, aos seus funcionários e equipas de enfermeiros e de médicos, deixo registo do meu agradecimento.

José Batista d’Ascenção.