sexta-feira, 9 de abril de 2021

«Sapiens. De animais a Deuses. História Breve da Humanidade».

Um livro sobre o que somos, desde o aparecimento da nossa espécie, como de outras espécies de humanos, incluindo as que o Homo sapiens empurrou para extinção, até à actualidade.

Vastíssimo, exaustivo, profundo, surpreendente e brilhante. De uma cultura geral extraordinária, bem fundamentado em dados históricos, antropológicos, sociológicos, psicológicos, sociais e científicos. Abarcando os seres humanos na sua relação com o ambiente e com as outras espécies, bem assim como o funcionamento das sociedades e das culturas, incluindo os motivos mais puramente fisiológicos e neuropsicológicos, desde os primórdios da recoleção, à agricultura, à indústria, ao comércio e à finança, passando pelas religiões, pelas guerras e extermínios, sempre presentes no percurso evolutivo dos humanos. Chegados à «Idade das Compras» (pg 406), só o futuro não pode prever-se, porque, segundo o autor, «a história não é um meio para realizar previsões exatas» (pg.284). 

Tentar resumir um livro tão extraordinário seria atentar contra a riqueza do seu conteúdo. Limito este registo a uma saborosa passagem sobre uma história – ou lenda - que dá uma ideia da ambição e do perigo da espécie humana, mesmo que associada à beleza e grandiosidade de algumas das suas realizações. Consta na página 334 e diz, quase textualmente, o seguinte:

Nos meses que antecederam a expedição à Lua, os astronautas treinaram num deserto remoto no Oeste dos Estados Unidos, lar de várias comunidades indígenas.

Certo dia, enquanto estavam a treinar, encontraram um velho nativo. O homem perguntou-lhes o que estavam a fazer. Eles responderam que faziam parte de uma expedição que ia explorar a Lua. O velho caiu em silêncio durante alguns minutos e, depois, perguntou se podiam fazer-lhe um favor.

Perguntaram-lhe o que queria. O velho respondeu que as pessoas da sua tribo acreditavam que vivem espíritos sagrados na Lua e que estava a pensar se lhe podiam transmitir uma mensagem importante do seu povo.

Os astronautas quiseram saber qual era a mensagem. O homem disse qualquer coisa na língua da sua tribo e pediu aos astronautas que a repetissem até a memorizarem. Estes queriam saber o que significava. O velho disse que não lhes podia dizer, porque era um segredo que só os da sua tribo e os espíritos da Lua estavam autorizados a conhecer.

Regressados à base, os astronautas procuraram até encontrar alguém que conhecia a língua da tribo, a quem pediram que lhes traduzisse a mensagem secreta.

Quando repetiram o que tinham memorizado, o tradutor desatou a rir à gargalhada. Os cosmonautas queriam saber o que significava.

O homem explicou que aquela frase dizia:

«Não acreditem numa só palavra destas pessoas. Vieram roubar as vossas terras.»

José Batista d’Ascenção

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