quinta-feira, 7 de julho de 2022

O dióxido de carbono e o futuro da humanidade

Acabei de ler o livro «Uma breve história da Terra», de Andrew H. Knoll. Da mensagem que encerra detenho-me apenas sobre algumas relações entre a abundância de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, as variações dramáticas do clima e as extinções em massa de seres vivos.

As rochas são (como que) as páginas de um livro em que a Terra escreve (com uma mão e apaga com a outra) a sua história (que é fragmentária, pelo que exige meticulosa reconstituição), desde tempos muitíssimo anteriores à vida humana. «E uma das lições mais persistentes da geologia é o reconhecimento de quão fugaz, frágil e precioso é o momento presente» (p. 15). «As notícias da área da biologia não são melhores: um declínio de 30% das populações norte-americanas de pássaros desde a década de 70 do século passado; populações de insetos reduzidas a metade; elevada mortalidade de corais (…), rápido declínio de elefantes e rinocerontes (…); áreas de pesca comercial ameaçadas em todo o mundo» (idem).

A razão por que tantas pessoas continuam indiferentes às mudanças planetárias resume-se a que, «no fim de contas, só vamos preservar aquilo que amarmos, só vamos amar o que compreendermos e só vamos compreender o que nos ensinarem» (p. 16).

«As amostras mais antigas conhecidas de atmosfera antiga são bolhas de ar retidas no gelo da Antártida há cerca de dois milhões de anos, pelo que as inferências sobre o ar e os oceanos mais antigos têm de ser feitas com base em registos químicos nas rochas» (p.85), pois «podemos formar uma ideia da atmosfera primitiva da Terra baseando-nos em rochas e minerais cujas composições refletem contacto com ar e água à época em que se formaram» (idem).

Os gases com efeito de estufa, «a maldição do aquecimento global do século XXI» são também «o fator que durante muito tempo garantiu à Terra um clima habitável» (p. 78).

O estudo dos fósseis, da sua diversidade e abundância, em rochas que sabemos datar, mostra que a biodiversidade terrestre sofreu cinco extinções em massa nos últimos 500 milhões de anos (Ma). Só a extinção ocorrida há 66 Ma «pode ser associada com segurança ao impacto de um meteorito» (p.150). «A maior extinção em massa ocorreu há «252 Ma (…) quando mais de 90% das espécies de animais marinhos desapareceram» (idem).

Rochas como o basalto resultam de erupções vulcânicas. A actividade vulcânica liberta CO2 para os oceanos e a atmosfera. Pelo volume e extensão das massas basálticas, que sabemos datar, podemos extrapolar a grandeza relativa e a duração dos eventos de vulcanismo e correlacioná-los com as enormes quantidades de CO2 injectadas na atmosfera. O aumento de CO2 na atmosfera provoca o aumento da temperatura (por efeito de estufa). O aumento de temperatura diminui a quantidade de oxigénio (O2) que se pode misturar na água (os mares empobrecem em oxigénio). Por outro lado, ao dissolver-se na água do mar, o CO2 acidifica-a. Cada um destes factores agrava os efeitos dos outros – um «trio fatal» (p. 155). A isto há ainda que somar os efeitos fisiológicos directos do CO2 na respiração (hipercapnia) e sobre os animais que produzem esqueletos de carbono de grande dimensão, como os corais (idem). Com o intenso vulcanismo de finais do Período Pérmico, há 252 Ma, «a biologia tinha o destino traçado nos oceanos» (ibidem). Não obstante, deve salientar-se que o vulcanismo pode também ser responsável pelo arrefecimento do clima, quando a abundância de cinzas se opõe à passagem da radiação solar, como aconteceu com a erupção do vulcão Tambora, na Indonésia, em 1815, que provocou um «ano sem verão» em lugares tão distantes como a Nova Inglaterra.

As espécies que são mais vulneráveis são as adaptadas a condições específicas drasticamente alteradas. Uma vez extintas, quaisquer espécies são passado na história da vida, mas, após cada extinção em massa, a diversidade biológica refaz-se, por evolução e expansão de novos seres a partir dos que sobreviveram, originando-se diferentes grupos de seres vivos, que vão contribuir para uma ecologia distinta.

Uma outra consequência do aumento do CO2 atmosférico e da subida de temperatura que provoca é o degelo das massas glaciárias, o que aumenta o nível do mar. Eis um fenómeno actual que nos atormenta.

Há poucas dezenas de milhões de anos, o soerguimento das Montanhas Rochosas, dos Alpes e dos Himalaias, aumentou a meteorização das rochas com consumo de CO2 atmosférico (p. 165). O clima arrefeceu. «Há cerca de 35 Ma, os glaciares começaram a espalhar-se pela Antártida (p. 166); (…) há 6-7 Ma a Terra precipitava-se para uma nova idade do gelo» (idem).

A espécie humana, que apareceu muito recentemente na história da Terra [os fósseis mais antigos de Homo sapiens são de rochas com 300 000 anos, em Marrocos. (p170)] desenvolveu-se extraordinariamente, sobretudo a partir do século XX, interferindo seriamente no ciclo do carbono. A queima de combustíveis fósseis, armazéns de carbono retirado da atmosfera há muitos milhões de anos pelas plantas, devolve-o à atmosfera, sob a forma de CO2, em quantidades enormes a um ritmo vertiginoso. As consequências fazem-se sentir. Para já não afectarão todos por igual; «haverá vencedores e vencidos» (p. 182). «Alguns canadianos poderão apreciar uma vida com menos neve» (…), mas, «no final de contas todos pagaremos» (idem). «Prevê-se um decréscimo da precipitação nos estados do Sul dos EUA, em áreas populosas do Médio Oriente, no sudoeste de África, na Península Ibérica» … (ibidem)

Ou seja: «o trio assassino (…) [de há 252 Ma] regressará em força durante o século XXI. É um processo que já começou» (p. 184).

A vida na Terra não acaba se a espécie humana se extinguir. Passaríamos ao registo fóssil e na Natureza surgiriam outras formas de vida.

Para nós, o tempo urge, para o planeta será mais um ciclo biológico.

José Batista d’Ascenção

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