terça-feira, 24 de junho de 2025

Uma reflexão de última hora (pelo Professor Galopim de Carvalho)

Reflexão belíssima e assombrosamente corajosa e lúcida, recebida do Professror Galopim, que aqui se publica, com profunda gratidão e e não menos carinho.

Tenho dias em que o espelho da casa de banho e, sobretudo, o corpo físico me dizem, sem rodeios, os anos que já vivi. Não tenho qualquer problema em falar sobre um fim que se aproxima. Sinto-o, serenamente, todos os dias, como areia a fugir por entre os dedos. Quero e procuro festejar a vida em felicidade e é neste sentimento que, antes que seja tarde, faço questão de deixar a todos os que amo esta reflexão com o sabor de uma despedida natural, racional, tranquila e, direi mesmo, sorridente.

Poder trabalhar e conviver fazem parte da felicidade que vivo, realmente. Felizmente, nada me impede de trabalhar e trabalhar, no meu caso, é escrever. Bem sentado, frente ao monitor, como já escrevi tantas vezes, não tenho idade, escrevo horas a fio, todos os dias (os reformados não têm Domingos nem feriados, nem férias) em blogues, jornais online e, em especial, no Facebok, para mais de 40 000 seguidores, na grande maioria, desconhecidos. Deles recebo centenas de comentários repletos de apreço, simpatia e afectos, que me enchem de felicidade e comedido orgulho, permitindo-me um conviver que, embora à distância, me encoraja a continuar. Comodamente instalado, aqui, frente ao monitor, vivo a despreocupação e a alegria de uma crónica de tempos idos, volto a ser o que fui nos anos de maior pujança da minha vida, mas mal me levanto da cadeira, os joelhos e as pernas trazem-me ao presente.

Entretanto, fui publicando livros, dois na Gradiva, quatro na extinta Editorial Notícias, vinte e seis na Âncora Editora, que tem, neste momento, mais dois prestes a sair, “Os Homens não Tapam as Orelhas”, em 2ª edição, com prefácio do General Pedro Pezarat Correia, e “Por Caminhos de Pedra Solta”, com prefácio de Helena Roseta. 

Tenho plena consciência, sem que isso me incomode, que estou a descer os últimos degraus de uma vida cheia de trabalho e de afectos. Mas continuo a escrever, tendo sempre no pensamento o monte de projectos que sei que não irei concluir e isso, sim, já me incomoda. E esta é razão da minha pressa, estado de alma que marca o ritmo do meu trabalho. Quero ver publicados dois originais em fase de revisão: “A Professora”, uma história de vida de uma companheira e amiga de há mais de 80 anos, com quem “fundi” a minha, vai para 68, e “Do Laboratório à Cozinha”, que reúne mais de uma centena de experiências culinárias, muitas delas já publicadas na minha página do Facebook.

Durante quarenta e quatro anos, primeiro como aluno, depois como docente e investigador nas Universidades de Lisboa e de Paris, no domínio das rochas sedimentares e dos seus minerais, o laboratório, com recursos à química e à física, foi uma constante na minha vida. 

Quando o limite de idade me arrumou, contra minha vontade, na “prateleira dos reformados e pensionistas”, toda a parafernália laboratorial que, por amor à arte, me entrara no coração, parece ter encontrado continuidade e conforto no espaço da cozinha. Gobelets, provetas e erlenmeyers viraram tachos, panelas e frigideiras; refogados, guisados e estufados tomaram o lugar de sulfatados, reduzidos e oxidados; átomos e iões foram substituídos por bagos de arroz, de ervilha e por feijões; a torneira com água fria e quente é a mesma, os queimadores de gás do fogão passaram a bicos de Bunsen e o forno fez as vezes da estufa. Quero com isto dizer que a cozinha é, por assim dizer, um outro percurso de prazer e, ao mesmo tempo, um escape.

Tenho em mãos o que se deverá intitular “Nós e as Pedras”, uma pesquisa no sentido de mostrar aos meus concidadãos que tudo, mas mesmo tudo, o que nos rodeia, incluindo nós próprios e toda a biodiversidade, tem origem nas pedras, no conceito antigo da palavra, que abrangia as rochas e os minerais. É, talvez, um sonho concluí-lo, mas o desejo de o dar como tal, dá sabor aos meus dias. Há ainda, no horizonte, dar cumprimento a uma incumbência, que consiste em passar a livro toda a documentação escrita e fotográfica existente sobre o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém-Torres Novas e a esperança de a poder cumprir é uma das razões da pressa a que aludi atrás. Finalmente, mais do que um sonho, antes uma deliciosa utopia: “E, assim, o tempo se transformou em palavras”. Acontece que não me seria difícil encontrar situações e pensamentos para concretizar esta ideia, mas…

Todavia, sempre disse, escrevi e mostrei que assim era, que “a utopia é a força que transforma o sonho em realidade".

Lisboa, dia de São João de 2025

A.M. Galopim de Carvalho

Afixado por: José Batista d'Ascenção

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Adaptação dos seres vivos marinhos às altas pressões da profundidade oceânica

No oceano, a 300 metros de profundidade, a pressão é mais de trinta vezes superior à da superfície, uns assustadores 31 kg/cm2. Mas, a profundidade média do oceano ronda os 3500 metros. Uma chumbada caindo para a profundidade levaria talvez duas horas no movimento de descida dessa distância. Noutras zonas desceria muito mais: na fossa das Marianas, no Pacífico, a mesma chumbada pousaria a 10 920 metros abaixo da superfície. Aí, a pressão atinge valores mil vezes superiores à pressão atmosférica.

Porque é que o corpo dos animais que habitam nas profundezas marinhas, alguns deles moles, flácidos ou gelatinosos, não colapsa sujeito às pressões colossais desses habitats? É o caso invulgar do «peixe-diabo-negro», que se apresenta praticamente sem escamas e é bastante gelatinoso (ver figura).

Na realidade, animais grandes e pequenos movimentam-se entre zonas verticais muito diferentes – a maior migração do mundo ascende, todas as noites, do oceano profundo até à superfície -, sujeitando os seus corpos a enormes variações de pressão. A baleia-azul, por exemplo, mergulha até profundidades com pressões tão elevadas, que os seus pulmões, temporariamente, colapsam. Adaptações extraordinárias permitem a esses animais viver sem qualquer dano. As explicações para tal podem não parecer intuitivas. Os motivos residem na constituição particular dos tecidos vivos e nas características e propriedades da matéria.

As moléculas de água constituintes do corpo dos seres marinhos têm a mesma compressibilidade da água oceânica, o que permite as suas funções biológicas. Os animais marinhos não apresentam cavidades de ar (pulmões, bexiga natatória…) susceptíveis de colapsar. Os corpos com tecidos moles ou gelatinosos têm densidades próximas da da água e as pressões internas e externas são igualizadas, permitindo a fisiologia. E certas substâncias ajudam a estabilizar a estrutura das proteínas, as quais desempenham as suas funções metabólicas, pelo que a vida é perfeitamente possível e adaptável, em toda a coluna de água oceânica.

