domingo, 25 de março de 2018

«O bailinho do eucalipto no caixão do pinheiro»

Artigo de João Camargo no jornal «Público» de 24 de Março de 2018 (página 61)


Imagem obtida aqui
Ontem, ao fim da manhã, voz respeitada alertava-me para um texto imperdível sobre o que é fundamental ter em conta nas questões da floresta no nosso país. Só mais tarde pude ler. Realmente, aquele texto, que nem é longo, toca no que é essencial, mas que nos escapa com alguma facilidade, presos que estamos na rede de interesses económicos poderosos que extrai da floresta tudo o que pode, indiferente ao prejuízo humano, ambiental e económico, de ontem, de hoje e do futuro e que, socorrendo-se de informação parcial, publicidade ou propaganda, impede que vejamos claro o que está em causa. Entre outras coisas, ali se diz:
«Os dois maiores incêndios de sempre em Portugal ocorreram a 15 de Outubro na Lousã e em Arganil, queimando 65 mil e 38 mil hectares. Foi a primeira vez que existiram megaincêndios na Europa no Outono.
(…)
Fonte da imagem
Ainda assim, no centro do segundo maior incêndio de sempre em Portugal, o de Arganil, houve uma pequena mata pública que persistiu. A Mata da Margaraça, composta por carvalho-alvarinho, castanheiros, aveleiras, ulmeiros, cerejeiras, nogueiras, medronheiros, loureiros e azereiros, uma “relíquia” de florestas do passado, viu menos de 20% da sua área arder, apesar de estar cercada por fogo de todos os lados. A sua estrutura de espécies e de ecossistema conseguiu reduzir a intensidade do fogo dos extremos para o centro. A composição e interacção de espécies “combateu” o incêndio e o seu núcleo, mais maduro, ficou intacto, como destaca o relatório [da comissão técnica independente].
(…)
Existe uma preferência por espécies [como o pinheiro-bravo e o eucalipto] nos incêndios, que é perceptível até num ano infernal como 2017. Só a discriminação contra as espécies florestais que não dão dinheiro imediato justifica este triste bailinho e regozijo pelo facto de o pinheiro-bravo, espécie em profundo declínio no nosso território, ter ardido mais do que o eucalipto, a espécie mais plantada do país. [Mas] essa é uma informação que, sozinha, diz pouco mais do que nada.»

Nota: os excertos aqui publicados dão uma ideia muito importante mas parcelar do que está em causa, motivo por que não dispensam a leitura de todo o artigo.

José Batista d’Ascenção

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