terça-feira, 17 de março de 2020

Do meu postigo, digo a certo vírus e aos outros

Imagem colhida do portal sapo (www.sapo.pt), hoje
Não sabemos quantas pessoas estão infectadas. Seguramente, são muit(íssim)as mais do que aquelas de que se suspeita. Algumas das «gripes» não diagnosticadas dos últimos dias ou semanas podem ter tido a mesma origem. Nalguns casos, particularmente em jovens, a infecção provoca sintomas ligeiros ou passa despercebida. Oficialmente, ontem morreu a primeira pessoa em Portugal contaminada com o novo agente viral. No mundo, as mortes contam-se por milhares. São muitas «vitórias» para uma partícula biológica de tão ínfimo tamanho. As perturbações pessoais e sociais são dolorosas. O medo toma-nos de forma insidiosa. As perdas económicas podem ser dramáticas. Como é que os seres humanos, as sociedades e os países, especialmente nos casos de (maior) pobreza se vão erguer, quando a tormenta passar, é um problema para daqui a pouco tempo. Concentremo-nos no essencial em cada momento. Por agora, o que mais importa é conter o aumento exponencial de novas infecções, facilitar o trabalho das equipas de saúde, manter um espírito positivo, estar disponível para ajudar ou socorrer, cuidar dos mais pequeninos e idosos e continuar a acompanhar as crianças e os jovens em idade escolar.
Há aspectos positivos que não são ainda muito visíveis: cada dia que passa haverá mais pessoas com imunidade ao «coronavírus». Muitos doentes recuperam e ficam, também eles, imunizados. Isto não obstante haver mais do que uma variedade do mesmo vírus. Claro que, por agora, não sabemos que pessoas já terão desenvolvido imunidade, o que exige todas as cautelas, mas serão cada vez mais. Se alguém, há muitos dias, teve contactos próximos e repetidos, sem protecção, com alguma pessoa reconhecidamente doente, na fase sintomática, está provavelmente imune (embora nesta fase não se deva arriscar a exposições, para minimizar o enorme perigo de contágio).
A ciência ainda não elucidou a razão da existência de vírus, partículas que não respiram, não crescem, nem emagrecem, e que são montadas peça a peça, dentro das células vivas (que parasitam e destroem), com materiais bioquímicos: basicamente, moléculas genéticas num invólucro de proteínas. O crescimento da humanidade terá sido sempre limitado por infecções víricas e bacterianas (as bactérias são células vivas, também elas atacadas por alguns vírus). A descoberta das vacinas e dos antibióticos tinham-nos habituado à segurança na saúde desde a sua aplicação. Tão ignorantes e avaros se tornaram alguns, no seu conforto, que desataram a atribuir-lhes males improváveis. Prouvera que esta tragédia reduza drasticamente atrevimentos desse tipo. Para o conseguir, não há que descurar o ensino das crianças e dos jovens.
Vais ceifar-nos umas quantas vidas, vírus. Mas não vais roubar-nos o gosto de viver. Nem a coragem de te enfrentar. Não vais.

José Batista d’Ascenção

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