terça-feira, 5 de dezembro de 2017

«Boas-Festas», por Jorge Paiva

Recebi hoje, com atraso, via CTT, o postal de «Boas-Festas» do meu querido Professor e Amigo o Doutor Jorge Paiva. Os cartões de Natal do Professor Jorge Paiva são lições de pedagogia, de civismo, de cidadania e de ecologia, com vista à preservação do futuro da humanidade num planeta – a nossa «gaiola» Terra – em que a biodiversidade decresce vertiginosamente pondo em perigo a espécie humana, devido à acção dos indivíduos da... espécie humana.
De modo sucinto e claro, rigoroso, firme e persistente, o texto, com versões em duas línguas (português e inglês), reza o seguinte:


«UMA ÁRVORE DE NATAL ESPECIAL

Vivemos hoje numa sociedade cuja preocupação predominante é produzir cada vez mais e com maior rapidez, de modo a conseguir-se o máximo lucro, no mais curto espaço de tempo. Por isso é que a plantação do eucalipto foi e é tão incentivada, pois o eucalipto é de crescimento muito rápido, o que levou à sua profusa e desordenada expansão, assim como a do pinheirobravo, tendo-se coberto a maior parte de Portugal com formações florestais mono-específicas (eucaliptais e pinhais), contínuas, adjacentes e facilmente inflamáveis pela elevada concentração de produtos aromáticos dos eucaliptos e resina dos pinheiros. Assim, em vez da floresta nativa, os carvalhais, fagosilva (do grego phagós = carvalho e silva = floresta), passámos a ter uma ignisilva (do latim ignis = fogo, ardente e silva = floresta).
Há séculos que temos florestas de produção mono-específicas com árvores nativas, como são os azinhais e os sobreirais. Sabemos como são altamente rendíveis e não inflamáveis os montados de azinho e de sobro. Não é por acaso que o sobreiro (Quercus suber L.) é a nossa “Árvore Nacional” [Resolução da Assembleia da República n.º 15/2012, publicada no Diário da República (artigo 28.º), 1ª série, n.º 30, de 10.01.2012] e não o eucalipto, embora um ministro tenha considerado o eucalipto como o “petróleo verde” de Portugal. Realmente, arde tão bem ou melhor do que o petróleo. Mas um sobreiro e uma azinheira, que são carvalhos (Quercus), crescem muito mais lentamente do que o eucalipto e isso não interessa, pois numa sociedade de mercado, só é relevante o máximo lucro, no mais curto espaço de tempo.
Além disso, devido ao actual “Aquecimento Global”, Portugal está a ter verões mais quentes, mais secos e de maior amplitude. Ora, as únicas árvores que temos, capazes de suportarem estas novas condições, são, precisamente, os sobreiros e as azinheiras.
É, pois, necessário repensar a floresta de produção e ordenar o país. Mas isto levará muitos anos, pois sobreiros e azinheiras são árvores de crescimento lento e o ordenamento do território é muito trabalhoso e demorado. Porém, isso já foi feito no Ribatejo e Alentejo. Os montados de sobro e de azinho demoraram dezenas de anos a formar-se, mas hoje são rendíveis e sempre com o mesmo número de árvores pois, conforme vão morrendo, vão sendo substituídas por outras.
Façamos votos para que a época festiva do final do ano ilumine a consciência dos governantes e políticos de Portugal de modo a não continuarmos a ter “piroverões.”

Feliz Natal e Próspero Ano Novo

Jorge Paiva, 2017»

Um grande obrigado.

Afixado por: José Batista d’Ascenção

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