sábado, 2 de dezembro de 2017

O sol que não aquece e a chuva que não vem

Valores da precipitação média anual entre 1961-1990, em Portugal Continental.
Imagem obtida aqui.
Nesta altura, e por se prolongar tanto, o bom tempo não é um tempo bom. Falta água, no céu, nos solos, nos lençóis freáticos, nos rios e nas suas barragens. Em certas zonas do país chegámos ao ponto de transferir água em camiões de umas albufeiras para outras. «Nuestros hermanos» captam e transferem a água dos grandes rios, como é o caso do Tejo, reduzindo os caudais que chegam até nós, a tal ponto que põem de sobreaviso o governo e as entidades responsáveis no que respeita ao cumprimento das regras internacionais de gestão dos cursos de água que atravessam mais do que um país.
Por enquanto, a água continua a chegar às nossas casas em condições de boa potabilidade e em quantidade suficiente, mas cabe às autarquias e aos cidadãos o cuidado de reduzir todo e qualquer gasto supérfluo. Cabe-nos também a enorme responsabilidade de sujar e poluir o mínimo possível a água de que dispomos, seja em casa, seja no ambiente: uma gota de óleo alimentar usado polui um litro de água, o que significa que devemos ter a máxima atenção à recolha doméstica e reciclagem dos óleos usados, assim como devemos ser responsáveis evitando deixar quaisquer resíduos, dos plásticos a outras embalagens ou produtos, nos solos e nos cursos de água. Quanto mais cuidado tivermos mais preservamos a qualidade da água, agora e no futuro, e menos gastos serão necessários para a tornar adequada ao consumo humano e agrícola, amenizando o agravamento do preço a que te(re)mos que a pagar.
As crianças são muito sensíveis aos ensinamentos deste tipo e por isso, em casa e na escola, devemos insistir nos cuidados da poupança de água, nos gestos simples da actividade doméstica (tempo de lavagem dos dentes com a torneira aberta, descargas dos autoclismos, duração e tipo dos banhos, etc), mas também no rigor da gestão hídrica que cabe às entidades específicas responsáveis, assim como num criterioso uso agro-industrial da água. Matéria que exige muita atenção e mudança de hábitos é a cada vez mais necessária contenção na produção e eliminação de resíduos que degradam o ambiente e poluem o precioso líquido.
Portugal continental, repetidamente queimado no Verão e com a falta de água que se acentua de ano para ano, caminha para a desertificação que pode fazer do Algarve e do Alentejo um prolongamento do Saara (1) e do Minho uma província cada vez mais castanha e menos verde…
E como é bonito e diverso, o nosso país! Imagine-se como seria se os portugueses cuidassem dele como deviam.
Mais vale tarde do que nunca. Em favor dos nossos filhos e netos. E dos netos deles…

José Batista d’Ascenção

(1) De acordo com o Professor Galopim de Carvalho, esta afirmação não é correcta, pelo que a suponho desaconselhável mesmo em termos figurados.  Diz ele:
«Estas condições climáticas não prenunciam que, nos próximos milhões de anos, o Sul do País se transforme num deserto de areia, como o Sara, ou rochoso, como o Negueve, em Israel, ou outro, entre os muitos conhecidos. 
Ao falarmos em desertificação nesta parcela do território, estamos a voltar à raiz latina da palavra, isto é, focando o abandono das terras pelos seus naturais. Saímos, pois, do domínio da Geologia, cabendo aos sociólogos e aos políticos a tarefa de a explicarem.»
Aqui.
Fala quem sabe. Não há mais que agradecer-lhe.

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