Dados essencialmente colhidos em: «Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 17 de junho de 2025

A falta que as árvores fazem

Morre-se de calor, e ainda o S. João não chegou. As cidades, desenhadas para a mobilidade automóvel, asfaltadas, empedradas, cimentadas, sem espaço para arvoredo [de que muitas pessoas (supõem que) não gostam, porque lhes faz impressão a queda das folhas no Outono e são alérgicas a pólenes, na Primavera], com edificado compacto, de paredes, superfícies vidradas e telhados à testa do sol, tornam-se infernos escaldantes à hora do meio-dia, ao longo das tardes e pela noite dentro, quando a radiação emana do chão e das estruturas, de volta à atmosfera: e então esturricamos, quais “nacos na pedra”, e “estufamos”, de dia e de noite, ansiando pelo fresco, que só se consegue com o ar condicionado, que faz aumentar o gasto de energia e, coisa curiosa!, contribui para o aquecimento ambiental (o calor é retirado de compartimentos fechados e empurrado para o exterior, mas à custa da energia gasta no processo, que se converte em… mais calor!).

E assim vamos vivendo, colocando-nos cada vez mais no “assador”.

Ora, parte do remédio está em mais árvores, nas florestas, nos jardins e nos arruamentos, mais perto de nós. Ou connosco mais perto das árvores.

E não apenas pela regulação da temperatura.

José Batista d’Ascenção

sábado, 14 de junho de 2025

O azul das minhas hortênsias

É azul azul. Intenso, como eu gosto. Decora a entrada da minha casa, aquele azul. É um azul de boas-vindas, e um azul de «bom dia», quando, de manhã, abrimos a porta. Agora, aqui, na imagem ao lado, é também um azul de saudação a quantos abrirem este texto (com palavras a azul).

A meus olhos é ainda um azul de céu e de mar, de descanso, de serenidade, de beleza e de paz.

Azul e verde. Azul das pétalas e verde das folhas ou vice-versa. Duas cores que nem sempre combinam bem na roupagem das pessoas, mas que casam bem na Natureza, porque a Natureza “sabe” ser bela e sábia na composição das formas, dos sons e das cores.

A cor das flores das hortênsias, também chamadas hidrângeas (porque gostam de água – veja-se como crescem nas ilhas dos Açores), varia com a constituição do solo. Mas a cor que apresentam não depende apenas desse factor. Estas, da minha porta, que eu seleccionei propositadamente de entre outras de cores variadas que cresciam no mesmo local, já eram assim azulinhas, como eu gosto.

Aos meus escassos leitores ofereço a beleza deste azul.

Com um abraço.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 10 de junho de 2025

A (mais) bonita lição do 10 de Junho – por Lídia Jorge

Acabei de ver e ouvir. A nossa actual mais merecedora de um prémio Nobel disse o que devia ter dito, da forma mais autêntica e bela e oportuna, nesta data. Em minha opinião, naturalmente. O que eu gostava que todas as orelhas portuguesas a tivessem escutado, particularmente as dos que estão (ainda) presentes na cerimónia, com destaque para quantos lhe bateram palmas.

Um discurso que também me satisfez foi o do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pese a imprecisão de chamar «capitão de Abril» ao digno cidadão ilustre António Ramalho Eanes. Uma imprecisão intencional, que o homenageado não deixa de merecer.

Agradeço a Lídia Jorge e ao (nosso omnipresente, mas de profundo saber e muito bons e curtos discursos) Presidente da República (de quem começo a sentir saudades).

Foi compensadora a minha espera pelas suas intervenções.

José Batista d’Ascenção

sábado, 7 de junho de 2025

A curiosidade, a agudeza e a inteligência dos bichos


O que se vê na imagem foram laranjas. E agora são cascas delas. Ou, mais especificamente, meias cascas de cinco laranjas. Correspondem aos últimos frutos de uma árvore que esteve carregadinha até fins de Abril. Deliciosas como nunca comi outras, estas laranjas. Em minha opinião e na de quantos vieram apanhá-las para não se perderem apodrecidas no chão.

Não se pense que foram roedores os bichinhos que, tendo aberto as laranjas de lado, assim como que retirando uma «tampa» circular, acederam artisticamente ao seu conteúdo, sumarento e agradavelmente doce. Foram pássaros.

Só podem ter sido, porque estes «fantasmas» de laranjas estavam na árvore, de porte razoável, nalguns casos a mais de três metros de altura do solo.

Como esculpiram as aves as cavidades nos frutos, tendo deixado só a casca, gostava eu de ter visto. Em duas delas ainda resta qualquer coisa, que mais nenhum pássaro vai aproveitar, porque lhes roubei essa possibilidade para fazer notícia do caso.

A inteligência, enquanto capacidade evolutiva de resolver problemas, não é exclusiva dos humanos, como bem sabemos. Os outros animais fazem-no igualmente, na luta pela sobrevivência, mas, quem sabe, talvez também para se deliciarem e gozarem prazeres que as oportunidades da vida consentem.

E nas plantas poderá, de modo idêntico, ser assim. Elas lutam umas com as outras, no solo e no ar, assim como podem servir-se mutuamente, se há ganho nisso. E têm meios de comunicar, sejam elas da mesma espécie ou de espécies diferentes. Uma comunicação química de que pouco sabemos.

A nossa vantagem, enquanto humanos, é que podemos reflectir sobre isso.

Lições não faltam.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Bondade de gente antiga

Ao início da tarde, no caminho para a escola, passei pela padaria «Primorosa» (no Largo da Senhora-a-Branca, em Braga), para adquirir uns gramas de fermento (comercial) de padeiro, que é uma pasta que contém um fungo unicelular que usamos para levedar a massa do pão – a levedura Saccharomyces cerevisiae (a mesma que fermenta o mosto de uvas, transformando-o em vinho, e os açúcares do mosto proveniente do malte para produzir cerveja).

Entrei na loja, que estava completamente vazia, àquela hora, e esperei uns segundos até um senhor, já com a sua idade, regressar de salas contíguas. Fiz o pedido, dizendo que era para usar na escola [em experiências de fermentação, precisamente, com o fim de observar a libertação de CO2 e a formação de álcool etílico].

O senhor pesou-me uma quantidade, embrulhou a pasta em papel e colocou-a num saquinho. Entretanto, eu puxara do porta-moedas e perguntei quanto era. O meu servidor disse que não era nada, abrindo-se num sorriso doce e amigo, antes ainda de eu poder dizer-lhe obrigado.

Obrigado, que disse e repeti. Sorri também, agradecido, e saí, deveras bem-disposto.

Braga tem (ainda) muitas pessoas assim: servem bem o que servem e servem-nos a bondade que têm. Isto direi amanhã, nas aulas, aos meus alunos.

Para que também eles se sintam obrigados àquele amigo.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Emigração e sentimentos sobre emigração

Emigrantes de culturas “opostas” repelem-se, e da mesma cultura repelem-se também, ou assim (me) parece.

Ultima-se a contagem dos votos dos emigrantes portugueses em países estrangeiros, pelo «círculo» da Europa e pelo «círculo» de fora da Europa. As preferências dos eleitores são pelo partido que se opõe ferozmente à imigração para o nosso país.

