segunda-feira, 6 de abril de 2020

Os vírus, nós e as perspectivas do nosso futuro, por quem sabe e sabe pensar.

A importância do saber fundamental, pelo investigador português Arlindo Oliveira, do Instituto Superior Técnico - excerto do jornal «Público», de hoje (1).
Imagem da Wikipédia

[O] …«processo, de evolução exponencial de um vírus, de uma bactéria ou de outro animal ou vegetal, está na origem da vida e na criação de todas as espécies que existem. Há milhares de milhões de anos, as primeiras estruturas [que começaram por ser moléculas e agregados de moléculas orgânicas], usando mecanismos que desconhecemos, conseguiram reproduzir-se de forma exponencial e iniciaram a colonização do planeta. Ao longo desses milhares de milhões de anos, as espécies tornaram-se mais eficazes neste processo, desenvolvendo novos mecanismos para identificar comida e evitar os inimigos. As células individuais agregaram-se em grandes colónias, que partilham o mesmo ADN [sigla de “ácido desoxirribonucleico”, a molécula que contém o código das características hereditárias], conduzindo aos organismos multicelulares, animais e plantas. A capacidade de processar informação veio a revelar-se chave na competição pela sobrevivência, e a pressão evolutiva fez com que se desenvolvessem cérebros, cada vez mais complexos. Cérebros suficientemente avançados levaram à criação de cultura, ciência e tecnologia, que temos agora ao nosso dispor para combater os nossos inimigos. Todos os dias, as diferentes espécies lutam para sobreviver e se reproduzir, desde os organismos mais complexos, como os seres humanos e os elefantes, aos mais simples, como os vírus, que precisam de [se] infiltrar [nas células dos] seres vivos para se reproduzirem.
Esta Primavera, em que combatemos um novo vírus, é apenas mais um episódio nesta luta pela sobrevivência, que dura há milhares de milhões de anos. A espécie humana tem, do seu lado, uma capacidade única para perceber os mecanismos usados pelas outras espécies. É essa capacidade, a inteligência, que nos distingue dos animais e dos outros organismos. É essa capacidade que nos permitirá ultrapassar, sem danos significativos para a civilização, mais esta batalha pela sobrevivência. Que não será a última, nem a mais severa. Outros vírus, outras bactérias e outras doenças, potencialmente mais letais, continuarão a ameaçar a nossa sobrevivência como indivíduos e, no caso mais dramático, como espécie. Mas a inteligência humana coloca do nosso lado um arsenal de capacidade inigualável, que nos permitirá combater qualquer ameaça desta natureza. O maior inimigo da espécie humana não são os vírus, as bactérias ou qualquer animal. O nosso maior inimigo somos nós mesmos porque, pela primeira vez, uma espécie tem a capacidade de se autodestruir. Esse é o maior risco para a espécie humana, aquele contra o qual devemos estar precavidos e atentos.»

(1) Excerto do artigo «Vírus e Elefantes», do Professor Arlindo Oliveira, do Instituto Superior Técnico.
In: jornal «Público», de 06 de Abril de 2020, página 19 da versão impressa.

(2) Entre parêntesis rectos, acrescentos da responsabilidade de quem afixou o texto.

Afixado por José Batista d’Ascenção

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