sábado, 12 de janeiro de 2019

Desistência da decência ou como vai a política

Ou vejo mal ou sou demasiado velho ou tenho uma educação obsoleta ou todas ou algumas destas hipóteses (ou outros factores que não identifico) ou há razões para estar pessimista em relação à política. A nível internacional e dentro de portas, neste nosso pobre Portugal (pobre para quase todos os portugueses, mormente os que vivem abaixo do limiar de pobreza). A América de Trump tornou-se «democratofóbica» e dá fraco exemplo e estímulo ao mundo. A Europa não se entende, nem a tradicionalmente sensata (e interesseira) Inglaterra (prefiro não englobar toda a Grã-Bretanha) parece saber orientar-se. Putin faz regressar a imensa e antiga e orgulhosa nação russa aos «instintos» que são seus e que nunca abandonou. Os países que se libertaram do comunismo e que quiseram aderir à União Europeia, fazem agora gato-sapato das regras a que deviam estar obrigados e ninguém lhes põe o dedo no nariz. A Itália faz opções políticas como de costume e descamba para fora da esfera do humanismo A China parece querer engolir comercialmente o mundo, pelo menos o «mundo europeu», e a Portugal já o «meteu no bolso», com particular satisfação dos políticos caseiros, que fazem vénias, arrecadam o que lhes for possível e agradecem. De patifes políticos ou meros criminosos, eleitos com ou sem batota ou nem isso, como Duterte, Kim Jong-un, Bolsonaro ou Maduro não se pode esperar nada de bom.
E contudo, o mundo nunca teve tantas possibilidades nem, provavelmente, tantas pessoas a viver durante tanto tempo nem com tanta qualidade de vida como actualmente. Isto, que devia ser e é exaltante, não atenua as preocupações dos muitos que sabem que essas possibilidades lhes estão vedadas ou, gozando delas, podem vir a perdê-las.
Em Portugal, o governo em funções parece estar a agradar a uma fatia razoável de pessoas, mas os órgãos de poder e as instituições públicas: a Justiça, a Educação, a Saúde, a Segurança Social, a Protecção Civil, a rede de transportes e outras, não cumprem como deviam, e não são poucos os excluídos e os descontentes.
E os partidos políticos, embora necessários à democracia, estão longe de serem fontes de virtude e exemplo, desde logo nas suas organizações de juventude. A luta feroz no maior partido da oposição, tendo em vista os lugares de deputado no parlamento europeu e na assembleia da república, aí está a demonstrá-lo, de forma obviamente não exclusiva, longe disso.
E aos cidadãos não resta paciência e sobra desinteresse. Depois, se a democracia não resolve, que venham os autoritarismos. Portugal resistirá à «epidemia»?
Em tempos, que não podemos mitificar, tinha-se a ideia de que as famílias, a escola, as instituições, os órgãos de informação e a sociedade praticavam e incutiam desde cedo certas normas de educação, honestidade e honradez. Ao contrário, hoje há quem faça gala do oposto e, sem pudor, se afirme ostensivamente de «consciência tranquila». 
Como se houvesse dúvidas.

José Batista d’Ascenção

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