Há em mim dificuldade(s) de compreensão. Penso em tantos emigrantes portugueses, alguns da minha família, na miséria em que viviam e nos sacrifícios que passaram nos países que os acolheram. E lembro-me de quando Paris era a segunda cidade com mais portugueses.

Ei-los que partiam - novos e velhos - quando eu era menino. A maior parte deles estão hoje materialmente muito melhor. Incomparavelmente melhor. E o país muito beneficiou com as remessas que foram transferindo para cá ao longo de décadas.

À partida, pensava eu que toda a sua experiência os abriria à diversidade de culturas e lhes alargaria os motivos de solidariedade e de compaixão para todos os que esforçadamente procuram uma vida melhor. Aceito, porém, que os factores são seguramente muitos, razões haverá que não descortino, e que explicam o que, nesta matéria, me deixa perplexo.

No Domingo passado, à mesa do café, um amigo espantava-se com as minhas dificuldades de compreensão e explanava de forma meridiana:

- Se eu fosse emigrante, e estivesse mais ou menos bem, também não quereria que chegassem outros emigrantes que me disputassem o trabalho, o salário, as condições de habitação, de acesso à saúde e outras…

Dei-lhe razão, que remédio. E logo me lembrei da falta que fazem pessoas como o saudoso papa Francisco.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Quando vêm a nós, os nossos filhos.

De pequeninos, é um enlevo. Consome-se a gente para que nada lhes falte, sendo que é tão imprescindível o conforto financeiro e material quanto o sentimento de amor subjacente. E os requisitos materiais podem mesmo valer pouco, se não assentam na base de afecto necessária.

Andamos, então, num afã, entre cuidar, vigiar, proteger, levar e trazer, e raramente nos apercebemos de que o tempo voa, eles crescem e escapam à nossa alçada. Um dia, damos connosco surpresos e nostálgicos: eles são crescidos e esforçam-se por que o notemos…

Os nossos filhos não são nossos, são apenas nossos filhos.

Provavelmente foi assim também com os nossos pais relativamente a nós, em alturas correspondentes da nossa infância e juventude.

Mais tarde vieram os netos, que são como que filhos duas vezes. Se estão fisicamente próximos é um privilégio extraordinário. Se estão longe há uma falta que dói e persiste. Compensa-se como se pode, mas pode-se pouco e pode-se mal.

Aguardamos pelo dia de amanhã, em que chegará o nosso mais velho, para curta visita, num vir e voltar necessário, em que viaja sozinho.

Enche-se-nos o peito, não completamente. Para esvaziar-se dois dias depois. Estes dois dias vão parecer-nos tão curtos quanto vão ser longos para os nossos netos pequeninos, que, ao mesmo tempo, vão sentir a falta do pai, lá do outro lado do mar.

[Meus filhos e netos emigrantes, do meu país bonito, mas pobre! Como eu desejo que vos tratem bem, lá onde viveis, tão abrigados como no abrigo do meu peito.]

E porque proximamente não podeis vir, queridos netos, não pode demorar muito que eu e a avó vos vamos abraçar, a essa terra distante e estrangeira e estranha para nós.

Ao vosso pai, a esse aproveitamos para o sufocar de carinho este fim-de-semana.

Como ele vos dirá.

José Batista d’Ascenção

domingo, 18 de maio de 2025

Qual é a data das próximas legislativas?

Devido à incompetência, hipocrisia e ganância dos líderes partidários e dos seus séquitos fomos forçados inutilmente a (estas) eleições. Os dois principais partidos andaram mal. E os restantes também não estiveram bem.

Como vai correr agora?

Originários das juventudes partidárias, os chefes dos dois maiores partidos não se honram como políticos que coloquem os interesses do país à frente dos seus. Nem aquelas organizações de juventude são escolas de sólida formação cívica, mais parecendo núcleos de ambiciosos que cilindram tudo - e uns aos outros -, seja qual for o preço que o país e os cidadãos tenham de pagar.

São muitos os políticos que confundem os objectivos nobres da política com os proventos dos seus negócios e carreiras, nacionais (caso da multi, hiper e precocemente reformada Assunção Esteves) ou internacionais (como Durão Barroso e vários outros).

Porém, não faltam pessoas competentes, alheias ao vício da ganância, disponíveis para o bem público. Se me pedissem para dar exemplo de uma cidadã íntegra da área do PSD, capaz de exercer nobremente qualquer cargo público, e que se afastou, por não abdicar dos seus princípios, indicaria a bracarense Cristina Fontes, que é «uma senhora», como se diz na (sua) cidade. E conheço muitas outras pessoas, da mesma área partidária, com idêntica rectidão.

No PS o problema é similar. Personalidades da envergadura de Francisco Assis ou Sérgio Sousa Pinto nunca foram chamados à governação nem são (muito) considerados na definição das linhas políticas. Dois meros exemplos.

Em consequência, para evitar o colapso dos dois partidos mais representativos – por enquanto - do nosso sistema político, gostaria que os líderes actuais se afastassem ou fossem afastados num prazo não muito dilatado. E que se abrisse a representação parlamentar a candidatos não necessariamente indicados pelas lideranças e estruturas partidárias.

De contrário, cada vez mais o povo di(ta)rá: «Chega».

Só não sei se já é tarde de mais.

José Batista d’Ascenção

O Mundo. O Mundo.

Uma bola, connosco em cima. Tendemos a pensar que somos os donos dela, repartimo-la em fracções com proprietários definidos. Podem ser leiras, ou bouças, ou courelas, ou herdades, ou quintas, ou montes, ou países, ou grandes regiões (o Alasca, a Gronelândia…).

Somos uma espécie biológica possessiva, a única que acumula coisas em grande escala e toma a posse de bens convencionais (dinheiro…), materiais ou recursos como factores de estatuto, poder e domínio sobre os semelhantes. Não se trata apenas de machos em competição pelas fêmeas (nem o inverso…), mas da subjugação de camadas sociais ou de populações inteiras…

A humanidade sempre foi assim. Está-lhe na natureza.

Se a cada um fosse dada a possibilidade de viajar para o espaço e de observar a Terra a partir da escotilha de uma qualquer nave espacial em trânsito no cosmos, quem sabe se os cosmonautas não sentiriam intensamente a fragilidade e pequenez de todos nós, enquanto terráqueos.

E se se imaginasse alguma colisão planetária ou – quem sabe? – algum engenho bélico de civilizações extraterrestres – se as houvesse – mais se acentuaria a condição precária dos humanos encarcerados na «gaiola» terrestre e o ridículo infantilóide de qualquer (aspirante a) «super-homem».

Quem somos nós e para que servimos, afinal?

As melhores e mais belas respostas encontrei-as nos evangelhos e na encíclica «Laudato Si», do Papa Francisco.

Mas, de que tem valido tudo isso?

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Dia de reflexão eleitoral

Almejo por ele. O que vi e ouvi nesta campanha eleitoral foi decepcionante e enjoativo. Venha o silêncio. Pena que seja só um dia antes do dia das eleições.

Esclarecimentos úteis, não dei por eles. Abordagem dos problemas que provavelmente nos vão cair em cima proximamente, também não.

