quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Eucaliptugal, meu país para queimar

Quem viaja pelas estradas do centro e norte do país está habituado a não divisar nos horizontes arborizados muito mais que fustes e ramadas esguias em extensões enormes pintadas do verde fusco dos eucaliptos, para além de áreas consideráveis de plantações de árvores jovens da mesma espécie, de cor azulada.

Há poucas décadas não era assim. Depois dos incêndios tenebrosos de 2017 e 2020, a multiplicação espontânea, a partir das sementes infinitas das árvores ardidas, tomou os espaços de uma forma avassaladora.

Entretanto, o país continua desertificado a escassas dezenas de quilómetros do mar, o mato cresce, não há limpeza nem gestão do espaço que devia ser florestal - a monocultura não é propriamente floresta – e, por isso, quando as temperaturas ultrapassam os 35 ºC e a humidade é muito baixa, desencadeiam-se incêndios que, no estado actual do conhecimento e da técnica, não são controláveis.

As zonas rurais, onde eucaliptos e alguns pinheiros com muito mato por baixo, tudo a crescer e a fazer acumular matéria morta combustível no solo, são paióis prontos a deflagrar à mais leve ignição, o que acontece inevitavelmente, por acidente natural ou humano ou por acção intencional.

O estado das coisas é, em bom rigor, criminoso. Os criminosos somos nós, os políticos, do topo à base e vice-versa, e os outros, os que, errada ou hipocritamente, não se julgam ou não se reconhecem nessa condição. Temos os políticos que merecemos.

Nas televisões, vejo frequentemente casas envolvidas por chamas ou em perigo disso, sendo que, nas mesmas envolvências lá estão os sempre presentes eucaliptos e, nalguns casos, pinheiros (bravos). Estas espécies são muito propícias a arder.

Custava alguma coisa estipular na legislação que a sementeira, plantação ou crescimento aleatório de plantas das espécies Eucalyptus globulus e Pinus pinaster não são permitidas a distância mínima (50 m?) das habitações, responsabilizando os donos dos terrenos e as autarquias e permitindo que os habitantes dessas casas possam abatê-las e removê-las?

José Batista d’Ascenção

domingo, 15 de setembro de 2024

A placidez de Setembro

 

Saboreando a quentura da manhã, da mesa da esplanada olho o magnífico carvalho americano à minha frente, e contemplo o verde intenso da folhagem que, dentro de dias, há-de (começar a) matizar-se em tonalidades de vermelho, castanho e amarelo, que muito aprecio.

Esta é a altura do ano em que, no exterior das paredes, mais me dou a olhar ao longe, para, em paz de espírito, afagar sentimentos íntimos.

Como vão filhos e netos, lá longe? Como retomaram o quotidiano da casa, do trabalho e da escolinha? Como vou receber os (meus) alunos, amanhã, e como lhes vou fazer sentir que eles são tão importantes para mim como o vencimento que recebo todos os meses?

Escrevinho isto meia hora antes de os amigos de tertúlia chegarem. Também eles fazem parte do recomeço. Também eles fazem parte da minha normalidade.

O Outono é o meu reinício. Com expectativa e algum receio tomo caminho.

Com ternura, também.

José Batista d’Ascenção