sábado, 1 de setembro de 2018

Luz de Lisboa (III)

A Fuga para o Egipto (1730)
Manhã seguinte e fomos, os dois «velhos», por especial recomendação, ver o «Museu Nacional do Azulejo». Não podíamos imaginar o que perdíamos se não tivéssemos ido: muito completo, muito elucidativo e pedagógico e muito fácil de percorrer e de observar. De novo, a pressa seria um crime. Ali interessam todos os pormenores e «pormaiores». E não é matéria que se traduza em palavras, porque os primeiros são riquíssimos na sua particularidade e os segundos não cabem em qualquer tipo de discurso. Como indicação sucinta, refira-se apenas que o museu «apresenta a história do azulejo em Portugal desde a segunda metade do século XV até à atualidade», como como reza o folheto. Refira-se também que, quando se chega à igreja da Madre de Deus, o queixo cai de espanto: os quadros dos tectos e das paredes, os altares, os painéis de… azulejos, a capela-mor, são um deslumbramento assombroso. No piso superior, o coro alto e a visão do corpo da igreja e do altar-mor repetem as mesmas sensações. Como se o mundo da beleza se rematasse ali e o coração não pudesse abarcar mais. Uma riqueza inestimável, material mas não apenas, nem sobretudo.
Azulejos didácticos: Secção de mapa do pólo Norte
e traçados geométricos do pentágono e da pirâmide.
(segunda metade do século XVIII)
A manhã fugiu, a minha companhia precisou de sentar-se, mas eu não sentia as pernas e por isso não tomei conhecimento do cansaço. O museu dispõe de restaurante, com várias mesas em espaço interior e também no exterior com largueza de espaçamento e protecção alta de malha contra o sol, plantas e um pequeno lago/fonte com tartarugas num dos extremos do enorme «pátio». A temperatura era amena, sentámo-nos à espera de filhos e neto, o qual, após a chegada, depois de uns largos sorrisos, entrou na sua quietude habitual (e não me alongo mais, até para encurtar o texto), enquanto comemos, por preço em conta, diga-se (menos de 45 euros para os quatro). Depois, num rapidinho fomos para a estação, ali perto, apanhar o comboio, de regresso a casa. À despedida, o menino brindou-nos com sorrisos abertos, tomámos lugar e eles seguiram para consulta médica e vacinação do rapaz, que, impressionando a doutora com a sua vivacidade, se limitou a dois gritos à aplicação das picas, para voltar rapidamente à sua tranquilidade habitual, segundo nos disseram (pronto, não abuso dos limites…)
A Paris se chama «cidade-luz» e, pelo (sempre pouco) que conheço dela (ideias, pensamento, literatura, ciência, arte…), bem merece o título, mas luz (física) sem igual tem-na Lisboa, que não a merece menos. E se a capital da França tem o rio Sena, mais belo pelas ruas e edifícios das margens e pelas pontes que o atravessam e pelos enormes barcos turísticos que deslizam sobre as águas, do que propriamente pelas ditas águas (agora, apesar de tudo, mais limpas que noutros tempos), para o Tejo, a sua largueza, o seu azul, as pontes de Lisboa e a proximidade do mar, não há superlativo adequado.
Obrigado meu neto, por nos sorrires assim e por nos mostrares Lisboa com tanta paz e bonomia (cumpro: não me alongo mais).

José Batista d’Ascenção

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