E de infantilidades e ridicularias faceiras estou farto. O povo, na parte que se manifesta, parece alinhar. A outra parte, mais ou menos abúlica e macambúzia, faz-me igualmente pena.

Domingo à noite, como nos sentiremos?

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Os políticos que temos

Não tenho dedicado uma atenção minuciosa à campanha eleitoral, que decorre desde as últimas eleições. Por culpa minha, reconheço, mas também pela impressão que me fica sempre que tento perceber as mensagens dos políticos, com destaque para os líderes partidários, já que os subalternos não adiantam mais.

Decepcionam-me os “candidados” a primeiro-ministro, o incumbente e o aspirante a estrear-se na função. Em termos éticos não compreendo nem aceito o papel de Montenegro. Isto de ser chefe do governo ao mesmo tempo que se tem uma empresa privada, sem funcionários, com sede na própria casa, deixa-me sem confiança. O que isto significa explicou-o muito bem Pacheco Pereira um dia destes num artigo do jornal «Público». Já Nuno Santos esbraceja na sua impulsividade com a energia de um náufrago. Creio que não vai longe, porque não convence senão os convencidos.

Há dias, o PSD reuniu à mesma mesa os seus líderes vivos, com excepção de Marcelo Rebelo de Sousa e de Pinto Balsemão, creio. Fez-me impressão: Santana Lopes (que abandonou o partido) ao lado de Durão Barroso, que lhe chamou mistura de «Zandinga» e mais qualquer coisa, e de Cavaco Silva, que lhe chamou «má moeda» e o teve como ajudante de ministro no governo para o manter calado. Santana indicara estar «escrito nos astros» que se bateria contra Durão Barroso e acusou Cavaco de lhe «dar chapadas» quando o seu (dele) governo estava na «incubadora». Cavaco ao lado de Fernando Nogueira, que “defenestrou” quando ele lhe sucedeu. Passos destoando de Montenegro, que se fez desentendido. E todos eles à mesa com Rui Rio, a quem boicotaram todo o tempo, até ser deposto da liderança. Podia tratar-se de pluralidade democrática, mas nunca teve a dignidade requerida pelo conceito.

No PS, António José Seguro, que nunca comungou das trafulhices de Sócrates, passou de alguma forma a proscrito. Já Augusto Santos Silva, uma sumidade cínica, navegou até ao cargo de segunda figura do estado, “incólume” à prática política de Sócrates e inflando o indescritível Ventura. Aquela mancha do partido (mais) lutador pela liberdade ainda permanece a meus olhos.

Dos pequenos partidos com assento parlamentar, vejo os seus líderes ou a defender ideias que não são novas ou a tentar lutar por conseguir ou manter um lugar de deputado.

Da extremíssima direita, prefiro não falar, por incompatibilidade. E aos outros não lhes presto atenção.

Mas irei às urnas, isso vou.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Donos do mundo

Epílogo do livro «Humano, Demasiado Humano», de Neil D. Lawrence (p. 481-492)

Há empresas de tecnologia que implantam sistemas de software que não podem ser controlados pelos seus criadores. O software é frequentemente dividido e construído por diferentes equipas, o que tem o infeliz efeito colateral de ninguém entender como funciona todo o sistema, dado que a complexidade do todo pode tornar-se excessiva para a compreensão de qualquer indivíduo. Quando corre mal, os efeitos podem ser devastadores.

Assistiu-se a um fenómeno deste tipo quando os sistemas do Facebook foram manipulados para espalhar desinformação nas eleições dos EUA em 2016. O próprio Facebook exigiu uma investigação de dez meses para entender até que ponto os seus sistemas tinham sido manipulados por uma instalação de trolls russa.

Em 2019, Mark Zucherberg escreveu um artigo no The Washington Post em que pedia a regulamentação das redes sociais. As instituições e os indivíduos em quem confiamos foram debilitados pelos aprendizes de feiticeiro modernos. O computador é uma infra-estrutura de informação dos nossos dias, desenvolvida por um novo tipo de escribas – os engenheiros de software das grandes empresas de tecnologia. Porém, “libertam” uma tecnologia que não conseguem controlar.

Esta é uma situação desesperada e está a piorar. Com o surgimento do ChatGPT, em 2022, substituiu-se o grande homem pelo grande computador.

A moderna infra-estrutura da informação pode propagar-se vertiginosamente: há mais de uma década, a OMS e a ONU estimaram que em todo o mundo havia mais pessoas com acesso a telemóveis do que a instalações sanitárias.

A grande falácia da “inteligência artificial” reside em considerar que a tecnologia de automação se adaptará a nós, em vez de nós nos adaptarmos a ela, porém, essas ferramentas não são implantadas para capacitar o indivíduo, mas para capacitar corporações.

A ameaça que enfrentamos hoje é uma forma de totalitarismo da informação que advém da oligarquia digital.

Devemos tentar reequilibrar o poder das guildas de software para as pessoas e as instituições de sociedades abertas.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Se eu escrevesse bem

Os meus (até para mim) imprevisíveis rabiscos (e que são, realmente, meus) não têm leitores (os raros que lêem o pouco que anoto não são meus leitores, nem eu tenho produção para ter leitores, são pessoas minhas amigas ou amigas da minha liberdade de opinião). O mundo não perde nada por isso, sei-o desde sempre. Então por que rascunho uma ou outra nota e a deixo à mostra? Não sei.

Uma ou outra vez, por condescendência, amigos gabam-me a escrita. Fazem-no porque são meus amigos e são complacentes. Na profissão, alguns, interesseiramente, acharam-me jeitoso para redigir actas. Nunca os censurei, mas opus-me, quanto pude. Outros preferiam que não fosse secretário porque entendiam que a redacção não devia ser tão próxima do real, de que pretendiam relatos mais eufemísticos, por assim dizer. 

Para mim, escrever bem exige três condições:

i) ter talento e perspicácia para abordar assuntos que despertem interesse;

ii) escrever com elegância e clareza, fazendo uso das regras necessárias;

iii) ter leitores que entendam e tirem algum gosto ou benefício da leitura.

Se assim não for não há boa escrita. E qualquer tipo de escrita que não seja lida não serve para nada – não tem possibilidade de ser boa.

Fica a confissão do que humildemente penso, por querer que assim seja e apenas isso. O facto não justifica a impertinência de expor os alinhavos das minhas parcas e humildes notas aos olhos de terceiros, mas, em si, é quanto me basta.

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 25 de abril de 2025

25 de Abril. Sempre.

Damos mais valor à saúde quando ficamos doentes. Valorizamos profundamente a liberdade quando a perdemos.

Antes do 25 de Abril de 1974, no tempo dos mais velhos de nós, não havia liberdade, nem de acções nem, sequer, de pensamento.

As mulheres eram ainda mais limitadas, como se fossem seres humanos inferiores.

Os mais jovens não sabem nem têm presentes essas realidades, e, por isso, funcionam como se a liberdade fosse um bem definitivo, pelo qual não é preciso zelar.

