segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Pedagogia de outros tempos (II)

Reflectir/Recordar (*)

(continuação)

[...] 

Se não tivesse existido este estabelecimento de ensino [Colégio de S. Miguel de Refojos, Cabeceiras de Basto, em que ingressei em 1955], muitos jovens teriam ficado apenas com a 4ª classe do ensino primário, perdendo-se, assim, potenciais talentos.

Concluído o 5º ano liceal, uns por aí se ficaram. Com uma formação académica que lhes permitiu o exercício de profissões, nos sectores público e privado, em diversas regiões do país. Outros ingressaram na Escola do Magistério Primário de Braga, tendo desempenhado, nas suas vidas, o importantíssimo papel de professores do Ensino Primário. Alguns prosseguiram estudos, 6º e 7º anos do liceu (actual ensino secundário), tendo como objectivo ingressar na Universidade. De lá saíram licenciados nos mais diversos cursos.

No meu caso pessoal, frequentei o liceu Sá de Miranda, em Braga. Concluído este ciclo, ingressei na Universidade de Coimbra, onde me licenciei em Filologia Românica, na Faculdade de Letras, tendo enveredado pela docência no ensino liceal.

Durante toda a minha carreira profissional, fui professor do liceu Sá de Miranda, em Braga, tendo leccionado as disciplinas de Português, Francês e Literatura Portuguesa. E desempenhei vários cargos: director de turma, delegado da disciplina de Português, membro do Conselho Directivo e Orientador de Estágio Pedagógico.

Nunca é de mais salientar a importância do Colégio, numa zona rural, distante dos centros urbanos.

Os meus pais tiveram perfeita noção dessa importância, o que levou o meu pai, Américo Teixeira Leite Bastos, Tesoureiro da Fazenda Pública em Celorico de Basto, onde não havia colégio, a pedir a transferência para Cabeceiras de Basto, sua terra natal.

Recordo, saudosamente, a minha passagem pelo Colégio.

Recordo os meus colegas de estudo e de lazer. Formávamos uma «família», pois, ao longo do tempo, granjearam-se amizades que perdurariam para sempre.

Guardo, religiosamente, uma fotografia, onde figura o Gaspar, Dr Gaspar Miranda Teixeira, que, como eu, após a conclusão do 5º ano, se deslocou para Braga, com a finalidade de frequentar o 6º e 7º anos do liceu. Fomos colegas no liceu Sá de Miranda, embora frequentando cursos diferentes. Separámo-nos na ida para a universidade. A nossa amizade perdurou através dos tempos. O Dr Gaspar tem um currículo riquíssimo, abrangendo a Educação e a Política, tendo sido  professor, Presidente da Câmara de Cabeceiras de Basto e deputado da Assembleia da República, entre outras funções. Estão presentes também o Fernando Raposo, professor do Ensino Primário,  o Dr Duarte Nuno, o Elias, engenheiro Elias de Almeida, infelizmente já falecido, e o João Manuel Gonçalves Pereira com quem mantenho um regular contacto.

Tenho impressivamente gravada, na minha memória, a figura do Joaquim Barreto, engenheiro Joaquim de Almeida Barreto, de Eiró, cujos discursos, plenos de humor requintado, ouvíamos deliciados no recreio.

Continuo a contactar com o engenheiro Joaquim Barreto, pois, actualmente, habita, como eu, em Braga, e continuamos a recordar «peripécias» do Colégio que gravámos, de forma indelével, na nossa memória.

Recordo as agradáveis actividades lúdicas que praticávamos no recreio: futebol e voleibol. O que ajudava a descontrair o ambiente um tanto exigente das aulas e do salão de estudo.

Recordo, ainda, os passeios pela quinta do mosteiro, em contacto com a natureza verdejante e o cantar álacre do ribeiro, a sugerir uma espécie de beleza primordial.

É a saudade do tempo que passa, de um tempo que não se pode prender. Não há cabelos a que nos possamos agarrar e retroceder. Mas fica a recordação de vivência plena que nos preenche a alma e contribui para o bem-estar absoluto.

António Augusto Carvalho Leite Bastos

(*) In: «Cabeceiras de Basto. Miscelânia Monográfica». Associação Antigos Alunos do Colégio SMR. 2023. Pg 12-14.

Afixado por José Batista d'Ascenção

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