sexta-feira, 2 de agosto de 2024

O espírito olímpico e a participação dos portugueses

Há dias li um texto muito interessante sobre os jogos olímpicos, do Dr Gentil Martins, em que ele refere a mudança radical que sofreram, desde o início do século passado, no que respeita às compensações materiais dos atletas, que antes não eram permitidas e que passaram a ser determinantes depois.

Outros aspectos que (me) levantam dúvidas relacionam-se com os aproveitamentos políticos que sempre tende a haver, às vezes chocantemente, como aconteceu na Alemanha nazi.

Porém, há dimensões mais profundas que se me impõem como de esclarecimento (muito) difícil, tais como:

- porque precisamos nós humanos de nos sentirmos melhores do que todos os outros, não só na nossa rua ou no nosso trabalho ou na nossa cidade, como no mundo inteiro? E como podemos ter a certeza de que, em qualquer capítulo, há alguém que é o melhor do mundo, para além do universo dos competidores envolvidos nas mesmas provas? Quantos seres humanos, que nunca sequer praticaram as diferentes modalidades seriam melhores, se o tivessem feito? E que interesse vital tem isso? A espécie humana não poderia evoluir bem sem desencadear entre os seus membros competições extremas, que nem sequer trazem mais saúde aos praticantes?;

- e que direito há de condicionar criancinhas a treinos intensivos para produzir atletas «perfeitos» na idade da adolescência, como se não houvesse outro mundo possível ou desejável para elas? Isso não configura trabalho infantil real, praticado por elites sociais favorecidas?

Como Portugal é um antigo e eterno país materialmente pobre, parte dos atletas dotados para alguma actividade desportiva vivem com limitações económicas, o que lhes acrescenta sacrifícios, às vezes descomunais, nas fases da sua preparação. Certo que as dificuldades podem ser factores adicionais para a têmpera de alguns (recordo Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro…), mas isso pode não ser suficiente. Daí que seja sempre com emoção que assisto a uma ou outra prova dos nossos e sofro com o sofrimento que revelam e as lágrimas de tantos, seja porque falharam seja porque conseguiram algum prémio, mesmo que não seja o primeiro. 

José Batista d’Ascenção

Sem comentários :

Enviar um comentário