Nós, os mais velhos, que somos seus pais e avós, e, na escola, nós, os que somos seus professores, não temos sido eficazes a demonstrar-lhes o valor fundamental de sermos livres, nem a incutir-lhes e a exigir-lhes a responsabilidade de cuidarem escrupulosamente desse bem inestimável que é a liberdade.

Os (nossos) políticos, grande parte deles, também não têm estado à altura, por falta de competência, e, sobretudo, pelo que são enquanto cidadãos e pelos (maus) exemplos que dão.

Infelizmente, em pano de fundo, o (nosso) sistema de justiça (com minúscula) deixa muito a desejar, o que levanta sérias questões de confiança dos cidadãos.

Até por isso, o 25 de Abril não perdeu valor nem simbolismo. Deu-nos a oportunidade - essa tivemo-la e têmo-la. O que fizemos depois e fazemos agora é da nossa responsabilidade e não dos que levaram a cabo o acto inicial libertador. E só a nós responsabiliza.

Obrigado, sempre, aos heróis do 25 de Abril.

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Francisco partiu

Faltam-me as palavras, ficaram-me aqui.

Silêncio. 
Quem virá a seguir?

José Batista d'Ascenção

A inteligência artificial, as redes sociais e o ser humano

A máquina não nos compreende por aquilo que pensamos que somos, mas sim pela acção revelada pelos nossos dados [os sítios que visitamos, os «gostos», os comentários e outras interacções]. Chama-nos através dos nossos sistemas reflexos. Consegue fazer isso porque usa as técnicas dos inquéritos estatísticos para gerar novos algoritmos de aprendizagem que aprendem a manipular-nos. Há um sistema que ajuíza antecipadamente o que queremos e restringe a nossa visão do mundo. Esse sistema entende-nos de forma muito completa porque lhe expomos os nossos pensamentos e caprichos mais íntimos. Os nossos dados pessoais são uma projecção de nós mesmos, e andamos a permitir que eles sejam manipulados sem o nosso controlo. São manipulados por entidades que também têm acesso aos dados de outras pessoas numa escala global. Ao permitirmos essa colecta generalizada abdicamos da liberdade pessoal.

Estamos a ser usados como fonte de dinheiro. Não há nenhuma grande conspiração, o que acontece é a consequência natural da tentativa daqueles que controlam os nossos dados os explorarem para seu benefício financeiro. É uma propriedade emergente da oligarquia digital.

O sistema criado não é regulamentado, não entende o contexto social, não tem uma noção de objectivos humanos elevados, não tem empatia. São-lhe atribuídos objectivos específicos e ele visa cumpri-los com a sua melhor capacidade, independentemente dos efeitos negativos. Devido a isso foi manipulado para debilitar a democracia e destruir a coesão social.

Com esta primeira vaga de inteligência artificial (IA), uma grande parte da sociedade passou a estar sujeita aos caprichos de poucos.

O que preocupa é que, apelando aos nossos eus reflexos e não aos nossos eus reflexivos, o sistema suscita uma regressão ao estado em que domina o eu reflexo, que se assemelha ao chimpanzé.

As nossas interacções podem ser controladas por inteligências de máquina que não têm nenhuma participação na sociedade, ou podemos optar por exercer e capacitar a nossa própria tomada de decisão. Se não interviermos, estamos a optar por dar poder à máquina. Precisamos de construir sistemas que nos respeitem como indivíduos, que retenham o controlo das informações pessoais nas mãos daqueles que as geram.

O nosso fascínio com a IA é a projecção de um fascínio connosco próprios. O narcisismo tecnológico pode ser nocivo, mas se pudermos passar do nosso narcisismo para a introspecção, isso será benéfico.

in: «Humano, demasiado humano». Lawrence, Neil D. Gradiva. Lisboa, 2025. (p 320-324 – composição de excertos).

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Holanda em flor

«The most beatiful spring garden in the world», o jardim de Keukenhof, em Lisse, na Holanda. Rezam os panfletos e não é exagero. Um espaço maravilhoso, 32 ha de árvores, “ruas” pedonais, trilhos florestais, alamedas, lagos e muitos, muitos espaços ajardinados, canteiros com perfil irregular ou geometricamente organizados.

Entre as flores predominam as tulipas, originalmente trazidas da Turquia, e “trabalhadas” artificialmente para produzir mais de 800 variedades, na forma, no tamanho e na cor (do vermelho flamejante a todas as outras do espectro). Também os narcisos, tantos e variados, alguns deles oriundos de Portugal, onde pouco os vemos, nos jardins e na Natureza (onde abundavam há algumas décadas). Encantei-me com o Narcissus fernandesii, var. cordubensis, nome (científico) que homenageia o botânico Abílio Fernandes (1906-1994), Professor do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra. O ano passado, por esta altura, tinha visto e fotografado o Narcissus jonquilla var. henriquesii no Jardim Botânico de Nova Iorque, e sentira o mesmo contentamento. No Jardim Botânico da Universidade de Coimbra nunca vi nem um nem outro. Outras flores, muito usadas em Keukenhof são os jacintos, das mais diversas cores, as muscari (Muscari armeniacum), as anémonas e outras…

Um mar de cores, às vezes em sectores bem definidos e contrastantes outras vezes em misturas coloridas de várias espécies.

Nos lagos não vi peixes (nem um…), mas abundavam patos. No “andar” arbóreo, muitas aves, algumas de belo canto, adoçavam a “paisagem” sonora, tanto quanto a estimulava uma enorme caixa de música, na margem de um lago circular, que levava muitos visitantes à dança instintiva.

Visitantes que seriam aos milhares, de todas as geografias (mais do que ali, nem em Amsterdão). Portugueses, também ouvi alguns – e duas senhoras trocaram comigo breves ideias sobre botânica. Mas os espaços, hiperfrequentados, estavam cuidados na perfeição. Nem um papel ou recipiente ou detrito a conspurcar o chão, que me pareceu tão limpo quanto o da minha casa. Nas estufas (deslumbrantes) e nos espaços interiores a mesma coisa.

Uma beleza.

Foi aos 11 de Abril de 2025.

José Batista d’Ascenção.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Páscoa Feliz

Como habitualmente, desde há longos anos nesta época, hoje tinha na caixa do correio sobrescrito aberto com afectuosa mensagem do pároco local. Começa assim:

«Há semelhança dos anos anteriores,»…

E há mesmo semelhança: o texto mantém-se quase sem alterações na redacção há anos sucessivos.

Que se há-de fazer?

Boa Páscoa.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 8 de abril de 2025

Quimismo e seres vivos

Algumas substâncias produzidas por seres vivos são eficazes em doses ínfimas. O nariz de um cão consegue detectar apenas algumas dezenas de moléculas individuais. As antenas das borboletas detectam algumas moléculas de feromonas (mais frequentemente) libertadas pelas fêmeas, o que permite aos machos localizá-las movimentando-se no sentido crescente do gradiente de concentração dessas moléculas. Em várias espécies de algas o multifideno serve de atractor sexual. Em Cutleria multifida os gâmetas masculinos podem nadar vinte horas até ao gâmeta feminino que emite aquele químico, bastando 1 a 10 moléculas individuais da feromona para desencadear o estímulo! Também muitas bactérias flageladas nadam para “subirem” ou “descerem” no gradiente de concentração das substâncias que as atraem ou repelem, respectivamente.

