domingo, 20 de novembro de 2016

“Civismo” à portuguesa (baixa)


Com o avançar da idade, por razões preventivas, e mais tarde devido a recomendação médica, comecei, como tantas pessoas, a fazer algum exercício físico, especialmente ao fim de semana: uma corrida em ritmo (muito) lento, umas flexões mal feitas e pouco mais. Com um amigo, primeiro, e com familiar, mais tarde, procurei sítios agradáveis, onde a actividade fosse (mais) convidativa.
Actualmente, e desde há algum tempo (dois anos, talvez…), vou acompanhado de familiar até um local magnífico na margem do rio Cávado, onde uma junta de freguesia terá gasto uns trocos para compor uma pista de terra batida, à beira-rio, num percurso de cerca de um quilómetro. O rio largo e cheio naquele local, as árvores sobre o trilho de corrida, muitas aves: melros, gaios, corvos, patos selvagens e uma ou outra garça dão um toque de natureza autêntica nas imediações da cidade [ontem e há oito dias pude apreciar umas quantas dezenas de patos formados em V e não pude deixar de pensar sobre durante quantos anos mais será (ainda) possível observar este fenómeno naquele sítio].
Ali andam muitas pessoas, umas caminhando apenas, cá e lá, lá e cá e outras, como eu, a fazer que correm. Há quem aproveite para passear os cães: uns com apenas um exemplar, outros com dois ou com três. Quase todos os levam soltos, excepção aos passeantes mais jovens que preferem segurá-los pela trela, cumprindo as recomendações afixadas num e no outro extremo do circuito (ver imagem acima). A maioria dos animais é perfeitamente pacífica, o que dá certo sossego aos que apenas ali vão praticar exercício, mas não é assim em todos os casos, infelizmente, para mim.
Há um senhor que gosta de passear com o seu cão, sendo que o cão não gosta de mim. Particularmente quando visto fato de treino, cujo tecido sintético faz um ruído característico sempre que corro, o animal investe comigo de forma ameaçadora. Paro, até o senhor acorrer e acalmar o bicho e só depois prossigo. Incomodado por ver que me incomoda, o homem faz questão de jurar que o animal não me morderia, que só reage por brincadeira, mesmo quando tem o pelo eriçado e as dentuças arreganhadas. E, por mais que uma vez, recomendou-me enfaticamente: «bòte-l’a mão! bòte-l’a mão!, supondo eu que isso significaria afagar fisicamente o cão, sem compreender como me seria possível fazê-lo. Limitando-me a ficar quieto e calado, mas sempre de frente para a “fera”, devo ter decepcionado repetidamente dono tão extremoso. Outro é o caso de uma senhora que costuma passear com dois cães: o maior deles ladra furiosamente em direcção a mim, a senhora desata aos gritos (com o cão), aproxima-se, agarra-o e coloca-lhe a trela. A cena acaba aqui. Até à próxima vez. Um destes dias encarei-a nos olhos e saiu-me de forma seca: «minha senhora, um dia destes zango-me e então não sei quem de nós vai ficar pior». Ficou encabulada. Mas sem emenda.
Estas pessoas que procedem assim passam da meia-idade e aparentemente não aprendem. Penso no assunto e interrogo-me sobre se alguns animais não reagem como reagem devido aos donos que têm, talvez por algum curioso modo de influência… não sei. Nas vezes em que isto me deixa mais aborrecido chego a desejar que houvesse algum organismo que verificasse e impedisse certas pessoas de terem animais.
Outro aspecto desagradável é quando durante ou após o “treino” me apercebo da porcaria e do fedor na sola das sapatilhas, de que custosamente procuro libertar-me. Tudo porque há gente pior que os animais. Ressalvo, no entanto, que os jovens têm uma atitude bem diferente, e ainda bem.

José Batista d’Ascenção

Sem comentários :

Enviar um comentário