quarta-feira, 17 de junho de 2020

As “bolhas” em que nos confinamos

Fonte da imagem: aqui.
A teia de relações e de contactos de cada um é estritamente necessária, dá corpo à sua esfera de vivências, influencia a sua forma de ser e determina muitos dos seus hábitos.
Paradoxalmente, as redes sociais digitais, ao invés de alargarem os horizontes individuais podem exponenciar um certo efeito de confinamento de pensamento e de expressão, longe do que supõe a generalidade das pessoas.
Cada um de nós busca (isto é, selecciona), mais ou menos inconscientemente, as opiniões, as notícias e os factos que vão ao encontro dos seus próprios padrões, ou seja, com que se identifica. Sabem isto muito bem, para além dos especialistas da psicossociologia, os “tablóides”, as televisões, os publicitários, os interesses clubísticos e os ideólogos políticos. Quem também o sabe muito bem são os especialistas de informática que constroem as colossais bases de dados que registam tudo sobre nós [o que acontece desde logo com o registo de facturas pelas finanças: o que consumimos, em que alturas e lugares, por onde viajamos e quando, o que comemos e bebemos, e quanto custou…; e que acontece igualmente com os servidores das redes digitais…], além de saberem como se acede a e se compilam tais dados, podendo vendê-los a terceiros, que assim ficam aptos a manipular uma imensidade de pessoas de que conhecem não só os hábitos consumistas como as inclinações, as tendências e os comportamentos privados, incluindo os instintos que revelam(os) em explosões de revolta ou manifestações de ódio…
Em consequência, atraídas e presas pela publicidade dirigida ou por notícias falsas, as pessoas satisfazem o ego, incham e dão largas ao que supõem ser o seu poder e a sua liberdade, fornecendo gostosamente mais informações sobre si próprias, tornando mais eficaz ainda a manipulação a que são ou podem ser sujeitas. Ao mesmo tempo, sem se aperceberem, são agentes de propagação de conteúdos que algoritmos específicos fazem disseminar.
Se não nos apercebemos nem temos capacidade de romper um tal confinamento mental, internamo-nos progressivamente na caverna da nossa ignorância, em escuridão propícia a maior estreiteza de vistas.
Num mundo assim, com contentamento se elegem Trumps e Bolsonaros ou se fica à mercê de Putins ou de outros líderes ou ditadores inqualificáveis. As consequências são conhecidas, mas de difícil remédio. É um mundo novo com feições (im)previstas.
Só o conhecimento, a formação e a educação podem tornar credível a perspectiva de um futuro mais luminoso, livre e solidário. E quanto maior for o conhecimento e melhores forem os recursos, maior será a necessidade de aprender. De se aprender mais e mais, pelo maior número de pessoas.
Mas como, se a Escola mal sabe de si e anda aos papéis?

José Batista d’Ascenção

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