A molécula de maltol dá o aroma característico ao malte, ao caramelo e ao café. Toranjas, peras ou pepinos devem os respectivos aromas a substâncias químicas específicas.

A identificação e a síntese de moléculas activas pode ter grande repercussão. O odor a baunilha provém de uma substância química chamada vanilina. A sua síntese, em 1876, arruinou as culturas da ilha de Reunião.

O odor a terra molhada provém da geosmina, a qual é detectável em solução aquosa pelo nariz humano em concentrações de 21 em cada mil milhões de partes.

Nos humanos, desde sempre, o nariz serviu de detector hipersensível para imensas substâncias voláteis. Hoje também. A finura do odor dá o seu valor tanto à trufa como à quintessência. Pense-se no caso de enólogos e perfumistas, por exemplo.

Também ninguém menospreza a importância que os odores tiveram e têm na detecção da toxicidade.

Por estas e por outras deu-me para “meter o nariz” nestas matérias.

José Batista d’Ascenção

(*) Texto baseado na releitura do livro «A palavra das coisas» de Pierre Laszlo. Gradiva. 1ª edição, Lisboa, I995. (p. 155-157 e 228-230)

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Os (principais) líderes políticos que temos são como nós (genericamente) somos

Vulgares. Pouco competentes. Manhosos. Interessados muito mais nos seus objectivos pessoais do que nas metas que deviam ser as do país. Alheios às dificuldades e às preocupações dos portugueses, em nome dos quais (dizem que) fazem política.

E a líderes assim seguem-nos outros políticos (que também são) assim. Políticos que concordam com a afirmação de que as pessoas não estão bem, mas o país está. Se o diagnóstico fosse verdadeiro, os problemas resolviam-se tirando as pessoas do país. Ficava um país sem gente. E muita gente jovem, de valor, faz isso mesmo – vai-se embora. Ou, então, tais líderes fazem a política que trazem das «jotas», impulsivos e imaturos, indiferentes às consequências. Os extremos agradecem. E crescem.

É uma desilusão. O clima eleitoral é decepcionante. Não há esperança.

Aqui chegados, temos de falar dos cidadãos eleitores. Com quem se identificam eles? Porque elegem corruptos, alguns deles condenados pelos tribunais e outros ilesos, ainda que nada inocentes (perante factos inaceitáveis, de tipologia vária, sobejamente conhecidos)? Creio que é por serem medularmente iguais. A corrupção é aceitável, não faz mossa, e a maior (?) parte das pessoas praticava-a, se pudesse. E as crianças aprendem com os adultos: com o que eles praticam, muito mais do que com o que eles (lhes) dizem. O que se passa nas escolas, nas ruas e nos recintos desportivos é reflexo disso.

Em minha opinião não é elevadamente nobre, o povo. A pobreza não é certificado de honestidade, nem, muito menos, a riqueza o é.

Quem somos nós? Quais são os nossos valores? Que justiça exigimos? Que educação fazemos? Que exemplos damos?

Temos o que merecemos?

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 27 de março de 2025

Gato caçador de rãs e gaivotas consumidoras de lixo orgânico

É preto e está gordo e lustroso. Passa bons bocados à beira do lago da Escola Secundária Carlos Amarante (ESCA), atenção fixa – focado, como agora se diz – nos batráquios que vêm colocar-se sobre as pedras dos bordos. E então, ágil como diz quem vê, pode caçar uma, duas ou três rãs em pouco tempo, dilacerando e deliciando-se com cada uma, antes de passar à seguinte.

A sua distinção para murar (ou “arranzar”…?) quase dispensava o cuidado que a (minha) colega (professora) amiga de gatos lhe dedica, trazendo(-lhe) comida que coloca numa tigela ao lado da casota improvisada colocada ali perto, num canto abrigado. O bichano não passa(rá) fome e parece gostosamente adaptado a condições deveras favoráveis. A dona, pelos vistos, mora do lado de lá da rua e não precisa de se preocupar com a alimentação do tareco.

Porém, o felino não deixa de ter concorrência. Nas últimas duas décadas, elementos de uma (muito grande) colónia de gaivotas, aparentemente cada vez mais numerosa, sobrevoam diariamente céus e telhados de Braga, sendo que algumas delas também já descobriram as rãs do lago da minha escola, quem sabe se como abastecedor de suplemento aos resíduos alimentares mais ou menos decompostos a que se habituaram no aterro sanitário da Póvoa de Lanhoso. Estas gaivotas, diz o senhor Manuel Silva, chefe dos funcionários da ESCA, já podem ter perdido o hábito de pescar, “arte” porventura mais custosa na obtenção de comida.

Um e outro caso configuram rápidas mudanças adaptativas dos bichos em resultado das influências dos humanos na Natureza. Mudanças muito elucidativas e fáceis de observar.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 19 de março de 2025

O tempo é o quê?

Não há uma definição indiscutível de tempo. O nosso corpo desenvolve-se e fenece num determinado intervalo temporal, acumulando marcas que testemunham o devir e nos dão forte sentido da marcha inexorável do tempo. Isso e o registo de acontecimentos marcantes reforçam noções próprias de sucessões de fenómenos, mas não abarcam nem esclarecem todo o conceito e os seus possíveis significados, objectivos e subjectivos.

No campo subjectivo, as noções ou percepções ou explicações do tempo podem tornar-se vagas, indescritíveis ou incompreensíveis. É o que acontece nos sonhos, em que os tempos podem ser sucessivos, paralelos, regressivos ou reversos. Nesses casos, o tempo é como o sentimos: frequentemente de forma radicalmente… ilógica. Por analogia, a obra “Alice no País das Maravilhas” serve(-me) de exemplo (pouco esclarecedor).

Os homens da ciência também não atingiram clareza na matéria.

A solução do problema agrava-se porque nós, que colocamos a questão, também não sabemos o que somos, no fundo. E como poderíamos nós conhecermo-nos – nós como objecto de estudo de nós mesmos - em toda a plenitude? As dúvidas sempre subsistirão, em quaisquer tempos, mesmo os alternativos àqueles em que (e onde?) vivemos, se existirem, como se pode especular.

São diferentes os tempos em diferentes regiões do universo, como são diferentes os tempos em cada lugar, se medidos de modo diverso, linear ou não.

À mercê do(s) tempo(s), somos substância e (in)consciência desse(s) tempo(s), cuja natureza nos escapa.

Seja como for, que nunca nos abandone a esperança de «tempos felizes».

José Batista d’Ascenção

domingo, 16 de março de 2025

O TEMPO QUE ESTAMOS A VIVER

Texto gentilmente cedido pelo Professor Galopim de Carvalho

“Nenhuma democracia resiste sem um módico de confiança por parte dos cidadãos” – escreveu António Barreto no passado dia 7 de Setembro, no Sorumbático, o Blogue em que, regularmente, participamos. Este respeitado sociólogo disse por palavras suas o que penso sobre o tempo que estamos a viver.

