terça-feira, 14 de março de 2023

Eça de Queirós, por Jorge Luís Borges - um génio pela pena de outro génio

[…] «Famoso na sua pequena e ilustre pátria, José Maria Eça de Queirós (1845-1900) morreu quase ignorado pelas outras terras da Europa. A tardia crítica internacional consagra-o agora como um dos primeiros prosadores e romancistas da sua época.

Eça de Queirós foi esta coisa um tanto melancólica: um aristocrata pobre. Estudou direito na Universidade de Coimbra e, uma vez terminado o curso, desempenhou um cargo medíocre numa província medíocre. Em 1869 acompanhou o seu amigo, o conde de Resende, à inauguração do canal de Suez. Passou do Egipto para a Palestina, e a evocação dessas andanças perdura em páginas que muitas gerações lêem e relêem. Três anos depois ingressou na carreira consular. Viveu em Havana, em Newcastle, em Bristol, na China e em Paris. O amor à literatura francesa nunca o abandonaria. Professou a estética do Parnasso e, nos seus muito diversos romances, a de Flaubert. Em O Primo Basílio (1878) notou-se a sombra tutelar de Madame Bovary […]

Cada oração que Eça de Queirós publicou fora limada e temperada, cada cena da vasta obra múltipla foi imaginada com probidade. O autor define-se como realista, mas esse realismo não exclui o quimérico, o sardónico, o amargo e o piedoso. Como o seu Portugal, que amava com carinho e com ironia, Eça de Queirós descobriu e revelou o Oriente. A história de O Mandarim (1880) é fantástica. Uma das personagens é um demónio; a outra, a partir de uma sórdida pensão de Lisboa, mata magicamente um mandarim que lança o seu papagaio de papel num terraço que fica no centro do império Amarelo. A mente do leitor hospeda com alegria essa impossível fábula.

No final do século XIX, morreram em Paris dois homens de génio, Eça de Queirós e Óscar Wilde. Que eu saiba, nunca se conheceram, mas ter-se-iam entendido admiravelmente.»

In: Jorge Luís Borges, Biblioteca Pessoal. Quetzal Editores. Lisboa, PORTUGAL, 2022. 23-24 p.

Nota 1: Digitado de novo, o texto foi reescrito segundo a ortografia pré-acordo ortográfico de 1990.

Nota 2: Jorge Luís Borges, um gigante da literatura mundial de todos os tempos, nasceu em Buenos Aires, em Agosto de1899 e morreu em Genebra, em Junho de 1986.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 9 de março de 2023

O brilhantismo do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa

Acabei de ver e ouvir a entrevista do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas Manuel Carvalho e António José Teixeira, na RTP1. Impressionante. Os jornalistas até podiam não ter feito qualquer pergunta, que Marcelo Rebelo de Sousa exporia o que tinha a expor sobre cada uma delas com uma preparação política e de princípios irrepreensível, servido por uma clareza e poder de incisão exemplares. Excelente sobre todos os temas. E terminou pronunciando-se sobre os abusos sexuais por padres da igreja de uma forma extraordinariamente feliz.

Sou dos que sentem algum cansaço com os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa sobre tudo a todo o tempo, mas hoje, agora, sinto um grande orgulho em ter votado nele.

Muitos parabéns.

E obrigado.

José Batista d’Ascenção