sábado, 26 de novembro de 2022

Rio Paiva

Hoje, com caudal forte, sonoro, impetuoso e turbulento. Muito bonito. Nas margens ainda há vegetação e alguns animais típicos, pouco visíveis nesta época, também porque há bastantes pessoas em circulação nos passadiços. Ao vivo, uma ou outra lagartixa, nas faces de quartzitos expostas ao sol, uma rapina lá muito ao alto e um esquilo meio dormente, cosido ao tronco de um carvalho, foi quanto vimos. De onde em onde alguns painéis com imagens e texto explicativo dos exemplares mais significativos. Um em particular mereceu a nossa atenção, pela referência à planta liliácea Hyacinthoides paivea, assim designada em «homenagem ao ilustre botânico português Jorge Paiva».

Havia competições de “rafting”, o que terá trazido alguns espectadores.

A paisagem seria globalmente deslumbrante, se, a algumas dezenas de metros de altura relativamente à água, de um e de outro lado, nas margens, até aos cumes, não medrasse um eucaliptal pegado. Na opinião do taxista que nos trouxe de volta de Espiunca a Areinho, onde iniciámos a caminhada (de cerca de 8,5 km), os eucaliptos secam os solos, mas são uma riqueza para os donos. Também são um material propício para os incêndios e desfeiam uniformemente a paisagem, além de não serem favoráveis aos animais que eram típicos da nossa floresta, acrescentei eu. E a conversa morreu assim.

Ao centro, em cima, uma "marmita de gigante", em "laboração"

O trajecto valeu a pena, não tanto pelas atracções que procuram trazer gente que traga dinheiro para a região, como notou o nosso motorista: mais importante é a riqueza que (lá) havia e há, que não se traduz (talvez) em dinheiro vivo, mas que tem elevado valor intrínseco e primordial.

Se o considerássemos como merece.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 22 de novembro de 2022

O pontapé na bola e a negação do estado de direito

Se o assunto fosse para graças, diria que também joguei à bola, que nunca perdi por mais de dez e que era frequentemente um elemento desequilibrador, especialmente em desfavor da minha equipa.

Mas o caso é sério. Afinal o que valem os (chamados) «direitos humanos»? E porque é que o futebol é um mundo à parte na justiça e nos negócios?

Bem sei: as pessoas, na sua maior parte, são apaixonadas pela modalidade, entendem-na facilmente, identificam-se com os seus protagonistas e vivem-na de modo intenso, até para esquecerem as agruras da vida e se evadirem do castigo que é sofrer as medidas governativas dos políticos e a violência da subjugação imposta pelos donos do dinheiro.

Já os poderosos e os políticos tiram os benefícios que podem da alienação futebolística: os primeiros através de negócios muitas vezes opacos e os segundos mediante o adormecimento dos eleitores.

Os jogadores de eleição, esses, em número restrito relativamente à globalidade dos praticantes, auferem quantias estratosféricas, muitas vezes fugindo ao pagamento de impostos.

Que importa que o dinheiro envolvido seja de proveniência duvidosa e que finte as regras das finanças? Pior, qual é o problema de entregar a organização de campeonatos mundiais a países corruptos e sem o menor vestígio de respeito pelo que deviam ser direitos inalienáveis dos cidadãos, especialmente das mulheres e das pessoas desconsideradas por preconceitos sociais? Não importa nada. Não há problema nenhum.

Antes pelo contrário: falam-nos de patriotismo, de apoio aos nossos atletas, da importância de projectar o nome de Portugal no mundo.

É diverso o meu conceito de patriotismo. E gostava que o nome do meu país se tornasse relevante por outros motivos, como seja o da exigência de um módico de ética e de respeito por quaisquer pessoas.

Daí que não entenda nem aceite que vão a correr para o "Catar" (que raio de nome!) o presidente da república, o presidente da assembleia da república e o primeiro-ministro.

Mesmo que Portugal ganhe a competição, o ganho será à custa de valores maiores que esquecemos. E, ganhe quem ganhar, será uma legitimação do país anfitrião em que vigora um regime político execrável, com a colaboração de todos os que participam.

O que retirará dignidade ao vencedor, brilhante e merecedor que seja, quer se queira quer não.

Pertenço ao grupo dos que não rejubilarão, na hipótese de não ser o único.

José Batista d’Ascenção

Adenda: Uma palavra de apreço aos corajosos, futebolistas ou jornalistas, que, no "palco", têm assumido posições de crítica e de defesa dos direitos humanos. Muito merecidamente.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Falha de electricidade durante uma manhã que devia ser de trabalho

Em dia chuvoso, a luz natural é parca e cinza. O interior da casa, mesmo com persianas e estores levantados, fica numa certa penumbra. O computador revela, afinal, fraca autonomia, que não vai além de duas dezenas de minutos. E o que havia a fazer requeria umas imagens a colher na “rede”, que ficou inacessível.

Fica-se sem saber o que fazer. O desconforto é mais acentuado porque a situação se prolonga por horas.

O almoço não pôde ser preparado, o que obrigou a alternativa pouco consoladora. O portão da garagem teve que ser aberto e fechado manualmente, o que se tornou incómodo devido ao hábito adquirido.

Enfim, uma manhã decepcionante, que nem a leitura, como recurso, compensou. É muito difícil abdicar das rotinas de conforto da nossa vida de dependentes consumistas.

E veio-me ao pensamento a vida de pessoas como a das que vivem na Ucrânia (sujeitas a uma operação militar especial de invasão e destruição assassina), mas também a dos pobres, do meu e de todos os países, que não têm pão, nem casa, ou que, tendo-a, só nela abunda a miséria da falta de tudo.

Que sorte eu tenho.

José Batista d’Ascenção