O socialista Fernando Medina, em obediência à posição da sua bancada, votou contra a moção de confiança do passado dia 13, mas, no final da votação, escreveu que estas legislativas antecipadas irão agravar "os níveis de confiança dos portugueses na política e nos políticos", numa posição que coincide com a minha e a de Barreto.

Nesta conjuntura ganha o desinteresse e a consequente abstenção e ganha o partido Chega que, imediatamente, lançou a sua campanha às legislativas, para daqui a dois meses, com um ignóbil cartaz onde escreve “50 ANOS DE CORRUPÇÃO”, mostrando, sem sombra de dúvida, o seu propósito de destruir os cinquenta anos da democracia que, na sua imperfeição e nos seus erros, lhe deu nascimento e lhe dá toda a liberdade de actuação.

Julgo ser evidente, para os que não andam distraídos, que Portugal atravessa uma deplorável crise, não do foro económico, financeiro ou social, mas dos partidos, dos políticos e dos seus protagonismos na condução da política nacional. Uma crise de valores sem precedentes. Face a esta situação que “bateu no fundo”, no debate da citada moção, a confiança nestes políticos perdeu-se. 

Como já escrevi, à semelhança do que se passou com a Primeira República, a generalidade da classe política, a quem os Capitães de Abril, há 45 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada” entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos a cultura civilizacional necessária na sociedade que se quer democrática. Nesta infeliz situação, uma muito significativa parcela do povo, destituído dessa cultura, é presa fácil do populismo da extrema-direita. E é também por isto que, pelo menos, estes dois partidos se têm de entender, em defesa da democracia, que tanto custou a ganhar.

Sobre o tempo que estamos a viver, paira grande insegurança, a nível internacional, não só no que respeita à economia, com inevitável reflexo na vida nacional, como também no que envolve o espectro da guerra, com todas as consequências e sofrimentos que ela arrasta. Tudo isto são gravíssimas preocupações que se adicionam a outras, nacionais, como as das áreas da saúde, da educação, da habitação e outras. Preocupações relativamente às quais, no quadro presente, os citados partidos têm de procurar consensos. Os seus protagonistas já mostraram não terem sabedoria ou vontade para o fazer, pelo que há que encontrar entre os seus correligionários, quem o possa fazer. Chame-se Bloco Central ou outra coisa qualquer, mas é, no tempo que estamos a viver, o caminho a seguir.

Quem me conhece e tem acompanhado, desde sempre, as minhas intervenções e tomadas de posição públicas, sabe da minha independência dos aparelhos partidários e não espera de mim outro pensamento que não seja este. Sempre procurei pensar pela minha cabeça, na convicção de que a política partidária é uma arte ou, se quiserem, uma habilidade para manusear conhecimentos do foro das ciências políticas e sociais na conquista do poder. A nossa sorte depende, não só da competência dos respectivos dirigentes, mas, também do seu sentido ético. Desgraçadamente, competência e ética são atributos em falta no tempo que estamos a viver.

Termino dizendo que continuo a pensar como sempre pensei e que, no essencial, posso resumir dizendo que, independente de quaisquer disciplinas partidárias sempre estive do lado dos explorados contra os exploradores. Em termos teóricos, socialistas, sociais democráticos e democratas cristãos não podem deixar de pensar como eu. Assim sendo e tendo em conta as condicionantes nacionais e internacionais, explicito, dizendo que, sendo possível, quer o PS quer a AD deviam procurar encontrar, entre os seus, quem lhes restituísse a confiança perdida. Infelizmente, julgo saber que, nos dois meses que nos separam das eleições, não haverá tempo para que uma e outra dessas duas forças mudem as respectivas lideranças, o que não pode deixar de nos preocupar.

A. M. Galopim de Carvalho

Afixado por José Batista d’Ascenção

sábado, 15 de março de 2025

Avenças e desavenças

O termo “avença” não significa apenas uma quantia certa que se paga antecipadamente por serviços durante um certo prazo, significa também conciliação entre duas partes, acordo, etc.

A política caseira não está imune a avenças materiais, não apenas porque é feita por seres humanos com as qualidades e defeitos que (n)os caracterizam, mas, sobretudo porque os sistemas de controlo (também eles feitos por humanos) têm múltiplos buracos muito oportunos e de elevada (má) frequência, e porque a justiça, que devia ser cega, é convenientemente estrábica ou grotescamente zarolha, para além  de, nos casos graúdos, progredir à velocidade das lesmas, em vias pejadas de pontos “stop”, correspondentes a milhentos recursos accionados por quem pode pagar. A descrença do povoléu não conta para o efeito.

Já as avenças conciliatórias entre políticos podem não ser muito sinceras, mas sempre vão dando para manter uns quantos lugares, aceder a eles ou distribuí-los a preceito por quem os há-de ocupar. As cadeiras de alguns deputados são um dos campos de aplicação da metodologia, que se estende a muitos outros, da política à finança e da finança à política, de que todas as instituições, a economia, a saúde e o bem-estar geral dependem.

Por outro lado, as desavenças político-económicas são reais, algumas, e muitas tornam-se subterrâneas, sem que lhes diminua a intensidade. Outra são mais ou menos convencionais, em propaganda para entreter a populaça, ao jeito do ora agora como eu, ora agora comes tu, logo comes tu mais eu.

Como a política se tem tornado um jogo pouco ético, às escâncaras, e a democracia não sabe ser firme com os que a apoucam e subvertem, servindo-se dela, vamo-nos aproximando do autoritarismo por voto democrático, até o mundo ficar nas mãos de loucos, criminosos e assassinos.

Em Portugal ainda não é assim, mas não há bons auspícios.

Precatemo-nos, enquanto é tempo. 

José Batista d’Ascenção

sábado, 8 de março de 2025

Trump e Putin e o receio da eliminação de Zelensky e da Ucrânia como país independente

Cruéis e temíveis, os líderes dos EUA e da Rússia empurram o mundo em direcção preocupante.

Trump e a sua equipa são capazes de tudo, nenhum escrúpulo ou dignidade parece fazerem parte do espírito com que cortam e costuram os seus negócios.

Putin tanto faz cair aviões com alguém que lhe seja indesejável (caso de Prigozhin), como envenena e tortura adversários que não tolera (como aconteceu com Navalny), como empurra de varandas meros intelectuais ou artistas que, em algum momento, expressem discordância das suas ideias e, principalmente, da sua prática política (como se verificou com o dançarino Vladimir Shklyarov).

A Ucrânia tem um duplo azar: situa-se na esfera de influência da Rússia e possui abundantes riquezas, muito cobiçadas. Enquanto povo, quis a independência, tem um líder muito corajoso, mas as condições sócio-políticas são-lhe extraordinariamente adversas. De um lado, Putin, para levar o que pode, e pode muito, pela ocupação de grande parte do território e pelo poderio das armas. Do outro o seu amigo Trump, para obrigar os ucranianos à rendição e empolgar os seus recursos.

A humilhação de Zelensky é apenas uma forma de remover um obstáculo.

Temo que consigam, usando os meios que forem necessários.

O (resto do) mundo assiste, impotente ou alheio.

As consequências podem ser terríveis para todos em todo o lado. 

