domingo, 19 de março de 2017

Sobre o que chamam «o dia do pai»

Desde muito cedo procurei transmitir aos meus filhos a ideia de que todos os dias são dias do pai, dias da mãe, dias dos avós, etc. Quando, criancinhas, chegavam do jardim-escola ou mesmo da que, no meu tempo, chamávamos «escola primária» (um nome bonito, no sentido de: base, alicerce, fundamento…), muito contentes com uma qualquer quinquilharia, que haviam feito por indução dos professores, abraçava-os e beijava-os com todo o carinho e guardava o presente. Ainda hoje tenho alguns. Mas, quando achei que já entendiam, logo os fui alertando para a conveniência de protagonizarmos o amor em família, de uns pelos outros, e a amizade com os nossos amigos, sem a preocupação de dar ou receber prendas. Lá lhes fui dizendo que as melhores prendas somos nós mesmo quando nos sentimos bem junto uns dos outros, familiares e amigos, e procuramos estar atentos e disponíveis para, em todas as situações propícias, fazermos o bem sem olhar a quem.
A sociedade actual evoluiu para um consumismo desenfreado que usa as pessoas e é muito eficaz em transformá-las em motivo de mais e mais consumo, dando e recebendo tralha, a maior parte das vezes de fraco préstimo, a qual se acumula sem beleza nem função e acaba, em tantos casos, no lixo.
Tudo serve como pretexto para comprar coisas. O comércio é muito hábil e por isso se sucedem os dias mundiais para tudo e mais alguma coisa, a que se somam aqueles dias comemorativos de outras culturas que zelosamente copiamos e em que as escolas se empenham eficazmente como talvez não devessem: veja-se o caso do “halloween”!
Quanto aos dias mundiais de qualquer coisa, e exceptuando aqueles que justificadamente ganharam significado cívico ou político, ao ritmo a que as coisas levam, já tenho gracejado que, dentro em pouco, não vão chegar os dias do ano para todos os motivos fúteis que se querem comemorar. E, nessas alturas, sugiro mesmo que se passem a utilizar meios-dias comemorativos, que é uma boa forma de, por saturação, fazer com que as pessoas deixem de lhes ligar, como, de resto, já vai sucedendo com certos dias disto e daquilo, e ainda bem.
Hoje, adultos, os meus filhos sabem como sou e respeitam-me assim. E isso agrada-me, tanto quanto me agrada pensar que quanto menos bugigangas sem préstimo receber menos contribuo para a saturação de resíduos do planeta e para a exaustão dos seus recursos.
Aos meus alunos (também) procuro transmitir a mesma ideia, e não posso dizer que boa parte deles não seja receptiva.

José Batista d’Ascenção

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