terça-feira, 9 de abril de 2024

O Professor Jorge Paiva (I)

Uma vida de dedicação à Ciência e à Natureza e de profundo respeito por si e pelos outros

Aguarela da Artista Teresa Maria Abreu

Nasceu em Cambondo, província de Quanza Norte, Angola, a 17 de Setembro de 1933. Viveu a infância num exíguo povoado do Quanza Norte (Quilombo dos Dembos), “cercado” pela selva tropical de chuva (pluvisilva), para onde, em criança, fugia com frequência. Da mãe, minhota, que muito o influenciou, e por quem guarda afecto profundo, recebeu o estímulo primordial da importância da aprendizagem e do saber, desde a escola infanto-juvenil até à universidade. Ela bem sabia porquê.

Do contacto íntimo com a Natureza, o petiz fascinava-se com animais e plantas e (auto)aprendia a respeitar uns e outras. Interessava-se e compreendia. Era a paixão pelo mundo natural, que surgia cedo em alma receptiva e fecunda.

Porque era muito importante a formação e o saber, a mãe regressou à metrópole com a prole, que devia ser devidamente preparada, até à conclusão da formatura universitária. Chegada a hora de escolher o curso, o pai decepcionou-se com a opção por «Ciências Biológicas», uma via profissional (mais ou menos) «inútil». Com asa protectora e estimulante, a mãe não viu inconveniente: Biologia? Pois que fosse biologia. E em boa hora foi.

Até aí, o seu percurso escolar, a sua sólida formação e as suas opções tinham, segundo o próprio, a marca de cinco grandes professores do ensino secundário do liceu D. João III, em Coimbra (atual Escola Secundária José Falcão): O Dr Álvaro da Silveira, de Matemática, o Dr Alberto Martins de Carvalho, de Filosofia, o Dr António Leitão de Figueiredo, de Inglês, o Dr Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, de Física e Química (pedagogo, investigador, escritor, historiador e poeta – o poeta António Gedeão) e a Dra Raquel Braga, de que o Mestre fala assim: «uma excelente professora de elevadas qualidades humanas e pedagógicas. Foi esta saudosa professora de Biologia, que recordo com veneração, que me ensinou a olhar para os seres vivos com compreensão e respeito, quer fossem animais, quer fossem plantas. Lembro-me bem da maneira delicada como pegava nos animais e nas plantas para nos ir mostrando as respectivas características diferenciais e comportamentais. Foi por causa desta santa professora que escolhi cursar Biologia.» (in: Revista «Parques e Vida Selvagem», Ano XI, Nº 36, Junho-Setembro 2011. 62-64 p.)

Formado, o jovem com a sua visão larga não cabia nos limites das sebentas académicas e dos muros da vetusta e endogâmica Universidade de Coimbra. Apreciava e praticava desporto, representou a Associação Académica de Coimbra como nadador e como atleta de 5000 e 10000 metros, pois, para si, o equilíbrio do mundo vivo e da Natureza, incluía o respeito pela fisiologia, a começar pela sua. Apesar de ter sido medalhado, em natação, nunca gostou de desporto de competição. Sempre praticou actividade física de manutenção: até há meia dúzia de anos corria 10 Km por dia, desde então reduziu a distância para metade e aumentou os tempos de intervalo, para não forçar os joelhos.

Como ambientalista, assume posições criteriosas e fundamentadas. Com coerência e firmeza.

Investigador universitário premiado, professor muito apreciado pelos estudantes (não obstante a exigência estrita de rigor), cujas lições incluíam aulas de campo (no Jardim Botânico, pelos campos do Mondego, na Mata da Margaraça, no Paul de Arzila, no Gerês, na Serra do Açor…), prestava a cada um todo o apoio solicitado (dedicando-se mesmo a explicações, de biologia, de química…, pelas quais nunca cobrou nada a ninguém). Botânico dedicado, percorreu o país a pé, como investigador, como professor e como formador de professores. Depois percorreu o mundo. Despertavam-lhe interesse quaisquer seres vivos, dos mais ínfimos às árvores e animais de tamanho colossal. E as pessoas, claro, e os seus efeitos sobre o mundo natural, bem como benefícios e prejuízos decorrentes.

(Continua)

José Batista d'Ascenção

2 comentários :

  1. Texto exemplar de um Homem, Professor espetacular. Viva "o nosso" Professor! Apreciei imenso o texto. Aprendi com o que escreveste pois havia alguns dados que não conhecia.

    ResponderEliminar