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 4 de março de 2025

A aguda consciência da necessidade e da preciosidade da água, por Eça de Queiroz

A água limpa é um bem imprescindível, como sempre foi e será, cada vez com mais acuidade. Eça de Queiroz, em «Carta sobre a Inauguração do Canal de Suez», dá-nos conta disso, eloquentemente [in: fascículo «De Port Said a Suez». Ed. Centauro, Babel. 2010].

…«Ao lado do canal marítimo, o canal de água doce (…) é uma das maiores obras de Lesseps [engenheiro francês que liderou a construção do Canal de Suez] e um dos episódios mais notáveis da perfuração do istmo. Os operários do canal tinham de trabalhar no deserto. A primeira necessidade era a água; um exército de operários não podia subsistir durante muitos anos apenas com a água trazida pelas caravanas. (…) O Sr de Lesseps resolveu ir ao Nilo, a trinta e cinco léguas [1 légua = 5 km], buscar água doce e trazê-la ao deserto por um canal que seguisse uma linha quase paralela ao canal marítimo e fosse ter a Suez. (…) O canal seria, assim, para uso dos operários, para irrigação daqueles terrenos áridos, e para a navegação de pequenos barcos.» (p. 25-26).

(…)

«Suez tem tido, até há pouco tempo, um viver incompleto pela falta de água. Em Suez, a água era conservada em caixas de ferro, trazidas do Cairo. A água da fonte de Moisés, (…) a três léguas, só a podem beber os camelos. No tempo da chuva havia, além da do Cairo, alguma água potável a seis léguas de distância. No tempo de calma [calor do Sol] a sede era uma doença: havia mercados de água onde os preços eram fabulosos, horríveis. Os ricos bebiam uma água meio salubre. Os pobres bebiam a água dos camelos, ou morriam de sede. Em Suez não havia (…) uma árvore, uma flor, uma erva. Havia gente que, tendo sempre ali vivido, não fazia ideia da vegetação. Contava-se de árabes de Suez, que, vindos do Cairo pela primeira vez, fugiam das árvores como de monstros desconhecidos. O canal de água doce mudou esta face das coisas. (…) No dia em que a água chegou a Suez foi uma vertigem. Os pobres árabes não podiam crer; mergulhavam-se nela, bebiam até lhes fazer mal, (…) davam gritos loucos. Alguns estavam aterrados e pasmavam da perda de tanta riqueza.» (p. 30-31)

Hoje, em diferentes lugares da Terra, muitos sofrem a falta terrível de água. Opostamente, muitas pessoas desconhecem o perigo do desperdício ou da destruição «de tanta riqueza».

José Batista d’Ascenção

domingo, 2 de março de 2025

Consumidores, que nós somos (II)

«Muitas pessoas que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial (…) remendavam cada meia, reparavam cada aparelho, guardavam cada pedaço de tecido e nunca desperdiçavam um grama de comida» (p. 82).

Ao invés, «desde a ascensão da era do consumo, a simplicidade tem-se mantido como uma actividade marginal» (p. 74). Curiosamente, a generalidade das pessoas acreditam que é «importante haver mais regulamentos ambientais, mas quase metade (…) não [vê] verdadeira necessidade de alterar os seus hábitos pessoais» (idem).

Já se tomam medidas governamentais, em muitas áreas, em diferentes países, mas é imprescindível «fazer alguma coisa quanto ao crescimento da própria procura por parte dos consumidores» (p. 83).

Cada um de nós bem podia esforçar-se por: «acabar com a tralha (…); fazer férias locais; comer verde; vestir retro; viajar poluindo menos (…)» (p. 87); etc.

O livro tem muito interesse e sugere que, se tivermos em conta o que, historicamente, em diferentes tempos e lugares, sociedades humanas solidárias e ecológicas fizeram, podemos encontrar viabilidade para um mundo melhor e (mais) sustentável, como agora se diz.

Vejo fundamentalmente dois problemas: por um lado, com a escola em falência, sabemos cada vez menos de História e, por outro lado, a estupidez humana e a extraordinária facilidade de comunicação tendem a empurrar-nos “democraticamente” em sentido pouco positivo…

José Batista d’Ascenção

sábado, 1 de março de 2025

Consumidores, que nós somos (I)

Em “tempos de trump”, em que os poderosos do mundo são indivíduos nada recomendáveis e muito perigosos, e em que o governo do país se degrada em irresponsabilidade impensável, a mesquinhez sócio-política faz a alguns de nós ter vontade de fugir do mundo comunicacional. O que não podemos. Mas, havendo outros motivos igualmente importantes, que exigem o nosso sentido de justiça e mínimos de lucidez, de solidariedade e de coragem, refiro alguns aspectos procedimentais e ambientais que retirei da obra intitulada «História para amanhã», de Roman Krznaric, publicada pelas «Edições 70».

«Abandonar o hábito do consumo» é o tema do capítulo 3. Aqui se refere que «a cultura do “desejo ilimitado” surgiu na Europa do século XVIII» (p. 68) e que o «crescimento económico que se enraizou nas sociedades ocidentais no início do séc. XX necessitava de um consumismo insaciável…» (p. 69). Na década de 1920, Eduard Bernay (sobrinho de Sigmund Freud), guru de relações públicas, «convenceu as mulheres a começarem a fumar cigarros, por estes serem “tochas de liberdade” e (…) inventou o bacon com ovos como (…) pequeno-almoço americano, em prol da suinicultura». (…) «Hoje em dia, somos seduzidos pelos algoritmos dos empórios das compras online…»(p. 69). (…) «Compro, logo existo.» (p. 70). Acontece que, «para lá de um certo ponto, mais coisas não nos tornam muito mais felizes» (idem). E o problema maior são os impactos planetários.

Efectivamente, os «compradores abastados do hemisfério norte são a linha da frente de uma espoliação ecológica» (idem) inimaginável nos tempos pré-industriais: «Montanhas de lixo electrónico, iphones descartados e seus metais raros, microplásticos encontrados nos estômagos de golfinhos, de tartarugas e de crianças; químicos tóxicos na água que bebemos e no ar que respiramos; florestas devastadas por ranchos de gado, para pôr carne nos nossos pratos» (…) [significam que] «andamos a gastar anualmente os recursos de dois planetas Terra». (idem).

(Continua)

José Batista d'Ascenção

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Música do Céu

Acabou de acontecer. Em Braga, no Teatro Circo. Carlos Paredes por Mário Laginha aos comandos de um quarteto jazzístico, com Julian Argüelle no saxofone, Romeu Tristão no contra-baixo e João Pereira na bateria. Música para os ouvidos e o coração de todos.

Que este tenha sido um concerto seminal. Bem podem os meus amigos acorrer à sua repetição por muitos lugares onde desejavelmente vai ocorrer. E a televisão, a televisão pública, que tantas pepineiras espalhafatosas nos impinge (não a mim, devido ao efeito de repulsão), devia gravar na íntegra e passar em horário nobre. Ganhava o público, homenageava-se condignamente a singularidade pessoal e musical de Paredes, e divulgava-se o génio criativo de Laginha e o talento dos músicos seus acompanhantes.

Não é pedir muito, juro. 

José Batista d’Ascenção