Em pequenas e grandes superfícies, a venda de produtos alimentares está sujeita a regras que, em geral, preservam a sua boa qualidade.
Porém, num ou noutro caso, nos supermercados que frequento (na região do Minho), tenho motivos de reparo. Por concisão, detenho-me no modo como se expõe à venda o «fiel amigo».
Hoje, voltou a acontecer-me. Enquanto aguardava a minha vez, um senhor revolveu bacalhaus atrás de bacalhaus, que olhava de um lado e do outro, de permeio coçou as narinas, e continuou o “exame”, até virar costas e desandar, sem ser atendido. Também em mim se revolvia qualquer coisa, desagradavelmente, mas nada disse. Quando chegou a minha vez, indiquei um bacalhau branco e seco, do lado oposto àquele em que o cliente desistente remexera, a funcionária cortou-o, ensacou-o e entregou-mo, e fui à minha vida.
Por alturas do Natal é pior. Certa vez, era uma senhora, de largura avantajada e unhas grandes e pretas, que se aplicava em virar e revirar bacalhaus, levando um ou outro exemplar ao nariz, que cheirava ruidosamente, com as ventas peludas, até que se decidiu. Dessa vez não resisti, dei meia volta, em silêncio, e sujeitei-me corajosamente às recriminações caseiras, por não ter comprado bacalhau.
São hábitos, pouco desejáveis, em minha opinião. Reconheço que, no caso em apreço, não há notícia de grandes epidemias que dele tenham resultado. As bactérias que nos habitam são muitas e variadas e mais ou menos as mesmas, e talvez resida aí a inocuidade do procedimento. Assim mesmo, julgo de todo aconselhável que os estabelecimentos resguardem o bacalhau das mexidas dos clientes, que devem escolher os peixes que pretendem sem lhes tocar directamente. A salga protege os alimentos da decomposição pela desidratação (por osmose) dos micróbios contaminantes, mas não elimina nenhum deles. O que significa que aquele hábito, tão arreigado, pode ser factor de propagação de doenças, pelo que devia ser objecto da atenção da ASAE.
Mas, não devia haver necessidade.
José Batista d’Ascenção