domingo, 17 de julho de 2022

Música galega numa noite de Verão

Numa dúzia de anos tornou-se tradição, o festival «Castro Galaico», em Braga, no monte da N. Srª da Consolação. Este ano, por causa do calor e de outras contingências, limitei-me à última noite e apenas às (duas) bandas que actuaram no palco principal.

Começaram os «Voces de Arrieiro» (1), com músicas muito vivas, inspiradas em recolhas em «tabernas» e nas marcas da emigração do povo galego, muito bem cantadas entre nós pelo saudoso Adriano Correia de Oliveira. As influências são variadas e colhidas, para além da Galiza, no lado português, no «mesmo povo» que o «rio Minho une». E não apenas, que a “Senhora do Almortão», da raia albicastrense, elevada pela voz ímpar de Zeca Afonso, e o «cante alentejano» também fazem parte do repertório, com pronúncia e tonalidades galegas. Mas este grupo extravasa a península e colhe influências em países da América Latina, por causa da emigração, claro está, como Cuba, Brasil e Argentina. Tocaram, cantaram e interagiram com o público. E encantaram.

Na segunda parte tocaram os «Milladoiro», um grupo instrumental, com executantes de elevada craveira, polivalentes, vários deles, e todos de um rigor sem falhas. As gaitas de foles não são instrumentos da minha preferência, excepto quando tocadas e integradas assim. Ritmo elevado, a onda crescia em intensidade, a merecer ouvido atento e imersão na sonoridade. Mas há ouvir e mexer e as duas coisas a um tempo, consoante a sensibilidade de cada um. Para maior interacção o grupo ofereceu ao público uma ou outra música cantada com estribilhos que a maioria das gargantas não tinha facilidade em acompanhar. Com o culminar da festa, latejava em muitos um ferver do sangue a puxar para a dança. Captaram-no bem os irrepreensíveis músicos que passaram aos ritmos dançáveis dos minhotos, para explosão dos dançarinos. Os mais velhos em agitação nas bancadas, os jovens de “meia-idade”, principalmente mulheres, em rodopios e pulos voadores. Um ou outro adolescente também. Houve até aquelas que tiraram os sapatos para melhor sentirem o suave contacto dos pés na poeira.

As crianças, despertas do sono, bebiam o exemplo. 

(1) Arrieiro = almocreve = condutor de bestas.

Nota adicional: a má qualidade das imagens é da inteira e exclusiva responsabilidade do autor.

José Batista d’Ascenção

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