domingo, 7 de abril de 2024

Não há filhos como os meus, então os netos… (I)

Este 2º período foi para mim muito desgastante. Estava a precisar de um interregno compensador e entusiasmante. Há meses que o meu filho mais velho, o João, tinha programado para nós, os pais, uma viagem a Nova Iorque, onde ele mora com a família. Ainda se pensou em o mais novo, o Filipe, também ir, mas os afazeres profissionais não lho permitiram.

Portanto, ficámos só sete: nós, os avós, o casal de pais e os três netos: o mais crescidinho, que vai fazer seis anos lá para o S. João, e os mais pequeninos a fechar três no final deste mês. O João planificou tudo com a mais extraordinária precisão e flexibilidade: onde irmos em cada dia e o que fazermos de modo a satisfazer os interesses de todos. A equação era difícil, mas foi resolvida com mestria.

O primeiro dia foi de reconhecimento do bairro, com demora no parque infantil do rio Este entre as pontes de Brooklyn e de Manhattan, os meninos muito hábeis nos apetrechos e estruturas e igual destreza e o cuidado suficiente nas bicicletas de cada um, nas ruas, sob o olhar atento dos grandes. O almoço foi caseiro e a tarde de brincadeiras e jogos, para os avós restabelecerem a vitalidade. A meio já foram ao telhado do prédio, pela mão dos pequeninos, apreciar o enorme espaço e estender as vistas entre a «floresta» de torres que furam o céu, muito acima do voo das aves.

O segundo dia foi igualmente conjunto, manhã de passeio na «Ilha do Fogo», no trilho que bordeja a praia, até ao farol (de enorme altura) e regresso. Os graúdos a pé, os pequenos de bicicleta. Ninguém deu parte fraca, as paragens necessárias e o piquenique merecido, com as gaivotas à coca de umas migalhas. A tarde foi ocupada em espaço interior no «Cradle of Aviation Museum» de Nova Iorque. Extraordinário como um espaço de enorme categoria histórica, técnica e científica pode atrair crianças pequenas e adultos de qualquer idade (quem duvidar que imagine qualquer deles no "cockpit" das aeronaves mais modernas ou no banco rudimentar dos primeiros planadores). Ali está tudo. A mim o que mais me deliciou foi o módulo lunar que desceu e levantou da lua na década de sessenta: um «aranhiço» tão espernegado, parcialmente envolvido em folhas de alumínio (para reflexão da luz, a fim de evitar o excessivo aquecimento no interior) que me fez comentar a falta total de aerodinamismo do engenho. Incisivo, o João logo (me) explicou que, não tendo a lua atmosfera, não há resistência do ar, nem atrito, pelo que a velocidade dos corpos se faz em qualquer direção sem influência da forma. Várias horas depois, os adultos mal podiam com as pernas, pelo que se sentaram numa secção na entrada/saída, essa só com sólidos almofadados para entreter os infantes, e foram generosos a deixá-los saltar o tempo que quisessem.

O terceiro dia foi ainda de todos com todos o tempo todo. Saímos para o Bronx, em visita ao Jardim Zoológico, com selecção de músicas infantis (algumas que eu não conhecia, mas que comecei a trautear, com notória mas tolerada desafinação). As minhas reservas sobre o conceito de jardim zoológico, muito influenciado pelo que fui vendo no nosso país (falta de espaço, bichos sujeitos temperaturas muito diferentes das dos seus habitats naturais…), desvaneceram-se ali. Apesar da imensa variedade, e da presença de exemplares vários de grandes dimensões, os animais estavam sem stress, porque a extensão dos espaços e o seu desenho os preserva das acções importunas dos humanos. Fiquei pasmo, com uma temperatura exterior bem “fresquinha” as girafas ficaram num espaço interior aquecido como se estivessem em África. Quem sabe e pode, pode mesmo. O mesmo para os outros bichos, ainda que fossem insectos, como as baratas.

(Continua)

José Batista d'Ascenção

4 comentários :

  1. Que boa partilha, Zé. Encheu a alma. És fantástico a escrever e, por momentos, estive convosco mesmo num passado já passado. Como agradou saber do bem estar aí mal e do veículo que foi à Lua. Como gostava de o ver, também! Grandes pais, grandes filhos e grandes netos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado, Regininha. Se formos grandes em humildade e bondade já é muito bom. Tomara que o soubéssemos ser. Beijinhos.

      Eliminar
  2. Que viagem interessante e de encher o coração ❤️

    ResponderEliminar
  3. Parabéns, Zé. Faço minhas as palavras tão bem escritas da Regina! Bjs para ti e para a Lurdes.

    ResponderEliminar