segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Secas, fogos, inundações e fartura de misérias

Foto de Margarida Machado, colhida no "facebook"

Há três meses apenas Portugal estava em seca severa. No Verão, os fogos lavraram como é hábito num país que não consegue gerir a floresta desde há muitas décadas e se tornou num imenso eucaliptal, ironicamente, em tempos de liberdade restaurada. A bem das celuloses, mas com danos mortais, e não poucos, e grandes prejuízos materiais e ecológicos projectados para o futuro. Quem viver verá.

Com a entrada do Inverno chegaram chuvas diluvianas intermináveis. Os campos ressequidos e as albufeiras vazias deram lugar ao encharcamento dos solos, às enxurradas violentas, a ruas transformadas em rios e a rios transmutados em mares bravios com as barragens a transbordar. Zonas baixas de cidades e aglomerados habitacionais viram garagens e caves ou lojas de rés-do-chão inundadas com destruição de mobilário, de produtos e de equipamentos. Em muitos casos, estas situações não eram imprevisíveis e só uma certa ignorância conformista entregue à sorte permitia não as recear.

Que diabo: não seria possível instalar depósitos que recebessem a água de beirados, poços que servissem de reservatórios, construir diques (açudes…) em ribeiras e pequenos rios que permitissem reter o precioso líquido durante pelo menos alguns meses de estio em zonas secas, ou mesmo sistemas de transferência de água entre cursos fluviais devidamente estudados, evitando que quase toda a que agora chove se escoe rapidamente para o mar?

Que povo somos?, apetece perguntar. E há quanto tempo somos como somos, com as consequências que sofremos é também interrogação legítima.

Não nos faltam especialistas de todas as áreas, nem académicos e investigadores reconhecidos, mas no concreto, pouco ou nada muda. Sejam engenheiros ou economistas, médicos ou homens de leis, industriais ou agricultores. Quem falha então?

O conhecimento, a prudência, o sentido de responsabilidade, a ética e os princípios, talvez. E a acção dos políticos, seguramente.

O mal é de raiz.

O que falha é a educação e a instrução que não damos [ai de nós, pais!, ai de nós, professores! – que formações da treta nos impingiram e que condições nos impõem] e a falta de rectidão de quem exerce o poder, perante a indiferença ou a conivência de demasiados cidadãos incapazes de o ser.

E isto não se remedeia com salvadores providenciais, que tendem para a negação e destruição da democracia, que entre nós carece de grande aprofundamento.

José Batista d’Ascenção